Era uma vez na América: em Boardwalk Empire, o crime compensa
Ana Maria Bahiana
Estréia daqui a pouco na HBO neste domingo, aqui nos EUA, Boardwalk Empire, a nova série criada por Terence Winter (o homem que nos deu Família Soprano), produzida por Martin Scorsese, Mark Wahlberg e Stephen Levinson (Entourage, In Treatment). É o marco zero da temporada de outono na TV norte americana que, pelo que já pude ver, tem petiscos de alto nível: The Walking Dead, de Frank Darabont, Lone Star, The Event, a nova temporada de Fringe, o Hawaii 5-0 reinventado e divertido. (E ano que vem ainda teremos a minissérie Mildred Pierce, com Kate Winslet, Todd Haynes na direção; e Camelot, a saga arturiana por Ridley Scott.)
Boardwalk Empire está num outro plano. Vi seis dos 13 episódios da série e posso dizer, com segurança, que é, como Sopranos, um trabalho que vai estabelecer um novo padrão para a produção em TV. Ouso dizer que vai perturbar quem, na indústria da tela grande, ainda pensa em cinema também como projeto artístico – é mais uma cutucada que a liberdade criativa da TV, ancorada na certeza da distribuição e da presença do público, aplica no cinemão tão ansioso com a crise.
Para mim, três coisas imediatamente chamaram a atenção: a maturidade da linguagem narrativa, muito mais próxima do bom cinema do que da TV; os valores de produção, que também são de filme de grande porte; e a uniforme e alta qualidade do desempenho de todo o elenco, com destaque para Steve Buscemi, que carrega toda a série num tipo de papel que ainda não o vimos fazer.
Teve gente na crítica norte-americana que cismou com Buscemi, achou-o deslocado no papel, reclamaram de sua “voz metálica”. Discordo completamente: Buscemi constrói seu Nucky Thompson, o imperador de Atlantic City, com todas as nuances de alguém capaz de ternura e corrupção ao mesmo tempo, violento com toda a frieza e a calma dos verdadeiros gângsters, charmoso como todo bom político, irônico, tristíssimo, complicado. Sem ele, Boardwalk Empire não seria talvez tão hipnótico, tão irresistível de ver.
Nucky, escrito magistralmente por Winter e sua equipe, é cem por cento imprevisível, e seu universo inclui um andar inteiro do hotel Ritz Carlton (com um mordomo alemão), várias amantes, amigos em quase todas as máfias, inclusive o senado, e uma devoção por ternos italianos e bebês prematuros.
Boardwalk Empire nasceu do livro ''Boardwalk Empire: The Birth, High Times, and Corruption of Atlantic City'' de Nelson Johnson, um ex-funcionário da secretaria de planejamento da cidade que, de tanto cavucar os detalhes do passado da “Las Vegas do Atlântico” tornou-se um de seus maiores historiadores. Johnson estava particularmente interessado na figura de Enoch “Nucky” Johnson (nenhum parentesco), tesoureiro da cidade na década de 1920, responsável tanto pelo boom de turismo que enriqueceu Atlantic City quanto pela criação de uma rede de corrupção e crime de dar inveja a Chicago.
Transformado no Nucky Thompson de Steve Buscemi, ele é o centro da série da HBO, um rei-sol do período da lei seca nos EUA, mantendo em sua órbita gângsters como Lucky Luciano (Vincet Piazza), Armold Rothstein (Michael Stuhlbarg, sensacional) e um jovem Al Capone (Stephen Graham, espetacular) ao mesmo tempo em que seduz as senhoras da Liga Contra o Álcool com passionais discursos, cem por cento mentirosos (a ótima Kelly McDonald, de Onde os Fracos Não Tem Vez, é uma delas) e educa um jovem veterano da Primeira Guerra, Jimmy (Michael Pitt, excelente) nos caminhos do sucesso a qualquer preço.
“Eu não podia resistir a uma série sobre as origens do crime organizado nos Estados Unidos”, disse Martin Scorsese para explicar seu papel como produtor da série e diretor do primeiro episódio de Boardwalk Empire. E o que torna ainda mais interessante essa documentação de um outro tempo, quase 100 anos atrás, é o paralelo com uma outra América em apuros, fracionada por outros tipos de quadrilhas, outros tipos de corrupção, outros fanáticos conservadores – a América de hoje, na ressaca dos tempos em que a ganância era uma virtude.
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Ana Maria Bahiana
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diego lindelendil
16/10/2010 15:04:25
eu achei um pouco confusa... Claro q vou me adentrar mais nelaCom imagens de alto nível mesmo, segredos exclusos q parece mesmo daquelas épocas remotas. Adorei por isso.
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Matheus
27/09/2010 13:39:02
Sensacional, claro que fiquei triste depois que passou o chiado da HBO e não começou a Wake up this morning do Soprano...mais ok, a série ta prometendo bastante!Dahora o Al Capone já ir para o lado que ele vai virar O CARAabraços!
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GUILHERME BAGLIOLI
24/09/2010 00:03:45
BAH, TAMBEM ACABEI DE ASSISTIR, SOU VICIADO EM SERIES MAIS A FOTOGRAFIA, MUISICA E A APRESENTAÇÃO DA SERIE E D+.. AS SERIES DA HBO SÃO AS MELHORES DESDE A FAMILIA SOPRANO A BRAND OF BROTHERS. MUITO BOM..
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Gustavo Zago
22/09/2010 19:45:19
Acabei de assistir e é SENSACIONAL!É cinema na TV!Realmente sera um marco!!! Steve Buscemi excelente....
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Newman
21/09/2010 14:16:10
Já! E quando eu os comparo com Taxi Driver, os Bons Companheiros e Depois de Horas tenho mais certeza que são pastiches. Bons filmes, mas muito aquém dos seus velhos clássicos.
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Newman
21/09/2010 14:13:23
Geraldo, para quem já fez Taxi Driver, Depois de Horas, Touro Indomável e Os Bons Companheiros, esses aí que vc citou são pastiches sim. São bons filmes, até acima da média do que estamos habituados a ver por aí, mas são filmes menores quando comparados a genialidade de outras obras dele. O último filme com aquele genial espírito endiabrado dele para mim foi o Vivendo no Limite (Bringing Out the Dead). De Gangs de New York para cá os filmes dele ficaram com cara de pastiche. Ilha do Medo foi o que eu achei mais interessante mas ainda assim longe do que eu gostaria que fosse.
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Rafael Porto
21/09/2010 11:23:00
O novo blog ficou muito bom. Melhorou o layout e agora, pelo feed, posso ler as notícias completas. Muito bacana. Parabéns.
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Fabinho Flapp
21/09/2010 01:34:44
Sister, é você?
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Fabinho Flapp
21/09/2010 01:34:01
Nem gostei muito dele em "Revolutionary Road". Sou muito mais o Michael Stuhlbarg e a Kelly MacDonald.
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Fabinho Flapp
21/09/2010 01:32:20
Pastiche?Você viu "The Departed", Shutter Island" e, acima de tudo, "The Aviator"?
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Fabinho Flapp
21/09/2010 01:29:14
Que texto espetacular!Queria poder ver essa série hoje!Mestra, é por isso que tenho tanto orgulho do teu trabalho e de sua genialidade.Isso é saber escrever, conseguir despertar tanto, tamanha empolgação em alguém em plena madrugada.
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Thiago Lucas
20/09/2010 21:42:50
Oi Ana. Parabéns pelo novo formato. Parece que o pessoal gostou mais. Mas eu confesso que achava que o antigo modo de se comentar era mais pratico pois nao saia da tela e ia pra outra. Mas nada como um dia apos o outro. A gente se acostuma. So nao da pra ficar sem ler...rsAh, de fato parece que esse Boardwalk Empire veio pra selar de fato a nova fase da TV como forma de se produzir o que nao se consegue fazer em tela grande. Muito bom. Bj gdeT
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Geraldo
20/09/2010 21:13:33
Newman, Scorcese pastiche de si mesmo nos últimos doze anos??desprezar Ilha do medo, os infiltrados e o aviador??? excelentes filmes!!! que ele continue a ser pastiche de si mesmo por muito tempo, ainda é melhor que muita gente por aí...
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Ana Maria Bahiana
20/09/2010 19:01:39
Creio que sim. Embora seja um outro clima e outra proposta. E em termos de esnobadas recentes, não engulo nem a do Stulhbarg nem a de Gran Torino.
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brendam lee
20/09/2010 18:47:31
Eu ainda não engulo a esnobada da Academia e da HFPA pra interpretação do Sthulbarg em 'A Serious Man'. Robert Downey Jr., melhor ator comédia? ¬¬' Mad Men encontrou um concorrente à altura?
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Sandra
20/09/2010 12:55:01
Ana , acredito mesmo que é 110% bom , fiquei fã de Steve Buscemi no filme "FARGO" lembra?? ele tava otimo ,neurotico/paranoico, tem algo nesse cara que voce conseguiu definir agora para mim ele é hipnotizante , quando a Martin eu sou suspeitissima , se ele assina algo , pô , o selo de qualidade esta garantido, a pergunta então é? quando será que estreia no Brasil ?? ah antes que eu me esqueça , obrigada viu por sempre trazer boas novas e quentinhas para gente!! Bjs
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neder
20/09/2010 09:58:32
Pena que estas séries maravilhosas não são exibidas também numa sala de cinema, com tela grande. Não há home theater que proporcione o mesmo prazer e emoção.
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Ana Maria Bahiana
20/09/2010 03:34:12
O personagem dele aparece muito aos poucos, nestes primeiros seis episódios- é o agente da receita federal encarregado de investigar as falcatruas de Nucky e seus amigos, um cara linha dura, super religioso, contra a bebida. Até agora, parece um pouco rígido. Vamos ver o que acontece do sétimo em diante...
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Joao Marcelo F. de Mattos
20/09/2010 03:23:07
E o Michael Shannon está bem, o papel é à altura dele??? Este cara é absolutamente sublime.No Oscar-2009 quando os atores vencedores de anos anteriores introduziram os indicados do ano, achei a escolha tão óbvia quanto linda e simbólica do Christopher Walken falando do Shannon em "Foi Apenas um Sonho". Um imperador da interpretação em papéis de louco, demente, e doidão de estirpes variadas, enaltecendo um príncipe desse estilo. Achei genial quando li uma entrevista de Shannon, e ele respondeu se não ficava irritado em ser muito chamado para papéis deste tipo; ele respondeu, "Eu não, se o papel for bom, por que ficaria chateado?".
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Newman
20/09/2010 02:29:46
Ok, mas será que é um Scorsese SCORSESE! ou continua a ser o pastiche de si mesmo que ele vem apresentando nos últimos 12 anos??
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Nathally
20/09/2010 01:50:05
Uma série sobre as origens do crime organizado nos Estados Unidos, só poderia ter o dedo de Martin Scorsese, e se tratando de quem é podemos dizer que realmente será um sucesso. Tomara que chegue aqui no Brasil, e o mais rápido possível.
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Douglas Toledo
20/09/2010 00:01:48
fantástico! viva a televisão!!
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