Temporada ouro: primeiros sinais
Ana Maria Bahiana
Esta semana, por mais incrível que pareça, é quando começam a se definir as disputas da corrida dos premios. Explico: esta semana, feriadão do Dia de Ação de Graças, meus colegas da Hollywood Foreign Press Association estarão com tempo para ver as verdadeiras montanhas de DVDs que chegaram com os filmes e séries de TV elegíveis para os Globos de Ouro – mais um catálogo de 220 páginas com os dados de todos eles e as respectivas categorias em que cada um (e seu elenco e equipe) concorre.
Como sempre digo – não é que os Globos antecipem os Oscars ou outros prêmios. O pool de votantes é completamente diferente, levando a escolhas muito diferentes. O que os Globos fazem, especialmente nas indicações, é estabelecer quem está e quem não está no páreo. Olhem para os anos anteriores e vejam se não tenho razão.
Temos até dia 10 de dezembro para entregar os votos – os indicados serão anunciados dia 12 – e esta pausa vem logo a calhar. Por isso os divulgadores, estrategistas e adjacencias passam esta semana enchendo nossas caixas com emails e nossas salas com posters, cartões, caixas de bonbons e, este ano, até um poster com nossos nomes (para um filme muito ruim, infelizmente…)
A esta altura da disputa, apenas quatro filmes não foram exibidos para os votantes: Lone Survivor, Trapaça (American Hustle), O Lobo de Wall Street e O Hobbit – A Desolação de Smaug. Todos estão no nosso calendário das próximas duas semanas, com screeners vindo no rebote. É uma tática radical e um pouco suicida – os estrategistas acreditam que filme que é visto por último tem mais chances de ser lembrado e indicado.
Tem também, na verdade, mais chances de não ser visto. Espero que os estrategistas saibam disso.
Até porque tivemos um bom segundo semestre e já posso contar em ver alguns títulos entre as escolhas finais: Blue Jasmine (que entrou como drama) e Cate Blachett; Gravidade; Antes da Meia Noite; All is Lost (especialmente para Robert Redford); 12 Years a Slave (pra mim, o melhor filme do ano até agora, e o único que eu vi meus colegas verem e reverem em exibições diferentes).
Não subestimem de jeito nenhum: Saving Mr. Banks; Mandela:The Road to Freedom; O Mordomo da Casa Branca (e Oprah e Forest Whitaker); A Vida Secreta de Walter Mitty (que está entre as comédias), Philomena . São todos amplos, cheios de apelo sentimental e (o que, eu sei, é um fator decisivo para meus colegas) estrelas.
Álbum de Familia (August:Osage County) está entre as comédias e embora não tenha muitos fãs entre meus colegas, possui estrelas o bastante para ter chances (Meryl Streep, lead; todo o resto, inclusive Julia Roberts, coadjuvante). Nebraska e Inside Llewyn Davis (ambos entre as comedia), não tenho tanta certeza. Enough Said e Frances Ha, por incrível que possa parecer, tem mais chances, especialmente para James Gandolfini, Julia Louis-Dreyfuss e Greta Gerwig. Her (também entre as comédias) é, por enquanto, um grande ponto de interrogação.
Deixei o filme estrangeiro para o final. Não, nenhum filme brasileiro está concorrendo. Flores Raras, de Bruno Barreto, está concorrendo como drama na categoria principal, onde tem que brigar com esse povo todo aí em cima.
Não me perguntem porque o pessoal no Brasil não inscreve seus filmes. O resto do mundo parece estar completamente ligado – só na América Latina temos filmes do México, Peru, Argentina, Chile. Nem vou falar de Europa e Asia porque nem tem nem graça – tem até um filme da Moldavia, pais simpático que tive que procurar no mapa, e onde, segundo a brochura que veio junto com o filme, produz-se bons vinhos.
O Azul é a Cor Mais Quente, A Caça e O Passado são os favoritos, mas muita coisa ainda pode acontecer. Eu queria muito que o Brasil estivesse nessa briga. Quem sabe, ano que vem…