Indicações aos Globos de Ouro 2012: o ano da volta ao essencial do cinema
Ana Maria Bahiana
Com um grupo tão pequeno e tão diverso quanto nós, os correspondentes estrangeiros em Hollywood, todo ano eu prendo um pouco a respiração na hora do anúncio das indicações ao Globo de Ouro? Que coisa esquisita, bizarra e fora de qualquer compasso meus colegas vão aprontar ?
Este ano, pude respirar mais cedo. Bizarrice mesmo não houve, embora eu ainda não tenha entendido o que o pedestre My Week With Marilyn estava fazendo entre os melhores filmes, comédia/musical, Puss in Boots e Cars 2 entre os longas de animação (em vez de Rio, por exemplo), Callie Thorne entre as atrizes/TV/Drama e, principalmente, a indescritivelmente ruim American Horror Story entre as melhores séries de TV/drama.
Algumas indicações podiam ser melhores – duas para o W. E. da Madonna? Mesmo? Pelo menos foi na música que, de fato, se salva. Imagino que os votantes talvez estivessem querendo garantir a presença da Divina Miss M. na festa do dia 15 de janeiro, o que não é má ideia.
Outras indicações me pareciam ter sido feitas no piloto automático: Glee já passou do prazo de validade; Modern Family poderia ter dado sua vaga perpétua para outra série (Community?); e… The Good Wife? De novo? Nada de novo no front? (Me lembrou a indicação perpétua para House que assombrou o prêmio nos últimos anos…)
Há ausências notáveis, para mim: O Espião Que Sabia Demais, Árvore da Vida entre os filmes/drama; Win Win e Beginners entre os filmes/comédia; Carey Mulligan, tanto por Drive quanto por Shame; Jessica Chastain como qualquer coisa – ela deveria ter sido indicada por conjunto de obra, este ano! ; Ewan McGregor, que também merecia estar lembrado por Beginners, além do seu genial coadjuvante Christopher Plummer; senti falta também das canções de Muppets e das maravilhosas trilha de Hannah e Drive. E, é claro, estava torcendo deseperadoramente por Drive (que afinal emplacou Albert Books entre os coadjuvantes). Mas esse era um sonho impossível. (E se meus colegas quisessem realmente colocar a corrida do ouro num outro nível, teriam indicado Andy Serkis por qualquer uma de suas atuacões mocap…)
Por outro lado, meus colegas me deixaram orgulhosa, também. Quase uma década atrás os Globos destacaram uma série estreante que quase ninguem tinha visto: Mad Men. Este ano, indicaram duas vezes – série/comédia e atriz, para Laura Dern – Enlightened, sensacional reflexão sobre a natureza humana em tempos de crise, criada e executada por um talentoso grupo de criadores vindos do cinema independente, e, neste momento, ameçada de ser cancelada. As indicações para Michael Fassbender (pelo difícil mas belo Shame), Tilda Swinton (pelo provocador Precisamos Falar Sobre Kevin) e Joseph Gordon-Leavitt (pelo pequeno 50/50) mostraram que meus colegas estão atentos.
Liderando com cinco indicações num ano extremamente dividido, O Artista tem uma vantagem interessantíssima _ numa época de apogeu tecnológico, ele aponta para o essencial do cinema, sua capacidade mais profunda e simples de contar histórias visualmente. É um estranho no ninho do espetáculo, e sua trajetória, nesta temporada de prêmios, pode ficar na história.
Os Globos de Ouro serão entregues dia 15 de janeiro em Los Angeles.