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Guerra e paz entre as estrelas: Além da Escuridão-Star Trek
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Ana Maria Bahiana

(Almas mais sensíveis: mesmo fazendo todos os esforços para evitar SPOILERS, é muito possível que alguns deles pipoquem por aqui…)

 

Lá pelo meio de Além da Escuridão: Star Trek, enquanto algum personagem despejava um monte de exposição – “você quer dizer que se fizermos isto, aquilo vai acontecer?” “sim, porque naquele dia quando estávamos em órbita do planeta xyz fulano não apertou o rebimbete da parafuseta”—eu pensei: “Caramba, agora que a televisão está fazendo cinema, o cinema tá fazendo televisão, em IMAX 3D com um sonzão…”

Não pensem que tive raiva: na minha distante infância eu muitas vezes pensava como seria absolutamente bárbaro (gíria da época) ver Spock e Kirk e seus planetas de papelão numa tela imensa como, digamos, a do cine Rian em Copacabana. Vejam como os sonhos mudam.

E coloquem-se no meu lugar por um segundo – todo mundo que acha o Star Trek original “docemente cafona”, como já li, se esquece de que, para jovens mentes impressionáveis  da época de sua estreia (como a minha), cada monstro de pelúcia, cada sacolejo da ponte de comando da Enterprise, cada meteoro de isopor era absolutamente acreditável e capaz de gerar sonhos e pesadelos subsequentes. Especialmente  quando vistos numa telinha num canto da sala de estar, no meio do Brasil preto e branco dos anos 1970.

Creio que o apelo da franquia, que suplantou o aparente “fracasso” de sua estreia na TV norte-americana, em 1968, gerou uma vasta mitologia e agregou-se ao tecido da cultura pop se deve a isso: a coerência interior, a capacidade de tecer as tramas mais absurdas, com os recursos mais limitados, e não perder a atenção de quem vê. Com mais um elemento: como toda boa ficção científica deve ser, Star Trek falava do presente, não do futuro, discutindo temas que poderiam ser espinhosos se não estivessem num possível século 21/22 (por si só otimista- ei, a humanidade chegou até lá!).

Tudo isso me volta à cabeça quando revejo mais uma etapa dessa jornada nas estrelas. Com seu reboot de 2009 J.J. Abrams se deu permissão de repensar toda a mitologia, usando o velho e bom artifício da “linha do tempo alternativa”. Agora, em sua segunda incursão, ele finalmente morde com vontade sua licença poética, revisitando, de uma tacada só, um vilão antológico da mitologia, vários elementos dos filmes dos anos 1980 e episódios de TV (inclusive o mito das camisas vermelhas) e o primeiro comandante da Enterprise, Christopher Pike (Bruce Greenwood).

Embora qualquer busca no IMDB vá revelar mais do que pretendo escrever aqui, prossigo com cautela. Eis no que Abrams ficou devendo, para mim:

–       Pensar, criar e produzir em grupo, um sistema que Abrams trouxe da TV, é ótimo, mas às vezes faz o projeto cair em antigos cacoetes da TV. O que abre este post – a necessidade de explicar tudo através do diálogo dos personagens – é um dos mais notoriamente abusados em Além da Escuridão.

–       Outro típico da TV: a necessidade de criar situações catastróficas/ críticas a cada 10 minutos com medo de perder a atenção da plateia. Ó criadores de pouca fé! Há uns bons 15 minutos de crises mecânicas, correrias, uma visita a um planeta deserto para desarmar um torpedo  e um sortimento de explosões que, para mim, tiram o impacto das reais cenas épicas que vem depois.

–       Por que Alice Eve de calcinha e sutiã? Por que, pelos Senhores de Kobol?! (upa, referência errada…). A esta altura do século 21? No mínimo, para equilibrar, eu queria ter visto Benedict Cumberbatch sem camisa. Just sayin’…

E por falar nisso… no que J. J.acertou em cheio:

–       Em escolher Cumberbatch para viver “John Harrison”. The Batch pode ler uma lista de endereços e dar medo, se quiser.

–       Em dar o devido tempo de tela e a devida direção para que Zachary Quinto, Chris Pine (especialmente) e todo a tripulação da Enterprise desenvolvam seus personagens. Essa é uma das vantagens de migrar dos 50 minguados minutos da tela pequena para as 2 horas e 20 minutos da mega-telona: para apreciarmos melhor o Dionísio de Kirk batendo de frente com o Apolo de Spock.

–       Em fazer de Além da Escuridão uma reflexão sobre a ideia da guerra oportuna, da militarização da ciência, do intervencionismo em nome da paz, tão presentes no verdadeiro século 21.

Em tempo: se possível, vejam Além da Escuridão num bom cinema, com a maior tela disponível e som poderoso. Neste caso, é essencial.

Além da Escuridão: Star Trek está em cartaz nos Estados Unidos e estreia no Brasil dia 14 de junho.


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