Uma conversa com Andy Serkis: “Nunca me importei com minha cara, quero me perder nos personagens”
Ana Maria Bahiana
Quando, nos idos de 1998, os avanços da tecnologia digital de imagem se encaminhavam para o inevitável – a manipulação do desempenho dos atores a serviço da criação de personagens virtuais – a maioria da classe ficou entre o pânico e a fúria. Na contramão da revolta, Andy Serkis, inglês de origem armênia com uma longa carreira no cinema e TV britânicos (inclusive no ótimo Topsy Turvy-O Espetáculo, de Mike Leigh), resolveu investigar o suposto monstro.
“Eu compreendo que muitos atores não tenham gostado e ainda não gostem dessa opção”, Serkis diz numa manhã de verão em Los Angeles, claramente cansado de tanto promover Planeta dos Macacos-A Origem, mas igualmente animado ao discutir seu trabalho nele. “Para eles, ter seu rosto na tela é essencial para o trabalho que fazem, é como eles se expressam. Mas eu nunca me importei com minha cara, e sim com os personagens que interpreto. Ter mais uma ferramenta para me perder nos personagens me pareceu irresistível.”
Três anos depois Serkis estava na tela, irreconhecível, como Smeagol/Gollum no primeiro filme da trilogia O Senhor dos Anéis, de Peter Jackson. Foi o início de uma colaboração tão produtiva que Serkis mudou-se parcialmente para a Nova Zelândia, mantendo uma casa em Wellington só para ficar próximo do quartel general da WETA Digital _ para quem continuaria sendo Gollum e, em 2005, o Kong do King Kong de Jackson. A mais nova colaboração de Serkis com a WETA, o Capitão Haddock de Tintin e o Segredo do Licorne, estreia mundialmente em dezembro.
Com Planeta dos Macacos- A Origem nas telas brasileiras é mais fácil conferir o enorme de talento de Serkis como Caesar, o chimpanzé que, aos poucos, adquire inteligência e sensibilidade humanas (ou ,seria melhor dizer, uma alma?). Aqui, o ele tem a dizer sobre a experiência, os macacos e viver plenamente um outro ser.
Você teve uma inspiração individual para Caesar?
_ Tive. Além de toda a pesquisa que venho fazendo com primatas desde King Kong eu me inspirei diretamente em Oliver, um chimpanzé que foi muito popular nos anos 1970 porque andava sempre em duas patas e exibia uma série de comportamentos que podíamos chamar de humanos. Na época ele foi promovido como “o elo perdido” e a própria comunidade científica acreditou nessa possibilidade e submeteu Oliver a várias experiências. Quando se comprovou que ele era apenas um primata inteligente e, possivelmente, treinado, ele foi abandonado e posto numa jaula. Para mim ele é o centro do personagem Caesar: um inocente que, gradualmente, toma consciência do mundo à sua volta.
Existe alguma técnica específica para o trabalho com captura de desempenho (mocap)?
_Muitos atores ainda acham que é preciso ser exagerado, fazer uma performance carregada, uma pantomina, para render bem em mocap. Minha experiência me diz o contrário: a tecnologia é perfeitamente capaz de captar os movimentos mais sutis dos músculos, dos nervos. O desempenho precisa ser o que todo desempenho deve ser: sentido de dentro para fora, com integridade absoluta, fiel à verdade do personagem. Com mocap não dá para fingir. Se existe uma técnica específica para o desempenho em mocap é ser preciso. A precisão rende os melhores resultados.
Como a técnica em si evoluiu nessa década em que você trabalhou em mocap?
_ Eu me lembro que no Senhor dos Anéis o trabalho teve que ser em duas etapas: uma primeira em que trabalhei contracenando com outros atores num set normal, e depois a parte da captura, que foi separada, num estúdio menor. E no fim tivemos que refazer várias tomadas onde havia closes de Gollum, para que a sincronicidade fosse perfeita. Era mais um trabalho de animação, e os animadores tinham que criar expressões faciais para o Gollum a partir do que havíamos filmado. Em King Kong já tínhamos marcadores faciais, e eram eles que guiavam a “marionete digital” _ todas as expressões faciais de Kong eram, literalmente, as minhas expressões, direto do meu rosto.
No Planeta do Macacos todos os equipamentos estavam mais leves e portáteis e a tecnologia muito mais ágil. Podíamos trabalhar como um grupo de atores, contracenando, inspirando-nos pelas atuações dos outros, respondendo aos movimentos, interagindo, e tudo era captado. Mais que isso: podíamos usar o mesmo processo em sets vivos, em locações, dando muito mais campo para trabalharmos com objetos, com reações diretas ao ambiente.
Seu trabalho como ator muda de um filme “normal” para um filme mocap?
_Não… ser ator é ser ator. Não tem diferença para mim. Ser ator é conscientemente se perder em outra pessoa, outro ser. Não faz diferença se esse outro ser é (o punk rocker) Ian Dury (que Serkis interpretou em Sex and Drugs and Rock n Roll, de 2010) ou Caesar em Planeta dos Macacos-A Origem. O trabalho é sempre achar a verdade do personagem, entrar em sua mente, procurar sua fisicalidade e construir emocionalmente o personagem, de dentro para fora. Nunca faço distinção entre um trabalho ao vivo e um trabalho mocap.
Deveria haver uma categoria nos prêmios para atuações mocap?
_Não sei. No fim das contas, todas as interpretações são interpretações humanas, conduzidas pelo ator. Se a interpretação é mostrada, em última forma, realistica ou estilizadamente, isso não altera o essencial, que é o trabalho do ator. Animação, mocap são apenas ferramentas. O que as anima é o espírito do ator.
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Daniel
02/09/2011 08:14:38
Acho incrível a capacidade que Andy Serkis tem, o domínio das mais variadas expressões, formas de locomoção, ele explora seu corpo como ninguém. Muita inteligência corporal-cinestésica.
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Vagner
01/09/2011 18:27:32
Muito legal a entrevista. O Andy é sim um grande ator, sim. E dessa vez ele arrebenta como macaco. Já o fizera antes com "King Kong" é verdade. No entanto nesse novo "Planeta dos Macacos" ele surpreende. Muito bom. Só uma questão por andava o John Lithgow? Para mim um grande ator nunca reconhecido á altura.
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RENATO O LOUCO parte 2
01/09/2011 16:33:39
E AI ANA !!! quanto é que tu vai falar dos filmes CONTAGION e DREAM HOUSE?faz um REVIEW AI anaaaaaaaaaaaaaaaaaaatake care
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RENATO O LOUCO
01/09/2011 16:11:06
Os dois mais injusticados do OSCAR SIGOURNEY WEAVER and SERKIS!!!
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brendam
31/08/2011 12:25:06
Teremos 'Lion King 3D' no blog? *o*
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anabella
31/08/2011 05:51:42
Acho difícil, pelo menos num futuro próximo, que atores atuando em animação sejam devidamente reconhecidos, como merecem, pelo simples motivo de que só a Weta faz esse trabalho com extrema eficiência hoje. Adooooroo o "Preciousssss" !Uma pena não ter AINDA novidades de O Hobbit, por enquanto, ficamos com os ótimos videoblogs do Peter Jackson. Uma das melhores imagens: http://www4.images.coolspotters.com/photos/711317/galadriel-and-the-hobbit-gallery.jpg
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Gabriela
31/08/2011 00:55:12
Eu fiquei muito encantada com a atuação de Andy, afinal ele atuou ..pois suas expressões eram usadas. Desde o Gollum eu acho que ele merecia sim alguma prêmio. Ele é fantástico :)
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Ana Maria Bahiana
30/08/2011 23:57:51
Sinceramente, estou acompanhando só Breaking Bad, que está maravilhosa.
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Túlio
30/08/2011 23:16:00
Ana, mudando de assunto, vc esta acompanhando a midseason da TV? Breaking Bad, Damages, The Big C e True Blood estao sensacionais (nessa ordem, hehehe)... Pena que por causa disso nao entraram no Emmy desse ano... Mas pra mim, Laura Linney eh a mais nova unanimidade da televisao... Atriz genial!!!
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brendam
30/08/2011 22:15:45
'Vejo os olhos de Gollum, vejo os olhos de Serkis.' EXATAMENTE!Ana, você sabe dizer, intuir, se essa teima/birra contra a perfomance em motion-capture tem 'mais força' entre os atores estadunidenses do que os britânicos, por exemplo, ou a pirraça é geral?Falo isto, porque numa round-table com os atores indicados ao Oscar em 2009, perguntaram o que eles achavam da motion-capture. Carey Mulligan falou maravilhas. Morgan Freeman desdenhou.Não é só por isto. Na terra da rainha é sabido que a preocupação de quase todos os atores é ter uma carreira. Já nos EUA, o que geralmente importa é o $, o Oscar e o Closeup no momento certo.
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Ana Maria Bahiana
30/08/2011 20:52:55
Ele não falou nada a respeito... mas calma, teremos muitas oportunidades pela frente...
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Luciana
30/08/2011 20:49:49
Vejo os olhos de Gollum, vejo os olhos de Serkis. Creio que o trabalho dele em SDA ainda é o melhor de todos, assim como adoro o seu Kong. Acho sim que poderia haver uma categoria para premiar esse tipo de trabalho. A entrevista não pôde abordar nada sobre O Hobbit ?Vi fotos lindas do elenco novo e do elenco antológico que está de volta, Gandalf, Galadriel, Elrond, e o próprio Gollum.
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Camilo Pensa
30/08/2011 20:04:23
Parabéns Ana por mais uma entrevista muito boa e no momento perfeito. Eu achei a capturação de movimentos do Caesar perfeita demais, não conseguia pensar em outra coisa o filme inteiro. Eu lembro da polêmica durante o Senhor dos Anéis sobre a injustiça de Andy Serkis não ser indicado na categoria de ator coadjuvante... Sinceramente eu acho que esse ano ele vai ser indicado em alguma, as expressões dele são impecáveis no filme!
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