De volta a Oz: a Disney retoma a longa estrada dourada
Ana Maria Bahiana
Primeiro, vamos colocar a história em perspectiva. O foco, o modelo, a meta da Disney é identificar propriedades intelectuais que possam ser desenvolvidas em várias plataformas simultâneas. `As vezes eles quebram a cara: John Carter, por exemplo, que não foi adiante nem na primeira linha do ataque – os cinemas.
Mas frequentemente acertam em cheio: a compra da Pixar, da Marvel e da LucasFilm, a determinada, concentrada estratégia de atualizar e re-empacotar seus personagens clássicos e propriedades dos parques temáticos (Encantada, a franquia Piratas do Caribe, a série Once Upon a Time), tudo isso aponta para o objetivo de manter personagens e narrativas controladas pela Disney bem presentes no cotidiano de geração após geração, gerando mitologias pessoais que rapidamente se tornam familiares, e convidam ao uso de todos os elementos do “mundo Disney”.
Isso, é claro, não vem de hoje. Em 1937, empolgado com o sucesso de Branca de Neve , Walt Disney rapidamente identificou uma outra propriedade intelectual com grande potencial: O Mágico de Oz, o “conto de fadas norte americano, na tradição de Grimm e Andersen, mas sem a escuridão” (definição do autor) de L. Frank Baum. Publicado inicialmente em 1900, adaptado para o teatro em 1902, Oz, em 1937, tinha os direitos controlados pelos herdeiros de Baum, falecido em 1919. E os herdeiros já tinham vendido os direitos para o cinema para a MGM…
Walt e o estúdio que ele criou nunca se conformaram com a perda de O Mágico de Oz. Em 1954, o estúdio comprou os direitos dos outros 13 livros que Baum escrevera expandindo as aventuras dos personagens do Mágico de Oz. As primeiras tentativas de adaptar a franquia (porque era isso, exatamente, o que Baum tinha criado, um século antes do conceito ter nome…) para o “universo Disney” fracassaram completamente. O primeiro projeto, Rainbow Road to Oz, jamais saiu do papel. O segundo, O Fantástico Mundo de Oz, lançado em 1985 como uma “continuação não oficial” do Mágico de Oz, foi um fracasso em todas as frentes.
Agora, 28 anos depois, a Disney faz mais uma tentativa com Oz, Mágico e Poderoso, uma história de origem, igualmente não oficial, do Mágico de Oz. A seu favor o estúdio tem um orçamento generosíssimo , 200 milhões de dólares, a maior parte dos quais empregada em efeitos visuais espetaculares; e a mão competente do diretor Sam Raimi que, como tantos outros, teve que “fazer teste” para se candidatar ao posto. Tem também um elenco de nomes conhecidos – James Franco, Rachel Weisz, Michelle Williams, Mila Kunis – uma campanha de promoção agressiva , aqui nos EUA e no mundo, e várias gerações que cresceram encantadas pela história original e que, pelos cálculos do estúdio, devem trazer uns 80 milhões de dólares de bilheteria só nesta estreia.
O que Oz, Mágico e Poderoso não tem, infelizmente, é alma. Visualmente lindo , com todas as devidas referências ao mito original – balão, bruxas, estrada dourada, macacos voadores, papoulas assassinas – falta a este novo Oz o genuíno encantamento de uma história contada pelo prazer de contar a história. A engenharia da manipulação é tão visível na tela quanto um efeito especial mal acabado: aqui está a próxima atração dos parques, ali a próxima linha de roupas para meninas, acolá o videogame. Mesmo quando a narrativa flui – e tem horas, como no longo e interminável segundo ato , em que ela empaca seriamente– é como se alguém tivesse dado um soco no plexo da história, roubando todo o fôlego, todo o prazer, toda a alegria.
A espoleta da trama – como Oscar, um mágico furreca de circo com problemas de caráter e auto estima, vai parar na terra encantada da Cidade Esmeralda – é boa, e Sam Raimi, que já tem uma queda para histórias de encantamento e mistério, faz o que pode dentro do que, claramente, são as amarras dos desígnios da Disney. Mas… ainda vale voltar a Oz via o filme original , aquele de 1939…
Oz, Mágico e Poderoso, estreia hoje, simultaneamente, nos EUA e no Brasil.