Blog da Ana Maria Bahiana

Sparkle, o filme que Whitney Houston não chegou a lançar: “teria sido um grande triunfo”

Ana Maria Bahiana

 

Jordin Sparks e Whitney Houston numa cena de Sparkle_ "Ela sempre se viu como coadjuvante"

 

Uma das muitas ironias trágicas da morte de Whitney Houston, sábado à tarde aqui em Los Angeles, é que (como Michael Jackson, uma comparação que tenho ouvido sem parar nos últimos dia) é que 2012 deveria ter sido o ano de uma grande volta por cima. Novamente como MJ, Houston vinha planejando um reposicionamento geral de sua complicada carreira.

Mas, ao contrário de Michael Jackson, Houston estava mais em controle de sua estratégia _ pelo menos nos momentos de lucidez, sem a turbulência da bebida e dos ansiolíticos. Na música, ela voltara a trabalhar com seu mentor e descobridor Clive Davis . Davis planejava começar a campanha da volta de Whitney exatamente na festa pré-Grammys da noite de sábado, para a qual ela se preparava quando morreu.

Mas Houston sabia muito bem que  o cinema era um elemento essencial para a re-energização de sua carreira . Em 1992 sua estréia na tela em O Guarda Costas foi um dos maiores sucessos do ano, com mais de 410 milhões de dólares apurados em todo o mundo, e uma trilha que, impulsionada por hits como “I Will Always Love You” e “I’m Every Woman”, vendeu 45 milhões de cópias e emplacou duas canções indicadas ao Oscar, “I Have Nothing” e “Run to You”. (Num detalhe curioso, o roteiro original de Lawrence Kasdan, tinha sido escrito em 1976 sob encomenda para Diana Ross e Seve McQueen, mas foi parar na gaveta por ser “muito controvertido” para a época).

Três anos depois, Falando de Amor foi um sucesso um pouco menor mas mais do que respeitável, com 81 milhões de dólares de bilheteria mundial, a maior parte no mercado norte-americano.  Mas é a partir daí que a vida pessoal de Whitney se complica, com o casamento com Bobby Brown e a pressão da fama trazendo a reboque a bebida e as drogas.

Mas há quatro anos Whitney e a produtora Debra Chase Martin trabalhavam no desenvolvimento de seu retorno também à tela. A oportunidade surgiu em 2001, quando a Warner, que há tempos vinha desenvolvendo o projeto da refeitura de Sparkle, um drama musical de 1976 estrelado originalmente por Irene Cara (que mais tarde estouraria com Fama), desistiu de ir adiante. O motivo era trágico: Aaliyah, que deveria encarnar o papel título criado por Cara, morrera num desastre de avião.

Houston e Martin rapidamente negociaram os direitos do filme e da trilha, chamaram o casal  de realizadores Salim e Mara Akil – respectivamente diretor e roteirista -para dar novo ânimo ao projeto e começaram a escalar o elenco.  Whitney sempre se viu como coadjuvante, diz Martin. A história, afinal, é sobre três jovens irmãs, lideradas pela Sparkle do título, que formam um grupo vocal na linha das Supremes, cuja carreira é destruída pelas drogas. Whitney escolheu para si o papel da mãe das cantoras, uma mulher complicada e nada simpática. Sparkle ficou com Jordin Sparks, a jovem estrela surgida do programa American Idol.

Martin acredita que teria sido a virada de Whitney: “Ela estava sensacional”. Na véspera de sua morte Whitney e Debra viram uma cópia de trabalho de Sparkle e aprovaram o trabalho de Salim Akil e a data escolhida pela Sony para o lançamento, 12 de agosto.

A súbita morte de Houston não deve mudar os planos _ a data de lançamento permanece, assim como a do lançamento da trilha, na qual Houston canta o gospel “Eyes on the Sparrow” e faz duetos com Jordin Sparks em duas canções.

“Teria sido um grande triunfo para Whitney”, diz Martin. “Mas lançar o filme é o mínimo que podemos fazer por sua memória.”