Apocalipse em breve: Spielberg e Lucas prevêem o “colapso do arrasa quarteirão”
Ana Maria Bahiana
Lembram quando eu disse que tudo na industria do audio visual se resume a ciclos entre a primazia do rabo – a distribuição e o marketing – ou o cachorro– a criação?
Duas pessoas de grande peso nessa mesma indústria, personagens essenciais do ciclo dos anos 1970, concordam comigo.
Num seminário hoje, na inauguração do novo (espetacular, state-of-the art) prédio da Faculdade de Midia Interativa da University of Southern California, aqui no centro de Los Angeles, Steven Spielberg e George Lucas previram o fim do modelo do cinemão como é praticado hoje. “Os estúdios estão obcecados em gastar muito para ter um retorno enorme, e isso não vai funcionar para sempre”, Lucas disse. “Porque o resultado dessas escolhas é que eles estão diminuindo cada vez mais o foco. As pessoas vão acabar cansadas do que eles oferecem. E aí eles não vão mais saber fazer outra coisa.”
“A coisa toda vai desabar”, Spielberg completou. “É inevitável. Três, quatro, talvez meia dúzia desses filmes de mega-orçamento vão despencar no chão e todo o paradigma vai mudar.”
Spielberg e Lucas chamaram atenção para o atual modelo, no qual “250 milhões de dólares são gastos em um filme super-inchado, em vez de vários menores e mais variados”, disse Spielberg. Lucas completou: “Notem que nós dois tivemos filmes menores, dentro dessa escala, que mal ficaram nas telas: Lincoln e Red Tails. Quando Spielberg e Lucas reclamam de que seus filmes não foram lançados direito… tem alguma coisa errada…”
O interessante é que, no final dos anos 1970, Spielberg e Lucas foram os principais responsáveis pela mudança de paradigma que encerrou a era dos pequenos filmes pessoais e, com Tubarão e Star Wars, inaugurou o conceito do arrasa-quarteirão. Tudo é cíclico…
Spielberg e Lucas enumeraram os Davis que vão derrubar o Golias do cinemão arrasa quarteirão:
- TV e tudo o que está na tela pequena, “que está assumindo a produção independente e autoral”, segundo Spielberg
- conteúdo on demand, streaming diretamente nas telas de cada espectador
- games
- e “um tipo de narrativa interativa que estamos apenas vislumbrando, agora”, disse Lucas. (Spielberg, aliás, está produzindo, com o 343 Studios, uma série de ficção baseada em Halo, exclusiva para o Xbox Live).
A dupla dinâmica previu também que, depois da implosão do mega-blockbuster, os cinemas vão ficar ainda mais luxuosos, cobrando ingressos mais caros e mantendo os filmes em cartaz por meses “como um teatro da Broadway”.
Depois de alguns fins de semana com filminhos dando surra em filmões… quando será o apocalipse?