Game of Thrones, terceira temporada: hora da virada
Ana Maria Bahiana
Minha maior admiração por Game of Thrones, além da pura ambição de produzir um projeto desta escala, é a exatidão como David Benioff e Daniel Weiss abraçam a vasta paisagem humana, política e social do universo criado por George R. R. Martin. Exatidão, neste caso, não quer dizer que cada um dos muitíssimos fios narrativos da saga As Crônicas de Gelo e Fogo estão presentes na série -isso seria impossível – mas que todas as ideias fundamentais contidas na obra estão articuladas e expressas com todo o vigor que a imagem em movimento pode dar.
É a hora de repetir o mantra comigo: livro é livro, filme é filme. Ou, neste caso, TV – embora, sinceramente, Game of Thrones tenha todo o fôlego e amplidão de um filme épico, daqueles que nos velhos tempos seriam em Cinemascope 70 milímetros. Toda vez que as perucas da Daenerys ou a dicção exageradamente teatral de, digamos, Iain Glen como Jorah Mormont ou Aidan Glenn como Littlefinger me incomodam, eu me lembro da incrível complexidade do texto original e volto a me deixar levar pela série.
A terceira temporada de Game of Thrones ocupa-se de A Tormenta de Espadas, o mais longo e mais sangrento dos volumes já publicados das Crônicas. Se me lembro bem (estou relendo o livro agora), há pelo menos cinco momentos marcantes em Tormenta, grandes viradas na narrativa que envolvem sangue, fogo e, para quem não leu, surpresas daquelas que fazem a gente pular do sofá e gritar “nãããoooo”. Na verdade, David Benioff me confessou que durante as filmagens de um desses cinco momentos, atores, equipe e extras desataram a chorar. “E essas são pessoas que não choram muito, porque conhecem todos os truques e, sinceramente, tem mais o que fazer”, ele disse. “Mas foi um momento incrivelmente emocionante.”
Nem todo o livro estará lá – como GRRM disse (e Benioff confirmou), um terço de Tormenta ficou para quarta temporada, incrementado com elementos do livro seguinte, O Festim dos Corvos.
Ao ver os primeiros quatro episódios desta temporada, fiquei mais uma vez feliz com a precisão da narrativa, o modo como as “nove tramas em nove lugares” (palavras de Benioff) seguem firmes e claras, expondo as marés dos jogos políticos, dando tempo para as definições emocionais dos personagens. Logo no primeiro episódio há um sensacional encontro entre Tywin Lannister (Charles Dance) e Tyrion (Peter Dinklage, cada vez melhor, se isso é possível) que, imediatamente, estabelece a base sobre a qual todo o restante da temporada em King’s Landing vai se desenvolver. E a complicada relação entre Jaime Lannister (Nikolaj Coster-Waldau) e Brienne of Tarth (Gwendoline Christie), uma das mais fascinantes da história, para mim, tem o exato tempo de se firmar e transformar.
Uma das perguntas que eu me fazia era como a série ia utilizar esses cinco momentos – todos grandes rupturas da trama, absolutamente definidores de seus personagens – para balizar o ritmo da temporada. Ao ver o primeiro deles (um dos meus favoritos de todos os livros) encerrando o quarto episódio, posso ter certeza de que há uma bela e sólida estrutura ancorando o que pode ser a temporada mais complexa e, possivelmente, perturbadora da série.
A terceira temporada de Game of Thrones estreia hoje nos EUA e no Brasil.