American Horror Story é…. um horror?
Ana Maria Bahiana
Como fã do gênero e apreciadora da efervescência de criatividade da TV, agora, fiquei bem animada quando soube que Ryan Murphy e Brian Falchuk, os co-criadores de Glee e Nip/Tuck, estavam desenvolvendo uma série de terror para a FX.
E animada fiquei até por pra tocar o DVD do piloto de American Horror Story – que estreia hoje, dia 5 de outubro, nos EUA.
Com uns 15 minutos de tela, minha impressão foi a de estar vendo uma espécie de X-tudo audiovisual, onde absolutamente todos os elementos do gênero tinham sido jogados sem atenção a coisa alguma – narrativa, integridade dos personagens, as regras mesmo do gênero – a não ser a vontade de assustar o espectador a cada minuto.
E aqui está o primeiro problema essencial de AHS: para que a gente se assuste é preciso um ritmo, um crescendo com momentos de pausa, de ocultamento, de sutileza. A mente humana se assusta mais com o que antecipa do que com o que vê, coisa que o mestre dos mestres, Hitchcock, sabia dominar completamente.
Em AHS você tem (e tenho certeza de que vou esquecer alguma coisa): (sim, contém SPOILERS!!!)
1. Uma casa hiper mal assombrada onde, aparentemente, aconteceram exclusivamente crimes hediondos.
2.A casa inclui: um porão repleto de: fotos fúnebres, potes de vidro com pedaços de animais e fetos, ferramentas ensanguentadas, uma banheira e um traje de fetiche sado-masô, completo;
3. paredes cobertas por pinturas monstruosas;
4. e pelo menos sete diferentes assombrações assustadoras, que não sossegam momento algum.
5. Seus vizinhos são uma estrela de cinema decadente e sua filha vidente, portadora de síndrome de Down.
6. Seus novos ocupantes são uma família em crise composta por: pai psicanalista e sonâmbulo, em crise de consciência depois de um caso com uma aluna, e que trata apenas candidatos a serial killer; mãe angustiada depois de perder um bebê; filha adolescente revoltada, que namora, escondido, um dos pacientes sociopatas de papai.
7. Por motivos não explicados (mas que qualquer fã do gênero rapidamente conclui…) a família é visitada constantemente por uma misteriosa arrumadeira/governanta (que a mãe vê como uma senhora madura e o pai,como uma jovem gostosa) e um sujeito deformado por extensas queimaduras e com um tumor incurável no cérebro.
E isso tudo só no piloto!!!
Some-se a isso uma fotografia que desconhece o que seja luz (pensem que O Iluminado, um dos filmes mais apavorantes que conheço, é banhado na mais clara luz, praticamente em todas as cenas) e uma trilha incessante, chupada na veia de Bernard Herrman, e vocês vão compreender minha decepção.
Isoladamente, há bons momentos – o affair entre a dona da casa e alguém no traje-fetiche é genuinamente arrepiante – e o elenco inclui nomes de primeira categoria: Jessica Lange como a vizinha-diva; Frances Conroy, de Six Feet Under, como a misteriosa governanta de meia idade; o sempre brilhante Denis O’Hare (True Blood, Brothers and Sisters) como o visitante deformado; Connie Britton (Friday Night Lights) como a dona da casa; Taissa Farmiga (irmã de Vera) como a adolescente revoltada.
Mas o pirão é tão grosso, tão transbordante que, muitas vezes, dá vontade de rir e não de pular – como se sabe, a fronteira entre o assustador e o cômico é muito tênue.
As coisas melhoram no segundo episódio, dirigido com competência e clareza por Alfonso Gomez-Rejon, e com um roteiro onde Murphy e Falchuk parecem ter controlado sua ânsia de um-pulo-por-minuto.
Agora é torcer para que a série encontre seu tom certo _ afinal, no gênero, Walking Dead já vem aí…
PS: Vi mais três episódios depois do malsinado piloto. A série finalmente progride, e se livrou do desespero de tudo-ao-mesmo-tempo-agora. As interpretações continuam exageradas e a música, frenética, mas agora finalmente as tramas se enraizaram na cidade (Los Angeles e seus horrores próprios) e nos personagens. Conselho: vejam o piloto com uma dose de paciência, e continuem que lá na frente melhora.