Blog da Ana Maria Bahiana

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Por que os Globos de Ouro são importantes. (E os Oscars também.)
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Ana Maria Bahiana

O produtor George Clooney, cercado pelo elenco de Argo, reage à vitoria do filme nos Globos de Ouro 2013, minutos depois de receber seu troféu.

 

Algumas coisas são sempre importantes de serem lembradas quando se fala de temporada de prêmios, especialmente quando se está no auge desta fogueira de vaidades:

  • Como disse antes, todo prêmio é, em essência, a expressão da opinião de um grupo de pessoas num determinado momento.
  • Para quem é indicado ou vence, prêmios são importantes como: reconhecimento de seus pares; ferramenta de marketing; upgrade ou viabilização de carreira. Mas quem dá o devido valor a qualquer obra são o tempo e a história. Que o digam Kubrick, Chaplin, Hitchcock, Altman e Kurosawa, entre muitos outros.
  • Para quem escolhe, prêmios são importantes como: ferramenta para estabelecimento e ampliação de sua posição no meio; ritual de consolidação de seus integrantes; fonte de renda.
  • Desde 1953, quando o Oscar foi televisionado pela primeira vez nos Estados Unidos, os prêmios evoluíram de uma festa entre colegas para um show de mídia. Uma entidade que  tem um prêmio televisionado sabe que ali está sua principal fonte de renda para o ano todo, viablizando suas atividades, programas, doações e apoios. Uma entidade que tem seu prêmio televisionado está constantemente preocupada com a qualidade e popularidade de seu evento _ seria muito irresponsável de sua parte  não faze-lo.

Quando, 70 anos atrás, um grupo de correspondentes estrangeiros em Los Angeles criou o que viria a ser a Hollywood Foreign Press Association, seu primeiro objetivo era por um ponto final à xenofobia e paranoia que dominavam o país em plena Segunda Guerra Mundial. A ideia de criar um prêmio que expressasse as preferências desse grupo – o Golden Globe, Globo de Ouro, enfatizando o aspecto universal das artes visuais – era uma forma de usar de outro modo a moeda corrente que a Academia, fundada 16 anos antes, já tinha descoberto: o prêmio como bilhete de entrada e afirmação no meio.

A Academia, em 1927, tinha um problema: a disputa entre produtores e estúdios e os sindicatos e entidades de classe por melhores salários e condições de trabalho. A HFPA, em 1943, tinha outro: não ser mais discriminada como “um bando de estrangeiros” que talvez estivesse espionando para o inimigo.

Acho incrível que, 70 anos depois, ainda tenha gente que continue nos chamando de “um bando de estrangeiros”, denegrindo nosso trabalho, insultando a mim e a meus colegas.  Xenofobia é uma erva daninha difícil de exterminar.

Felizmente, esta turma é uma minoria cada vez menor. Quando cheguei a Los Angeles em 1987, passei muitos anos ouvindo coisas como “esta entrevista só está disponível para territórios importantes, você não pode fazer” ou “ não temos mais lugar neste evento, é apenas para imprensa norte americana”. Ou recebendo  — depois de muita insistência– copias xerocadas das notas de produção enquanto os coleguinhas norte-americanos – muitos dos quais são os que ainda dizem todas essas coisas acima – eram mimados com luxuosas encadernações, camisetas e lugares reservados nos cinemas.

Ah, como isso mudou! A bilheteria internacional representa hoje 70% da renda combinada de todos os grandes estúdios e principais distribuidores. Carreiras inteiras – Tom Cruise que o diga – dependem dos mercados internacionais. Projetos são escolhidos e aprovados baseados em suas perspectivas internacionais.

A evolução, a popularidade e o prestígio crescentes dos Globos de Ouro devem ser entendidos, em primeiro lugar, à luz desse fenômeno. Os colegas norte americanos podem dizer que somos um “bando misterioso” de jornalistas que “ninguém conhece”, mas estúdios, produtores, divulgadores, atores e qualquer pessoa que lide com mídia internacional nos conhece muito bem: nós somos a voz dos BRICs, a ponte com a Europa, a Ásia, o Oriente Médio. Nossa presidente, a extraordinária  Aida Takla O’Reilly, nascida no Egito, escreve para Dubai, um dos maiores financiadores atuais do cinema. Da França à Coréia, da Australia ao México, o  que reportamos repercute nos mercados que, hoje, mais interessam aos realizadores de todos os tamanhos.

E – o que na verdade pode ser ainda mais interessante – as escolhas que fazemos, nos Globos, são as da platéia, de certa forma as nossas plateias, as culturas, os idiomas e os países que representamos. Vemos e consumimos cinema como o mundo vê e consome. Isso, hoje, vale mais do que qualquer outra coisa. (Inclusive, segundo este estudo, mais do que um Oscar, como ferramenta de marketing – uma vitória nos Globos adiciona, em média, mais 14 milhões de dólares à bilheteria de um filme, enquanto um Oscar traz em média mais 3 milhões de dólares.)

Tina Fey e Amy Poehler nas coxias do palco do International Ballroom, durante os Globos de Ouro 2013

O mito de que “os Globos influenciam os Oscars” começou na mesma salada de especulações e “experts” que hoje assolam a mídia. Por conta de nosso calendário profissional – ei, somos jornalistas, temos que acabar logo com essa farra para voltar a trabalhar! – e da agenda das emissoras que transmitem o evento, os Globos há muitos e muitos anos estão firmemente no segundo domingo de janeiro. O resto do nosso calendário se prende a isso.

Como bem aponta este artigo da Variety, nossas escolhas são de natureza diversa da dos Oscars. São escolhas de quem, sim, viu praticamente todos os filmes lançados no ano (porque é nosso dever profissional) e está lançando indicações como tal. Estamos na plateia. Uma plateia privilegiada, mas uma plateia.

O que acredito que fazemos, para os Oscars e os demais prêmios,  é exatamente isso: criar um balaio, uma lista preferencial de quem realmente importa a cada ano. Isso não mudou. As listas de indicados aos Globos e aos Oscars é praticamente a mesma. As escolhas finais são sempre marcadamente diferentes, porque estamos olhando e selecionando de modo diferente.

Este ano tivemos a nosso favor um planejamento rigoroso do evento do dia 13 de Janeiro, que tomou praticamente o ano inteiro e envolveu as escolhas das hosts Tina Fey e Amy Poehler, o prêmio especial a Jodie Foster e um vasto trabalho online e em midias sociais do qual, digo sem falsa modéstia, participei ativamente (mas não aqui, é claro – não seria correto. No site da Associação). O resultado foi nossa melhor audiência em seis anos – 20 milhões de espectadores —  tornando os Globos o show de prêmios mais visto desta temporada, até agora.

Não creio que isso tenha impacto algum sobre os Oscars. Os Oscars tem sua própria, longa e ilustre história e vão fazer sucesso ou não, este ano, dependendo de seus próprios méritos, do quanto Seth McFarlane vai funcionar como host, e o quão dinâmico for seu telecast.

Suas escolhas finais serão, tenho certeza, absolutamente diferentes, porque o olhar do pool de votantes é necessariamente diferente.  (Por exemplo: os Globos escolheram Brokeback Mountain e os Oscars ficaram com Crash-No Limite. Para dar um exemplo.) Os Globos apontaram Argo e Os Miseráveis. Vejo Lincoln e O Lado Bom da Vida despontando nos Oscars. E seria assim não importa em que dia Globos ou Oscars acontecessem.

Falo tudo isso com absoluto conforto. Meu filme favorito  (e de Ben Affleck também), O Mestre, não ganhou nem biscoitinho de polvilho nem da minha Associação, nem da Academia.

Mas esse é o mistério e o fascínio dos prêmios – o contraponto entre nossas escolhas e paixões e as escolhas e paixões dos outros.

 

 


Indicações Oscar 2013: deu a louca na Academia?
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Ana Maria Bahiana

O primeiro resultado imediato dos sustos da madrugada do Oscar foi uma briga feroz entre a multidão de experts e oráculos profissionais de prêmios que multiplicaram-se nos últimos anos com a velocidade da internet.  Dá para entender: esse povo ganhou fama e seguidores apregoando poderes quase paranormais de compreender a possível “alma coletiva” da indústria tal qual ela se manifesta em seus prêmios anuais.

O que menos gente comenta é que esses oráculos se tornaram, na verdade, instrumentos da cada vez maior manipulação da opinião dos votantes através de “tendências” cuidadosamente plantadas pelos estrategistas  em suas “previsões”. Quando fatores além dos sistemas que eles criaram – baseados na verdade em cacoetes e nas “tendências” alimentadas pelos estrategistas – bagunçam suas previsões… é o caos!

A principal briga é entre David Poland do Movie City News, que fez uma análise bem balanceada das estranhas escolhas deste ano, e Sasha Stone da Awards Daily, que está choramingando na linha “injustiça!”. Mas em volta deles, amigas e amigos, parece a sequencia de abertura de O Resgate do Soldado Ryan, uns chamando os outros de incompetentes, arrogantes, cegos e coisas piores.

E no entanto…

Qualquer prêmio, inclusive o Oscar (ou qualquer festival) é o resultado da expressão da opinião de um grupo de pessoas num determinado momento.  É divertido especular em torno da forma que essa opinião vai tomar,  e imaginar que haja uma “vontade coletiva” atrás desta ou daquela escolha. Mas no fim das contas são fatores muito concretos que acabam  sendo os mais fortes.

Lembram quando eu disse que a antecipação dos prazos poderia resultar em escolhas desiguais e potencialmente injustas, especialmente para os filmes que estrearam no final do ano? Este, creio, é um grande fator no sumiço de Kathryn Bigelow, Tom Hooper e Quentin Tarantino dos indicados a melhor diretor.

Mas não explica porque Ben Affleck, indicado pela DGA, sumiu dos Oscars com um filme que estreou em outubro. A matemática não apoia nenhuma especulação. Existem  mais de 15 mil votantes na entidade de classe dos diretores. Existem 371 membros no departamento de diretores da Academia. 95%  deles são votantes da DGA. O que aconteceu?

Cair na choradeira do “ah, mas o filme é tão bom, por que?!! Por que?!!” não resolve nada. Depois de passar uma tarde de domingo bebendo cinema da mais alta ordem na exposição Kubrick do Museu de Arte de Los Angeles, caí na real ao perceber que este gigante da sétima arte recebeu um único Oscar- por efeitos especiais, por 2001 Uma Odisseia no Espaço.

A conversa não é por aí.  (Se a conversa fosse por aí eu estaria aqui vociferando porque O Lado Bom da Vida, um filme que me irritou profundamente no mau sentido, pela auto-complacência e preguiça, conseguiu ser indicado em todas as categoria nobres. E como é possível que O Mestre tenha ficado de fora das categorias filme, diretor e roteiro original.) A conversa é sobre números, estatísticas e um corpo votante de idade avançada que reage a qualquer novidade.

Dois fatos me levam a pensar que houve um pepinaço na votação em geral, mais dramática na categoria “melhor direção”:

1. a inclusão de Benh Zeitlin (Indomável Sonhadora) e Michael Haneke (Amor) entre os melhores diretores,  duas indicações incrivelmente ousadas para um corpo votante tão conservador;

2. a imediata profusão de entrevistas de Hawk Koch,  presidente da Academia, garantindo que nunca tantos membros tinham enviado seus votos e comparecido às sessões dos filmes concorrentes. Lembrei de cara daquela cena maravilhosa de Argo, em que Alan Arkin diz para Ben Affleck: “Então, nesta cidade onde as pessoas mentem profissionalmente, você quer criar um filme de mentira?” (Que bom que, nesta confusão, tanto Arkin quanto o maravilhoso roteiro de Chris Terrio foram lembrados).

Pois é.

O que acho, até prova em contrário: as indicações anunciadas na manhã do dia 10 foram o resultado do menor número de votos já lançados numa escolha do Oscar; muita gente não soube ou não conseguiu votar no novo sistema online; muita gente deixou linhas em branco porque, com os novos prazos, não teve tempo de ver os filmes ou se guiar pelas indicações das sociedades de classe; muito voto foi anulado.

É tudo hipótese. Mas faz sentido.

Uma única unanimidade emergiu da madrugada do Oscar: a correria deseperada atrás do público jovem inventou um sub-Rick Gervais na figura de Seth McFarlane. Seus promos foram tão sem graça quanto suas piadas no anúncio das indicações. E que triste a Academia ter que debochar de si mesma para se mostrar “moderna”…

 

 

 


Semana de definições na temporada ouro
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Ana Maria Bahiana

Esta é uma semana de definições. Quinta, a definição dos indicados ao Oscar 2013. Domingo, a definição dos vitoriosos dos Globos de Ouro 2013.  Neste momento, posso adiantar três coisas com certeza:

  • as duas listas –indicados e vitoriosos- serão muito parecidas.
  • Django Livre será indicado pelo menos por melhor figurino. A página com essa informação apareceu inesperadamente (e por erro, é claro) no site da Academia.  E na pressa de divulgar o evento, a Academia vazou a noticia para a Vanity Fair

  • O que nos leva à terceira certeza: mudar o anúncio das indicações do Oscar para antes da entrega os Globos não está ajudando em nada a Academia. Esta semana, tudo o que midia, online e off, quer comentar são Globos, Globos, Globos…

Para antecipar as indicações de quinta feira existe um método razoavelmente simples: use como base as indicações dos Globos de Ouro, e adicione as indicações das organizações de classe: roteiristas, diretores, produtores, atores, diretores de fotografia,  efeitos especiais. Os nomes que mais se repetirem em todas as listas são os que vão estar entre os indicados de quinta feira.

Não extrapolo para dizer que serão também os premiados de domingo porque a Associação dos Correspondentes Estrangeiros (à qual pertenço) é famosa por ser imprevisível. Somos poucos – 90 – de culturas e nacionalidades diversas, e com personalidades, idades e gostos extremamente variados.  Tomar o pulso desse grupo é muito mais complicado do que prever o que os profissionais da indústria vão escolher – na noite de domingo, literalmente tudo pode acontecer. Estarei lá, e vou contar tudo o que puder para vocês.

Aos Oscars, pois. De cara anuncio os desacontecimentos:

  • O Mestre, que para mim e para muitas associações de críticos é o filme do ano, não deve aparecer. Os Globos lembraram-se (com justiça) do fenomenal elenco – Joaquin Phoenix, Philip Seymour Hoffman, Amy Adams. Mas não sei se a Academia fará o mesmo.
  •  Batman, O Cavaleiro das Trevas Ressurge ainda tem algumas chances nas técnicas, especialmente som, fotografia e montagem. Mas já sabemos que pelo menos nos efeitos especiais reinam O Hobbit, As Aventuras de Pi (foto), Vingadores e Prometheus.

Agora, as certezas.  A maioria dos acadêmicos a quem perguntei que filmes tinham deixado uma impressão mais marcante em suas memórias me respondeu com cinco títulos: Argo (foto), A Hora Mais Escura, Lincoln, As Coisas Boas da Vida e Os Miseráveis. Como os Oscars prevêem até 10 indicados para melhor filme, eu acrescentaria a esses Skyfall, As Aventuras de Pi Moonrise Kingdom. Ousando bastante, talvez O Mestre, O Impossível e Amour.

Entre atores e atrizes, estes filmes favoritos tem as contribuições mais certeiras. Entre as atrizes, conto ver Jessica Chastain (A Hora Mais Escura)(foto), Jennifer Lawrence (O Lado Bom da Vida) , Naomi Watts (O Impossível). Aposto também em Marion Cotillard por Ferrugem e Osso, Emmanuelle Riva por Amour e Helen Mirren por Hitchcock. Meryl Streep (por Um Divã para Dois) é um xodó da Associação, mas acho que vai passar batida pela Academia. Voto extremo? Quvenzané Wallis por Indomável Sonhadora.

Entre os atores, Daniel Day Lewis (Lincoln) , Denzel Washington ( O Vôo)  e Bradley Cooper ( O Lado Bom da Vida ) são certezas. Eu contaria também com John Hawkes (As Sessões) e Hugh Jackman ( Os Miseráveis), e ficaria torcendo por Joaquin Phoenix (O Mestre) e Jack Black (Bernie). Azarão vindo por fora? Bill Murray por Um Fim de Semana em Hyde Park.

Coadjuvantes-certeza são Sally Field e e Tommy Lee Jones (Lincoln),  Anne Hathaway (Os Miseráveis)(foto), Helen Hunt (As Sessões), Alan Arkin (Argo) e Christoph Waltz (Django Livre). Possibilidades fortes: Javier Bardem (Skyfall), Leonardo di Caprio (Django Livre), Philip Seymour Hoffman e Amy Adams (O Mestre), Robert de Niro (O Lado Bom da Vida). Surpresas possíveis: Nicole Kidman por Paperboy , Maggie Smith por O Exótico Hotel Marigold .

Os cinco diretores queridos da DGA – Steven Spielberg, Tom Hooper, Ang Lee, Katherine Bigelow e Ben Affleck — são as mais prováveis escolhas do departamento de diretores de Academia. Torço por Paul Thomas Anderson e ainda não perdi de todo a esperança em ver os nomes de Wes Anderson (Moonrise Kingdom) e Behn Zeitlin (Indomável Sonhadora). (Meu consolo: esses dois vão levar os Independent Spirits de lavada…)

Nos filmes estrangeiros, Haneke já deve até estar escrevendo o discurso de agradecimento por Amour, tanto nos Globos quanto nos Oscars. Outros indicados-certeza são o francês Os Intocáveis, o norueguês Kon-Tiki e o dinamarquês O Amante da Rainha. Fico torcendo pelo chileno No e pelo romeno Além das Montanhas para a quinta vaga… E se Paranorman fosse lembrado entre os longas de animação eu ficaria muito, muito feliz.


Para os Oscars, um não muito feliz ano novo
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Ana Maria Bahiana

Neste momento, enquanto escrevo, os 6 mil votantes do Oscar tem apenas 52 horas para decidir quem serão os indicados deste ano. E muitos deles estão completamente perdidos, ou em suas escolhas, ou no modo de votar. O resultado dessa correria e confusão pode ser uma seleção de indicados esquisita, desequilibrada e, sinceramente, injusta.

Duas novidades da votação 2012-2013 tem provocado verdadeiros surtos nervosos nos votantes. A primeira  foi a antecipação de todos os prazos: com os Oscars sendo entregues dia 24 de fevereiro, as indicações deste ano serão anunciadas agora no dia 10. Morro de rir quando penso no por que da mudança: depois de anos e anos mantendo a postura de que os Globos de Ouro não tinham a menor importância, a Academia colocou o anúncio dos indicados exatamente três dias antes da entrega dos Globos, este ano. O motivo oficial foi “dar mais tempo aos votantes para ver os filmes indicados” mas quase  ninguém por aqui acreditou: a impressão que ficou é que, ao contrário do que anuncia, a Academia está preocupadíssima com os Globos. (A coisa vai ficar pior ano que vem… continuem lendo.)

Até porque o efeito, no final das contas, foi o oposto: para anunciar dia 10, o prazo para votar nos indicados teve obrigatoriamente que cair logo depois do Ano Novo, um período complicado para muita gente. E particularmente nocivo para quem lançou filmes/deslanchou campanhas nos últimos dias de 2012 – entre eles, Django Livre, Os Miseráveis, O Impossível e Promised Land (de Gus Van Sant). Num corpo votante que já não tem o hábito de correr atrás dos filmes para ver, o novo prazo pode ser um fator de desequilíbrio. (Em tese, deveria favorecer filmes que estrearam em meados do segundo semestre, como O Mestre….)

Para tornar as coisas mais complexas, a Academia resolveu inaugurar este ano um sistema de votação online. Quando a mesma ideia circulou com relação aos Globos, optamos por instituir a opção online lentamente, em etapas, para familiarizar votantes mais idosos com a tecnologia. Hoje pode-se fazer o rascunho dos votos dos Globos online, mas eles ainda tem que ser impressos e enviados por correio tradicional. E mesmo assim tem gente que se confunde. Sem falar na complexidade de manter a segurança e usabilidade do site durante o período.

A Academia queimou etapas, e o resultado tem sido uma dor de cabeça de proporções cósmicas. O sistema de votação já caiu várias vezes. Senhas não são reconhecidas. Votantes que ainda estão na era do fax estão absolutamente perdidos. Para lidar com o caos o prazo de votação foi estendido até sexta dia 4 as 17h, e as boas e velhas cédulas de papel estão sendo distribuídas às pressas.

E em 2014? Teremos Olimpíadas de Inverno em fevereiro, e a temporada de futebol americano começando dia 19 de janeiro. São grandes eventos que ocupam as emissoras e os calendários da publicidade. Os Globos estão confortavelmente instalados em janeiro – tradicionalmente, no segundo domingo, que seria 12 de janeiro em 2014. O que os Oscars vão fazer?


Adeus, Emmys – agora, a correria dos outros prêmios
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Ana Maria Bahiana

E aí, gostaram dos Emmys? Da minha parte, resumidamente:

  • A abertura foi xoxa, comparada com anos anteriores (lembram do “Born to Run” de Jimmy Fallon e companhia em 2010?)
  •  Não aguento mais Modern Family, me pareceu um voto preguiçoso, especialmente considerando que este ano, além da eternamente injustiçada Big Bang Theory (será que só vão premiar quando ela definitivamente não for mais o que era? Prêmio faz muito disso…), tínhamos as excelentes estreantes Veep e Girls.
  • Homeland é uma bela série, mas o nível da dramaturgia e direção de Mad Men e Breaking Bad é muito superior – são duas séries que já fazem parte da história da TV contemporânea, e que se provaram ao longo do tempo, desenvolvendo magnificamente seus personagens e tramas.
  • Perder na “minha” categoria – categoria especial – para os Tonys foi um prazer. Explico o “minha”: fui, como consultora de roteiro, parte da equipe do show de entrega dos Globos de Ouro 2012, indicado na “categoria especial” dos Emmys, este ano, primeira indicação que o evento recebe. Eu me senti super lisonjeada, mesmo com meu papel minúsculo na empreitada. E não me importei nem um pouco em perder para os Tonys.

Mas o assunto da cidade, agora, não é mais Emmy, mas a momentosa temporada dos prêmios de cinema, que se aproxima com a mesma velocidade fulminante do temperamental outono angeleno (um dia, calor escaldante; dia seguinte, chuva, 17 graus e folhas pelo chão).

O amador, bizarro e propositalmente incendiário filmeco feito por um egípcio num subúrbio ao sul de Los Angeles acabou de custar alto para o cinema iraniano : em represália ao tal Innocence of Muslims, o Irã decidiu boicotar os Oscars e não submeter nenhum título este ano.

A história desse filmeco é um interessantíssimo tema para uma discussão sobre liberdade de expressão, responsabilidade e intolerância, mas neste momento o que mais lamento é a ausência do cinema iraniano numa das maiores janelas de exposição do mundo – e um ano depois  da vitória do sensacional A Separação.

A mudança das datas é uma história mais complexa_ e vamos esclarecer, o anúncio das indicações aos Globos de Ouro, dia 13 de dezembro, continua sendo antes do anúncio das indicações ao Oscar, dia 10 de janeiro. Para começar, não creio que isso altere em nada o efeito-balaio que os Globos de Ouro tem sobre os demais prêmios. Sempre disse que os Globos criam uma pré-seleção com suas indicações, não com seus vencedores – a composição, temperamento e ponto de vista dos votantes é completamente distinta. Uma olhada nas listas de indicados, ano a ano, comprova esse fator – e as diferenças entre os vencedores mostra como clareza os diferentes critérios de escolha de Academia, Guildas e correspondentes estrangeiros.

E aqui está o x da questão, que ainda não vi comentada com a importância que merece, a não ser num artigo da Variety: ao mudar a data de entrega das indicações para dia 3 de janeiro a Academia encurtou em cruciais 10 dias o tempo de reflexão e, em tese, de acesso aos filmes concorrentes.

Bato nessa tecla porque ela explica muito sobre a personalidade e a natureza das premiações. Os Oscars são escolhidos por pessoas que fazem cinema e, em sua maioria, não tem tempo, paciência ou inclinação para  ver todos os filmes qualificados. Os Globos são escolhidos por pessoas que, por oficio, precisam ver a maioria dos filmes exibidos ao longo do ano e que, portanto, estão qualificados.

Ao roubar 10 preciosos dias do tempo que os acadêmicos teriam para , em tese, ver os filmes do ano, deu ainda maior importância para a pré-seleção que os Globos já terão feito e anunciado dia 13 de dezembro.

Na verdade, o único impacto importante da antecipação foi sobre os estrategistas, que agora tem que correr com a bola durante novembro e dezembro, sem parar, pulando por cima de festas e férias.

E – outra coisa que lamento muito – essa pressa toda pode tornar a competição especialmente injusta para filmes menores, independentes, sem condições de fazer barulho.

Vamos ver o que acontece…


A batalha pelas estatuetas de metal, parte 3: o zum-zum dos festivais e as promessas da animação
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Ana Maria Bahiana

Enquanto vocês curtiam o feriadão, algumas coisas interessantes aconteceram por aqui,  cada uma delas acrescentando mais um pouco de foco e detalhe ao panorama do fim de ano – que, por sua vez, é quando se estabelece o tema e o tom deste momento na indústria cinematográfica.

Na Academia – que tem presidente, diretor executivo e chefe de marketing novos este ano – os planos para o Oscar 2013 começam a tomar forma. Os premiados com Oscars honorários, este ano – aqueles que foram tirados da cerimônia principal e colocados num evento fechado, em novembro – não incluem nem atores, nem atrizes, nem diretores de ficção. Jeffrey Katzenberg, mega-executivo e presidente da DreamWorks Animation (e um dos responsáveis pelo renascimento da Disney nos anos 1980 e 90) ficou com o troféu Jean Hersholt, por atividades filantrópicas, e George Stevens Jr., um dos fundadores do American Film Institute, ganhou um Oscar honorário.

Para mim, os mais interessantes são os outros dois Oscars honorários: D.A. Pennebraker, mestre documentarista e responsável por alguns dos filmes formativos da minha vida – Monterey Pop, Don’t Look Back, Ziggy Stardust and the Spiders From Mars (cujo poster está aqui atrás de mim enquanto escrevo) – e Hal Needham, um dos pioneiros do árduo ofício de dublê profissional (Star Trek e Missão Impossível na tv, e dezenas de títulos no cinema, inclusive Operação França, Rio Lobo, Chinatown e Nasce uma Estrela) e inventor do atual modelo de camera car, que permite tomadas em movimento realistas e de baixo risco.

Os Globos de Ouro continuam no mesmo formato de sempre  (mas ainda não se sabe quem será o host…), e dia 1 de novembro conheceremos o recipiente do troféu Cecil B. de Mille, por conjunto de obra. E, como este ano é o 70 ° aniversário do premio ( e da Associação dos Correspondentes Estrangeiros que o outorga) teremos um troféu especial, a mais, que só será entregue desta vez… conto mais assim que souber…

Na bilheteria, a crise criativa se tornou espetacularmente aparente: este fim de semana foi a pior arrecadação desde o ataque às Torres Gemeas, quando um trauma real paralisou produção e consumo de entretenimento. As coisas estavam tão ruins – 37% a menos que a pior bilheteria deste ano — que o filme com maior venda de ingressos por sala foi…. Indiana Jones e os Caçadores da Arca Perdida, relançado em Imax. Ou seja – reciclagem por reciclagem , melhor rever o original.

E os primeiros ecos dos festivais de outono, Veneza e Toronto, apontam The Master, de Paul Thomas Anderson, e Argo, de Ben Affleck, como os pesos-pesados confirmados do final de ano. Não fosse um item do seu regulamento, The Master teria levado o Lido inteiro. Como não levou, abriu-se um foco de luz sobre o coreano Pieta, de Ki-duk Kim, na disputa de filme estrangeiro (onde, cada vez mais, reina Amour, de Michael Haneke).

 Cloud Atlas ganhou uma excelente matéria da New Yorker (que, entre outras coisas, documenta com precisão o que é levantar a arquitetura de financiamento de um projeto original, hoje…) e foi ovacionado em sua primeira sessão em Toronto, mas eu não percebo a unanimidade que cerca Master e Argo. E não é apenas porque as resenhas foram meio a meio – é porque há mais entusiasmo pelas tranças pink de Lana Wachowski (ex-Larry) do que pelo filme como um todo.

Vou conferir todos eles em breve, e continuo monitorando as reações dos formadores de opinião – estou bastante curiosa para saber o que, num ano de eleição, crise econômica e colapso de bilheteria, o cinema poderá expressar, coletivamente.

O que nos leva aos longas de animação. Quando a categoria foi criada nos Oscars, 10 anos atrás – e , cinco anos depois, nos Globos de Ouro, como resultado de uma campanha da qual tenho orgulho de dizer que participei – haviam basicamente três contendores: Disney, Pixar e DreamWorks (a última ganhou o primeiro Oscar com Shrek, a Pixar ficou com o primeiro Globo por Carros).

As coisas mudaram muitíssimo nos últimos anos – um olhar sobre os indicados das premiações deste ano revelam um panorama muito mais amplo, pontuado por estreantes (como a Paramount com Rango e a Fox  com O Fantástico Senhor Raposo) e independentes de paises fora dos EUA (O Segredo de Kells– que foi feito em grande parte no Brasil—  O Ilusionista, Um Gato em Paris, Persepolis, Chico e Rita).

Acho que a disputa deste ano será particularmente saborosa. A Pixar vem com Valente, que literalmente estabeleceu um novo padrão de qualidade na animação digital,  a Disney tem Frankenweenie, de Tim Burton, a DreamWorks vem com A Origem dos Guardiões e Madagascar 3 (um dos maiores sucessos de bilheteria de um ano de vacas anoréxicas).

Mas é sobretudo no território além dos pesos- pesados que vejo grandes possibilidades: Piratas Pirados!, da Sony/Aardman; Paranorman, da Focus;/Laika (os mesmos de Coraline) ; Hotel Transilvania, da Columbia, e O Lorax- Em Busca da Trúfula Perdida, da Universal.

From Up Poppy Hill, do Studio Ghibli

E atenção especial a uma pequena companhia que, título por título, pode ser a mais poderosa distribuidora no mercado norte-americanio: a Gkids, especializada em animação independente de qualidade e produtora do Festival Internacional do Cinema Infantil de Nova York – que qualifica para os Oscars…

Em 2011, a GKIds emplacou Chico & Rita e Um Gato em Paris. Para este ano a Gkids vai lançar cinco títulos dentro dos prazos qualificadores: From Up Poppy Hill, do Studio Ghibli do Japão, A Letter do Momo, também do Japão, e os franceses Zarafa, Le Tableau e o meu favorito, The Rabbi’s Cat (sobre um gato que engole um papagaio e se torna subitamente douto em doutrina judaica). É uma imensa lufada de ar fresco e novas ideias vindas de outros quadrantes, que o departamento de animação da Academia tem recebido de braços e olhos bem abertos.


E agora com vocês… os Oráculos do Oscar 2012!
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Ana Maria Bahiana

Foi uma batalha, entre os torpedos da “melhor montagem” e sucessivas contagens e recontagens noite adentro… Mas valeu: aqui estão, em toda a sua glória, os Oráculos do Oscar 2012! Palmas para eles!

(Dê “refresh” regularmente- novos nomes serão acrescentados à medida em que eles aparecerem aqui neste Hollywood & Highland virtual…)

Fazendo honra às oráculos da antiga Grécia, Nathally da Silva Carvalho, 25 anos, de Macaé, RJ,  foi a única mulher na tropa de elite dos acertadores. Cinéfila desde a adolescência, Nathally estuda Ciências Sociais na Uenf.

Sou cinéfila desde o começo da minha adolescência, quando minha percepção se tornou mais aguçados para a sétima arte: queria saber mais sobre os atores, suas filmografias, os diretores, e como os filmes eram feitos.

A partir de então comecei a pesquisar sobre a indústria, a alugar 4, 5 até 6 filmes por fim de semana e a ver com as grandes premiações como o Globo de Ouro e o Oscar. Fiquei muito feliz em saber que estou entre os Oráculos 2012. Fiz minhas apostas observando muito as críticas, (principalmente as categorias ‘bombas’ como documentário e curta), já que não tive muito tempo para ver os filmes indicados esse ano. Como disse uma grande amiga, acho que meus 20 acertos são creditados muito a um misto de sorte, instinto e conhecimento sobre o Oscar (muito pelas dicas que a própria Ana dá, todos os anos, de como são os mecanismos de votação). Acho que meu grande trunfo esse ano foi apostar sem ressalvas na Meryl Streep como Melhor Atriz, tinha certeza que esse ano era dela!

Gostaria de agradecer a Deus pela dádiva de ser uma cinéfila; a Ana pela oportunidade de exercitar minha paixão pelo cinema, não só vendo – e lendo sobre a sétima arte, mas também participando do Oráculo do Oscar; agradeço a Jairo Souza meu grande amigo cinéfilo, com quem troco grandes experiências e dicas sobre cinema e séries (minha vitória é sua também!) e agradeço a Nathália Fernandes que acompanhou a noite do Oscar comigo, via internet, e vibrou com cada acerto meu. Agradeço a todos os grandes homens e mulheres da indústria, que trabalham com afinco para trazer um mundo de sonhos, reflexões e aprendizado para todos aqueles que se propõem a ver no cinema muito mais do que algumas horas de diversão.

Parabéns a todos os outros oráculos de 2012, e que 2013 tenha uma safra de filmes encantadoramente surpreendentes.”

 

 

O advogado Francisco de Assis Nóbrega, 28 anos, é recifense mas mora em Caruaru, PE, onde é Defensor Público Federal.

“Desde criança adoro ir ao cinema e colecionar filmes. Antes videoteca, atualmente DVDoteca, tenho filmes de todos os gêneros, estilos e nacionalidades, atualmente são mais de 600 títulos. Vidrado no Oscar, desde o ano 2000 organizo um bolão para amigos e faço uma pequena festa para receber os mais cinéfilos e loucos pelo Oscar feito eu, já é tradição! A estatueta em miniatura ao lado da TV dá o toque especial da festa! rs Após chegar perto em várias edições, estou muito feliz em ser um dos oráculos deste ano! Muito obrigado por organizar com tanto carinho o oráculo!”

Lucas Lôbo Takahashi é, na verdade, colega de Angelina Jolie  e George Clooney : todos eles trabalham para a mesma entidade,a Agência para Refugiados das Nações Unidas. A diferença principal é que Lucas está em Brasilia,DF, onde também estuda Relações Internacionais.

Eu nasci e cresci em uma cidade pequena, que não tinha cinema. Quando eu ia pra capital, assistia quatro ou cinco filmes no mesmo dia, e nunca me cansava. Sempre fui apaixonado por cinema, e o Oscar era umas das únicas maneiras de ter contato com aquele mundo, em uma época em que internet não era tão popular. Assim, vejo a cerimônia desde os sete ou oito anos, e nunca deixei de ver. Por isso, mesmo depois ter deixado de achar que o Oscar é um parâmetro de qualidade, eu ainda me importo com ele. E ganhar esse bolão e todos os brindes que você está dando me traz muito satisfação!  Obrigado! Espero lhe conhecer um dia!

Eduardo Azeredo Salgado, 31 anos, de Pindamonhangaba, SP, trilha o caminho de muitos realizadores ilustres: desde os 14 anos trabalha numa locadora de filmes. E mesmo não tendo cinema na cidade, não perde sua paixão pela Sétima Arte:

“Cinema sempre fez parte da minha vida, a primeira lembrança que tenho de ver um filme quando criança foi o filme A Missão com meus pais e de lá pra cá essa paixão pela Sétima Arte só aumentou. Por isso já faz muito tempo que vejo o Oscar e dou meus palpites, que desta vez deram resultado!”

Rodrigo Santiago,  23 anos, doutorando de Ciência Política em Recife,PE, é fã de Meryl Streep… e de Bette Davis também.

“É um prazer ser um Oráculo 2012! Há algum tempo, as atuações da Bette Davis e da Meryl Streep fizeram-me ver o cinema como uma forma de arte que vai além do entretenimento. A força das atuações dessas atrizes, bem como a direção e filmes do Ingmar Bergman, transformaram-me em um ávido apreciador da sétima arte. A partir do momento que tive contato com essas figuras, em especial, tornei-me um leigo que busca ler sobre a temática e, que de vez em quando, arrisca escrever algumas críticas sobre películas. Acho que essa bagagem, juntamente, com o acompanhamento das temporadas de premiação ajudaram a alcançar esse posto (o que não é fácil, principalmente, quando se tenta prever as categorias técnicas, documentários e curtas). Em síntese, eu agradeço ao cinema, por ele ser capaz de transformar a fantasia em realidade, e, ao mesmo tempo, mostrar as várias facetas do caráter humano. O cinema, quando nos faz refletir, cumpre o seu objetivo mais fundamental enquanto arte, ele propicia ao espectador o sentimento de estar vivo. “

Rafael Susin Baumann, 19 anos, estudante de arquitetura em Caxias do Sul, RS, participou pela primeira vez do Oráculo e já saiu na dianteira:

“Gostaria de lhe agradecer pela oportunidade, agradecer a aqueles que ainda suportam ir ao cinema comigo e, claro, agradecer a todos que tornam o cinema algo possível. Desde os 9 anos lembro de ir atrás de informações relacionadas ao cinema, principalmente comprando revistas relacionadas ao assunto. As idas à locadora e ao cinema tornaram-se frequentes e comecei a fazer uma lista com todos filmes que assistia (e até hoje não deixei de marcar). Aos poucos, já não havia mais lançamentos para alugar e comecei a ir atrás do cinema de verdade. Foi aí que descobri diretores como Hitchcock (meu favorito). Assim, o cinema tornou-se indispensável.  Não lembro exatamente a partir de que ano comecei a acompanhar o Oscar, mas lembro perfeitamente de Chicago ganhando como melhor filme (e tenho que admitir, não considero uma injustiça como a maioria acredita ser). Quanto ao Oscar desse ano, a maior surpresa da noite para mim foi montagem para Millenium. Uma mistura de satisfação (por ser realmente o filme merecedor do prêmio, e, na verdade, merecia uma indicação para melhor filme) e tristeza (por ser um ponto a menos nas apostas). Foi difícil conciliar favoritos com as apostas na hora da torcida, mas, fiquei satisfeito principalmente com roteiro para Meia-Noite em Paris, Rango como animação e os prêmios para Hugo.”

 Lucas Mateus, 27 anos, é pedagogo em Natal, RN e não perde uma premiação desde que Steven Spielberg ganhou com A Lista de Schindler:

É uma honra poder ter superado tanta gente boa no Oráculo do Oscar 2012. Acompanho a festa do Oscar desde criança, nos tempos em que Steven Spielberg ganhara seu tão aguardado prêmio de Diretor em 1994 por Schindler’s List. Desde então, não tenho perdido uma premiação, sempre testemunhando as vitórias e as injustiças que fazem parte do espetáculo. Acredito que o cinema seja a forma de arte que melhor retrata uma era da sociedade e o Oscar expõe, de alguma maneira, essas transformações que nós protagonizamos de tempos em tempos.”

Rafael Melo Feitosa, 23 anos, é carioca e blogueiro:

“É clichê, mas palavras não podem definir a minha relação com o cinema. É algo extremamente sensorial e que existe desde que me entendo por gente. O Oscar tem, para mim, a importância de uma Copa do Mundo. Sinto-me envolvido como se fizesse parte da indústria cinematográfica… torço, vibro, reclamo, discordo. Meu obrigado: à minha mãe por ter me apresentado ao Oscar quando eu tinha 7 anos; aos cineastas brilhantes que mantêm sempre acesa a minha paixão pelo cinema; e àqueles que disponiblizam os filmes na Internet, que fazem com que a cultura não tenha mais barreiras e que nos possibilitam assistir a todos os indicados. E, claro, muito obrigado à Ana Maria Bahiana por nos propiciar essa promoção espetacular com prêmios maravilhosos.


As perguntas e reflexões do Oscar da saudade
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Ana Maria Bahiana

Billy Crystal e o palco art deco do Oscar 2012...

..e uma das inspirações.

Hoje (segunda feira) Los Angeles amanheceu nublada e chuvosa. A frente fria, estacionada sobre o Pacífico, devia estar esperando o ok da Academia para só se instalar sobre a cidade depois dos Oscars (como reza a escrita aqui, o jabá dos produtores com os deuses do clima é poderoso).

O que se fala na cidade depois de um Oscar previsível:

 

A perna de Angelina Jolie, o bico do seio de Jennifer Lopez (que teria saltado do seu profundo decote e levado àquela apresentação inusitada, centrada na derriere…)

Como foi sem graça a pegadinha de Sacha Baron Cohen jogando as “cinzas de Kim Jong Ill” em Ryan Seacrest.

Com oito indicações convertidas em estatuetas os Weinsteins estão de volta mesmo. Conseguiram vender o peixe de um filme mudo e preto e branco, francês e com atores desconhecidos. E quebrar o encanto das 17 indicações infrutíferas de Meryl Streep. (O inferno não tem fúria como uma mulher desprezada, já dizia Shakespeare. Não subestimem a frustração de Meryl com estes anos todos na plateia, que alimentou, e muito, a arrancada de divulgação das duas semanas anteriores ao Oscar.)

Os discursos de Meryl e de Christopher Plummer, classudos, levando a sério o trabalho mas não a si mesmos;  a delicadeza de Meryl com o marido Don Gummer e o fiel colaborador J. Roy Helland, seu maquiador desde A Escolha de Sofia.

Lição de casa para a Academia: repensar, reimaginar, re-energizar a festa. O evento não foi exatamente um espetáculo de dinamismo e inovação (montagens demais, muitas gracinhas sem graça, clima “velho”) mas pelo menos a audiência melhorou um tiquinho, comparada com 2011 (mas piorar ia mesmo ser muito difícil). Mas o Oscar 2012 ainda está abaixo do indice de 2010 e, apesar da piadinha com Justin Bieber na montagem de abertura, perdeu ainda mais a cobiçada fatia entre 18 e 24 anos. Em termos de eventos de prêmios, os Grammys ainda são o melhor show e a melhor audiência – mas tem a seu favor o próprio material que premiam, a música, bem mais fácil de se traduzir em espetáculo. Entre a segurança do evento deste domingo (que, vocês se lembram, foi organizado às pressas depois de crises e demissões de seus cabeças originais, o produtor Brett Ratner e o apresentador Eddie Murphy) e a novidade-pela-novidade de 2011, há espaço para muita coisa. Dois apresentadores, aliás, pareciam estar fazendo teste para um convite ano que vem: Emma Stone e Chris “a fim de voltar” Rock.

Aliás: os atores especializados em dublar animação estão furiosos com Chris e seu discurso “dublar animação é moleza”.

Como esta é uma industria de redundâncias não esperem muitos filmes preto e branco e mudos (em 3D?) no futuro imediato, mas o tema “era de ouro do cinema” não vai morrer tão cedo.

Jean Dujardin, o beijoqueiro, entre o Oscar...

..e a esposa, no Governors' Ball.

O que todo mundo quer saber: o que tantos “primeiros” (França, melhor filme, ator e tudo mais; Irã, melhor filme estrangeiro; Paquistão, melhor longa documentário) vão fazer agora, depois de suas vitórias históricas. Não esperem ver Asghar Farhadi batendo em portas em Century City (onde ficam as grandes agências da cidade) : seu compromisso com o cinema iraniano é firme, comprovado por suas declarações nos bastidores (“Minha vitória não é uma mensagem para o povo do Irã além do fato de que continuo acreditando que a cultura é o que o mundo mais deve cuidar e produzir. Se pudermos nos ver uns aos outros pelo prisma da cultura, vamos nos ver melhor, mais nitidamente.”) Saving Face, o curta documentário do Paquistão, vai ao ar pela HBO em março, e esperem ver sua diretora Sharmeen Obaid-Chinoy em outros projetos não-ficção do canal. A dúvida maior é quanto a Jean Dujardin – que teve grandes dificuldades no início de sua carreira porque os diretores de elenco achavam seu visual “antiquado” – e Michel Hazanavicius – cujos filmes anteriores passaram em brancas nuvens pelo mercado internacional. As armadilhas desta cidade são muitas e tentadoras…

E no fim das contas o Oscar da saudade do que não foi vivido se resumiu a um grupo de franceses re-imaginando o que teria sido a primeira hora de Hollywood, e um diretor norte-americando sonhando com o que teria sido a primeira hora do cinema em seu berço francês…


Oscar 2012: os meus palpites
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Ana Maria Bahiana

Sábado 25 de fevereiro, Hollywood & Highland: tudo pronto

Enquanto vocês pensam em seus palpites, aqui vão os meus.

A questão, este ano, não é se O Artista vai ganhar _ é quantas das 10 indicações ele vai converter em estatueta. Meu palpite: no mínimo 5 _ filme, diretor, figurino, montagem, trilha.

Por que? Leiam os posts anteriores. E lembrem-se também de que este é um filme distribuído e divulgado pelos irmãos Weinstein, que não costumam ser derrotados, e cuja pressão por O Artista foi absolutamente esmagadora na última semana de votação (Jean Dujardin apareceu em TODOS os talk shows na TV americana, e fez até uma ponta no Saturday Night Live).

Levando tudo isso em conta, eis o que eu acho que vai acontecer, nas principais categorias (não incluí canção. É meio a meio, não tem graça.)

 FILME

Quem vai ganhar: O Artista

Quem pode ganhar: A invenção de Hugo Cabret

Quem eu gostaria que ganhasse: Os Descendentes

DIRETOR

Quem vai ganhar: Michel Hazanavicius

Quem pode ganhar: Martin Scorsese

Quem eu gostaria que ganhasse: Alexander Payne

 

ATRIZ

Quem vai ganhar: Viola Davis

Quem pode ganhar: Meryl Streep

Quem eu gostaria que ganhasse: Meryl Streep

ATOR

Quem vai ganhar: George Clooney

Quem pode ganhar: Jean Dujardin

Quem eu gostaria que ganhasse: George Clooney

ATRIZ COADJUVANTE

Quem vai ganhar: Octavia Spencer

Quem pode ganhar: Melissa McCarthy

Quem eu gostaria que ganhasse: Janet McTeer

ATOR COADJUVANTE

Quem vai ganhar: Christopher Plummer

Quem pode ganhar: Christopher Plummer

Quem eu gostaria que ganhasse: Nick Nolte

FILME ESTRANGEIRO

Quem vai ganhar: A Separação

Quem pode ganhar: In Darkness

Quem eu gostaria que ganhasse: A Separação

LONGA DE ANIMAÇÃO

Quem vai ganhar: Rango

Quem pode ganhar: Rango

Quem eu gostaria que ganhasse: Rango

ROTEIRO ORIGINAL

Quem vai ganhar: Meia Noite em Paris

Quem pode ganhar: O Artista

Quem eu gostaria que ganhasse: Meia Noite em Paris

ROTEIRO ADAPTADO

Quem vai ganhar: Os Descendentes

Quem pode ganhar: Tudo Pelo Poder

Quem eu gostaria que ganhasse: Os Descendentes

FOTOGRAFIA

Quem vai ganhar: Árvore da Vida

Quem pode ganhar: O Artista

Quem eu gostaria que ganhasse: Árvore da Vida

TRILHA

Quem vai ganhar: O Artista

Quem pode ganhar: O Artista

Quem eu gostaria que ganhasse: A Invenção de Hugo Cabret

MONTAGEM

Quem vai ganhar: O Artista

Quem pode ganhar: O Artista

Quem eu gostaria que ganhasse: Milênio: Os Homens Que Não Amavam as Mulheres

EFEITOS VISUAIS

Quem vai ganhar: A Invenção de Hugo Cabret

Quem pode ganhar: Harry Potter e as Reliquias da Morte parte 2

Quem eu gostaria que ganhasse: Planeta dos Macacos- A Origem

DIREÇÃO DE ARTE

Quem vai ganhar: A Invenção de Hugo Cabret

Quem pode ganhar: O Artista

Quem eu gostaria que ganhasse: Harry Potter e as Reliquias da Morte parte 2

 

A gente se vê no Hollywood & Highland ! (Peguem o metrô. O engarrafamento vai ser dose.)

Tags : Oscars