Blog da Ana Maria Bahiana

Na segunda temporada de Walking Dead, o equilíbrio entre horror e solidariedade

Ana Maria Bahiana

Como se continua uma série de enorme e inesperado sucesso, sem um dos seus idealizadores e com milhões de fãs de olhos bem abertos e grudados na telinha?

Com muito cuidado.

Segundas temporadas são arriscadas por natureza. O impacto da novidade já se desfez, os fãs exigentes já estão criados, as expectativas são altas. O público espera ter, ao mesmo tempo, mais do mesmo que o atraiu em primeiro lugar e alguma coisa nova que possa empolgá-lo.

Julgando pelo primeiro episódio da segunda temporada de The Walking Dead (AMC, estréia domingo passado, dia 16, nos EUA), a série conseguiu este delicado equilíbrio, mesmo sem a presença de uma de suas principais mentes criativas, Frank Darabont.

Reunindo numa estréia de 90 minutos o material do que deveriam ser os dois primeiros episódios da nova temporada, What Lies Ahead (o episódio número um)  coloca o grupo de sobreviventes liderados pelo xerife Rick Grimes (Andrew Lincoln) fora de Atlanta, numa caravana destinada à base militar de Fort Benning, centenas de milhas ao norte. Grimes carrega consigo a informação sussurrada pelo solitário médico do Centers for Disease Control no episódio final da primeira temporada – um elemento importante para a mitologia da série, e que o criador Robert Kirkman garante que vai ser resolvido “no tempo certo, de modo satisfatório” .

O equilibrio entre o horror inspirado pelos zumbis e a solidariedade e empatia provocados pela luta do grupo de sobreviventes é o elemento que mantém WD num nível acima da mera reciclagem do gênero, e a principal via  de comunicação da série com seu público. No episódio de estréia, uma longa e sensacional sequência  numa estrada repleta de carros abandonados estabelece, logo de cara, o nível de suspense que podemos esperar desta segunda temporada.  A complicação dos relacionamentos entre os sobreviventes, com revelações graduais de suas vidas pré-apocalipse e, neste episódio,  situações dramáticas envolvendo duas crianças, é o cimento que vai nos manter grudados na tela, vendo em cada um deles um pouco de nós, diante de momentos, literalmente, de vida e morte.

A qualidade da produção continua impecável – mesmo com a redução dos orçamentos que tanto irritou Darabont – e os zumbis mantém  a mesma perturbadora mistura de humanidade e horror que nos fascinou ano passado. Outras séries querendo competir no segmento terror – e penso aqui, é claro, na muito badalada American Horror Story – deviam aprender com WD como se faz a dosagem de elementos narrativos, ritmo de cena e som para realmente criar um universo onde o medo é catártico e, portanto, liberador.

Espero muito desta segunda temporada.