Nova presidente da Academia cria departamento para diretores de elenco
Ana Maria Bahiana
Essa eu gostei – a primeira iniciativa da recém-eleita presidente da Academia, Cheryl Boone Isaacs, foi criar um departamento que há muito tempo fazia falta – o de diretores de elenco.
Isaacs, executiva de marketing com longa carreira principalmente na Paramount, foi eleita por esmagadora maioria. Ela é a primeira mulher desde 1983 e a primeira afro-descendente a ocupar o posto. Sua campanha foi toda focada na ideia de diversidade, internacionalização e modernização. E logo de cara ela está pondo em prática um projeto que circula há décadas pela Academia, sem sucesso – o devido respeito aos diretores de elenco.
Recomendo, urgente, o documentário Casting By, da HBO, para que se compreenda a importância do papel desse profissional, e como sua intuição, gosto e rede de contatos foram responsáveis, entre outras coisas, pelo fenômeno James Dean, pela descoberta de Clint Eastwood e pelos novos rostos femininos e masculinos que deram a forma final à virada do cinema norte-americano nos anos 1970.
Embora todas as decisões finais sejam do diretor – e em muitos casos projetos já são desenvolvidos com determinados astros e estrelas acoplados – o diretor de elenco é quem faz a planta baixa da arquitetura humana de um filme e série de TV, sugerindo nomes e com isso, muitas vezes, alterando completamente o rumo de uma obra. Para citar dois exemplos: o modo como Dustin Hoffman tomou o lugar que tinha sido imaginado para Robert Redford em A Primeira Noite de Um Homem, ou como Sigourney Weaver, e não um ator, tornou-se Ripley em Alien: O Oitavo Passageiro.
Vocês imaginam outras pessoas nesses papéis, hoje? Então: esse é o talento de um bom diretor de elenco.
Embora os profissionais tenham sido aceitos, ao longo dos anos, pela Academia, eles ficavam como membros gerais, sem um departamento específico e sem representação na diretoria. Agora, os diretores de elenco tem as duas coisas. E, na progressão natural dos fatos, é bem possível que, em breve, tenhamos um Oscar de escolha de elenco, como o Emmy já possui.
Confesso também que estou rindo à toa com um detalhe. No documentário o diretor Taylor Hackford deita falação sobre como “nunca” a Academia vai reconhecer o trabalho de seleção de elenco como departamento, principalmente com o título de “diretores de elenco”. Hackford, que admite ser contra até o termo “diretor de fotografia”, é enfático: só o diretor dirige alguma coisa, ninguém mais pode ter esse título!
Ora pois…