Blog da Ana Maria Bahiana

Arquivo : Ricky Gervais

O que esperar dos Globos de Ouro? Possivelmente, o inesperado
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Ana Maria Bahiana

Escrevo este post no International Ballroom do Beverly Hilton, enquanto Helen Mirren e Sidney Poitier ensaiam a entrega do troféu Cecil B. De Mille a Morgan Freeman. Um jovem extra faz o papel de Freeman para que a produção marque câmeras, luz e timing. Mirren, sem maquiagem, numa saia estampada, camisa branca e casaco de tricô bege, tem ideias divergentes do diretor, e pede uma modificação no ritmo e espaçamento de duas frases _ e ela está  certa, como sempre. Com as mudanças, o texto ficou mais engraçado e a entrada de Freeman, mais interessante.

Chiquérrima num tailleur preto , a caminho do chá da BAFTA, agora à tarde, Angelina Jolie entra no palco depois, ensaiando a entrega do Globo de melhor diretor. Abre o envelope de mentirinha e exclama: “Michel Hazanavicius e Martin Scorsese! É empate!” , e desata a rir. Quando passa  o texto de novo, ela “dá” o prêmio para o diretor de O Artista. “Quero treinar o nome mais difícil primeiro”, ela explica. “Se ele ganhar mesmo, não quero gaguejar!”.

Numa calça jeans justíssima e top de malha aberta, Mila Kunis é a próxima a ensaiar, passando “melhor ator coadjuvante” ao lado de um Gerad Butler cabeludo, de jaqueta de couro. Não precisam repetir _ tudo certo de primeira.

O salão este ano está em tons de azul, que as luzes tranformam em ouro e prata, oscilando entre vários tons e intensidades enquanto escrevo, o que torna a tarefa substancialmente mais difícil. Pelas paredes do Ballroom alguém teve a brilhante ideia de colocar reproduções do troféu em branco _ num primeiro olhar achei que eram enormes bolas de sorvete de baunilha… Mas enfim…

Estou sentada na mesa 14 onde, tradicionalmente, altos executivos se aboletam com suas champagnes e águas minerais. “Jeffrey Katzenberg” está ao lado. “Colin Firth” e “Judd Apatow” estão na mesa vizinha. É divertido e um pouco assustador. Prêmio-fantasma.

Perambulando silenciosamente pelas mesas cobertas de cartazes com os nomes dos convidados, Ricky Gervais , de jeans e camiseta preta, presta atenção a cada nome. Ao me ver labutando na mesa 14, sorri e pisca o olho: “Estou procurando minhas vítimas.”

Gervais é ao mesmo tempo um bônus e um problema para os Globos. Suas tiradas ano passado enfureceram muita gente, mas colocaram o evento no topo da audiência. A preocupação, este ano, é que ele não perca seu gume cortante mas também não ofenda ninguém de modo irreparável.

Quando Gervais finalmente sobe ao palco do International Ballroom para passar seus textos, respiro aliviada.Meu papel na produção, este ano, é, entre outras coisas, garantir que ele faça exatamente isso, que seja o Gervais engraçado e provocador que amamos, mas que não arrume briga com ninguém. Os textos que ele ensaia são exatamente isso _ fãs não ficarão decepcionados e se os distintos convidados ainda tiverem uma gota de bom humor em suas veias, vão rir muito.

E quem vai ganhar? Quisera eu poder dizer… Com minha querida Associação, é super difícil saber. Cada cabeça uma sentença, um país, uma cultura, um gosto. Não há o consenso de classe das Guildas e a mente coletiva da indústria representada na Academia.

O que posso adiantar: George Clooney e Viola Davis estão na pole entre os atores/drama; O Artista e Os Descendentes são os líderes em melhor filme comédia/musical e drama, respectivamente; o filme estrangeiro favorito é A Separação. Na TV, a coisa se complica. Só posso dizer que é difícil Jessica Lange  sair de mãos abanando do Beverly Hilton…

Até amanhã, quando estarei nas entranhas do Beverly Hilton ….

 

 


Numa semana tumultuada, o futuro dos dois prêmios mais importantes da temporada
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Ana Maria Bahiana

Os storm troopers abrem a festa de entrega dos Oscars honorários

 

Mas que semana, hein?  Tudo começou sexta feira passada, no final do dia, quando a verificação de dados dos  filmes inscritos para a categoria “filme estrangeiro” revelou que Tropa de Elite 2 estava fora do prazo necessário para a competição. E terminou com o anúncio da volta de Ricky Gervais como host dos Globos 2012, pela terceira vez.

Entre uma coisa e outra, a Academia distribuiu seus prêmios  honorários num almoço de gala, em clima  Star Wars. O presidente Tom Sherak entrou no salão de festas do complexo Hollywood/Highland (onde está o teatro Kodak) vestido de Darth Vader e acompanhado por um pelotão de “storm troppers”. “Como foi  a semana de vocês?”, ele disse saudando a ilustre plateia de acadêmicos e convidados, que desatou a gargalhar. Era ao mesmo tempo uma referência a um dos premiados da tarde,  James Earl Jones, a eterna voz de Lord Vader, e ao tumulto que quase paralisou os preparativos para o Oscar 2012 e terminou com a troca de produtor e apresentador.

Estas mudanças foram inesperadas, mas fãs da corrida do ouro já podem se preparar para mais novidades a partir de 2013. Com certeza teremos indicados e prêmios mais cedo : a entrega do Oscar  de 2013 está marcada para 27 de janeiro, o que pode alterar também as datas dos Globos de Ouro. E, se uma ala muito ativa da diretoria da Academia triunfar, teremos também o exílio dos prêmios técnicos – som, fotografia, efeitos, maquiagem, figurino, direção de arte, montagem – para uma cerimônia separada, prévia, como a que hoje abriga os Oscars honorários.

“Posso ser sincero? Nós estamos no meio do maior tumulto. Vocês, pelo contrário, estão tranquilos”, me confessou um acadêmico ( que estava mesmo usando um terno Armani, saindo do almoço).

“Nós”, no caso, somos os votantes dos Globos de Ouro. Que, na verdade, também não passamos uma semana muito tranquila. Entendo perfeitamente os dois lados da discussão pró e contra a volta de Ricky Gervais. Os 16 colegas que votaram contra tem uma metáfora válida: você convidaria para sua festa uma pessoa que só fala mal dos outros convidados? Os Globos tem mesmo um clima de festança informal e divertida, onde astros e estrelas se sentem à vontade _ é uma parte importante do charme do evento.

Mas o executivo da NBC e os que  votaram a favor também tem razão. Os tempos mudaram, a competição ficou mais agressiva na selva da TV, há mais prêmios que coisas a serem premiadas, e a mistura de estabilidade e crescimento que os Globos  tem mantido  tem que ser defendida cuidadosamente. Todo mundo – votantes e emissora- concorda que Gervais errou no tom, em janeiro deste ano. Falha de todos porque, ao contrário do que o público pensa, todo show que é transmitido ao vivo é rigorosamente roteirizado e ensaiado. Quem tivesse comparecido aos ensaios saberia em que direção Gervais estava indo.

Sim, o público adora ver os famosos em saia justa. Os Oscars e Emmys, quando acertam, fazem isso muito bem. O segredo está em achar o tom certo, equilibrar a piada de modo a não tirar o gume cortante do apresentador nem deixar na distinta plateia o clima de mal-estar que reinava no salão do Beverly Hilton em janeiro deste ano.

É o desafio dos Globos este ano. A maioria das estrelas vai comparacer, não se preocupem. Na verdade, Kate Winslet e George Clooney já aceitaram convites para apresentar prêmios. Todo mundo é profissional e sabe desenvolver defesas, ser imune a alfinetas  e gozações. É tudo parte do ofício _ e da corrida do ouro.


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