A meio caminho dos Oscars, como estamos?
Ana Maria Bahiana
Sexta feira passada, dia 14, além de dia dos namorados, foi também dia dos integrantes da Academia de Artes e Ciëncias Cinematográficas declararem seu amor pelos filmes, atrizes, atores, diretores, roteiristas e técnicos da safra 2013. Na verdade, muitos acadêmicos que optaram pela cédula de papel já vinham recebendo seus envelopes há alguns dias… Mas dia 14 foi a largada oficial e o dia em que as cédulas online ficaram disponíveis.
A esta altura as principais principais guildas e, neste domingo, a Academia britânica, BAFTA, já entregaram seus prêmios. As escolhas das guildas são os termômetros mais confiáveis da direção que Academia vai tomar, por um motivo simples – a grande maioria de seus integrantes também é membro da Academia, e basta repetir os votos para termos uma tendência importante na mesma direção.
A BAFTA tem algumas sobreposições de votantes – afinal Hollywood está cheia de britânicos em todas as esferas de produção, e a relação entre as duas indústrias é muito estreita. Mas é uma confluência menor do que a das guildas – os votos, no final, tendem maciçamente a privilegiar a produção britânica o que, este ano, apenas reforçou as tendências gerais (mais sobre isso logo abaixo…).
Com pequenas variações, as escolhas seguem a trilha anunciada pelos Globos de Ouro, lá atrás em janeiro. Ou seja:
- Os dois filmes que, como acontece praticamente todos os anos, polarizam as disputas ainda são Gravidade e 12 Anos de Escravidão. Trapaça foi um destaque dos Globos mas está perdendo o fôlego ao longo do período extra-longo (por causa das Olimpíadas de Inverno) de campanha. Mesmo assim, não deve ser descartado – muitos acadêmicos viram no filme de David O. Russell uma homenagem ao cinema dos anos 70, que é a idade de ouro de Hollywood da geração de muitos entre os votantes. (Eu, pessoalmente, ainda não entendi o que tanta gente por aqui está achando neste exercício Scorsese-diet. Ainda mais quando temos um Scorsese de verdade na disputa…) Gravidade tem a vantagem dos prêmios técnicos e o fato de ser um filme muito mais acessível do que o exigente 12 Anos, com seu ritmo deliberado e seu olhar firme sobre a naturalidade das atrocidades da era da escravidão. Ao mesmo tempo é bom lembrar que nos últimos anos e , especialmente desde o começo da gestão de Cheryl Boone Isaacs como presidente, a Academia tem feito um esforço concentrado para atualizar e diversificar seu foco. Isso pode ser um fator importante para o filme de Steve McQueen. Mas atenção: quietamente, Capitão Phillips vem ganhando terreno com os indecisos.
- Entre as atrizes, vai ser difícil tirar esse Oscar de Cate Blanchett. Nem mesmo o retorno da controvérsia em torno de Woody Allen (deflagrada por seu prêmio Cecil B. De Mille nos Globos) parece ter afetado seu posto como franca favorita – Cate venceu todos os prêmios até agora. Senão ela, quem? Judi Dench? Amy Adams? Sandra Bullock? Pouco provável.
- Matthew McConaughey também permanece firme como o franco favorito para melhor ator por seu trabalho em Clube de Compras Dallas. Seu principal rival, Chiwetel Ejiofor, ficou com o prêmio BAFTA onde sua nacionalidade com certeza ajudou (sua atuação em 12 Anos de Escravidão é absolutamente paranormal, mas, na hora de ganhar prêmios, muitos outros fatores pesam…). Curiosamente, há um movimento muito forte a favor de Leonardo DiCaprio. Uma parte é campanha mesmo – por exemplo, a quantidade de matérias que subitamente tem aparecido a respeito de seu desempenho em O Lobo de Wall Street, nas últimas semanas.. Outra parte parece ser o inconsciente (ou consciente..) coletivo dos fãs, expresso em memes (Leo numa cena de Lobo, com o Oscar na mão) ou na já famosa matéria da CNN, que mostrou a placa com seu nome como vencedor (na verdade uma das muitas placas com os nomes de todos os indicados que já ficam pré-gravadas e são afixadas depois da entrega, durante o Governor’s Ball). Há de fato um sentimento, dentro e fora da Academia, de que DiCaprio já devia ter ganho sua estatueta há mais tempo. Mas… muito possivelmente ainda não é desta vez.
- Nas demais categorias principais, Alfonso Cuarón ainda é o favorito para diretor, Lupita Nyongo’o e Jared Leto estão na ponta entre os coadjuvantes. Ela e Capitão Phillips levaram os prêmios da Writers’ Guild, mas é bom lembrar que 12 Anos de Escravidão não estava concorrendo porque seu autor, John Ridley, não pertence à Guilda. Olho nele nos Oscars, como roteiro adaptado.
A votação para os Oscars termina impreterivelmente as 17h (horário de Los Angeles) do dia 25 de fevereiro. A entrega é dia 2 de março _ Daniel Day Lewis, Anne Hathaway e Jennifer Lawrence já confirmaram presença como apresentadores.