Blog da Ana Maria Bahiana

Arquivo : George RR Martin

Game of Thrones, terceira temporada: minha conversa com George R. R. Martin
Comentários Comente

Ana Maria Bahiana

Discretamente, quase imperceptível, uma figura corpulenta e barbuda se esgueira pelas laterais do bufê de brunch, ao ar livre nos jardins de um luxuoso hotel de Beverly Hills, e se instala numa mesa de canto com um café e um prato de ovos mexidos e frutas. À sua volta fotógrafos, divulgadores e executivos da HBO circulam em torno das estrelas da série Game of Thrones como formigas em volta de um torrão de açúcar. Em sua mesa sossegada, o homem barbudo sorri : “Este é o momento deles, está certo.”

Mas na verdade sem ele este momento não existiria: o convidado silencioso do dia de imprensa de Game of Thrones é seu criador George R.R. Martin, autor da série de livros As Crônicas de Gelo e Fogo que é a base da série vitoriosa da HBO e um dos seus roteiristas.

A calma em torno de sua mesa inspira uma boa conversa:

Embora seus livros sejam fantasia, eles tem muito em comum com fatos históricos, com a Europa medieval…

_Essa é a ideia. Adoro fantasia. Li todo Tolkien.  Mas também li muitos textos históricos e muita ficção histórica. Quando comecei a trabalhar nestes livros, anos atrás, meu objetivo era fundir as tradições da fantasia com as da ficção histórica, mantendo um clima mais realista, mais duro. E embora Westeros não exista, seja um país inventado, eu queria que tudo nele se passasse como na Idade Média real, e desse uma ideia clara do que era a vida diária nesse período. Porque acho que muito da literatura de fantasia não tem isso, é cheia de castelos e princesas, mas é a Idade Média da Disney.

O que está achando da série até agora?

_ Eu fico maravilhado quando vejo cada episódio da série. Eles estão realizando minha visão. É claro que há diferenças entre o que eu imaginei e coloquei na página e o que é possível realizar na série, mas isso é inevitável. O amor que David  e Dan (David Benioff e D.B. White, roteiristas, produtores e showrunners de Game of Thrones) têm pelos livros e sua dedicação em trazer a história para os espectadores mantém essa visão coesa. Eu compreendo perfeitamente o trabalho da adaptação, tenho essa vantagem porque trabalhei muitos anos em Hollywood. Durante dez anos, nos anos 80 e 90, eu trabalhei em séries de TV: Além da Imaginação, A Bela e a Fera, além de desenvolver meus próprios pilotos. Eu vi o processo pelo outro lado. Muitos autores que têm suas obras adaptadas para cinema ou TV não compreendem o processo, e por isso muitas vezes criam-se sentimentos negativos, animosidades. Minhas expectativas eram realistas, e por isso estou muito, muito feliz com o resultado.

Nesta temporada você escreveu o roteiro do episódio 7, The Bear and the Maiden Fair. Você gostaria de estar mais presente na produção da série?

_Um lado meu gostaria de estar ainda mais envolvido, mas ainda tenho dois livros enormes para terminar, para concluir a história, até 2015. Não ouso escrever mais que um roteiro por temporada.

Qual a sua visão desta terceira temporada?

_Esta temporada se ocupa de, digamos, dois terços do terceiro livro, A Tormenta de Espadas, que é onde resolvi várias coisas que eu vinha preparando desde o princípio. E onde, por causa disso, há alguns dos momentos que, eu sei, mais vão chocar e, possivelmente, enfurecer a plateia. Eu já passei por isso – quando o livro saiu, eu recebi uma chuva de emails de leitores dizendo que me odiavam, que tinham jogado o livro no lixo, que tinham queimado o livro… Eu mesmo confesso que passei muito tempo sem conseguir escrever esse capítulo. Pulei e escrevi o capítulo seguinte, até o final do livro, e depois voltei atrás e escrevi. Mas… não vou falar mais disso não porque muita gente que acompanha a série não leu os livros…

Você se ofende com esse tipo de reação?

_Não, pelo contrário. Quando eu escrevo eu estou emocionalmente investido nos personagens, e espero que meus leitores também estejam. Eu quero que os personagens sejam verdadeiros para meus leitores, que eles se preocupem com o destino deles. Essa reação é mais que natural _ é a que mostra que estou no caminho certo.

Qual é o seu personagem favorito?

_Tyrion. Na verdade, eu gosto de todos os meus personagens marginais, todos aqueles que não se enquadram na sociedade em que vivem. Tyrion, o anão. Jon, o bastardo. Danny, exilada, que perdeu tudo na vida. Arya, que age como um menino e não é considerada feminina. Brienne, que é enorme e forte e luta como um homem. Sam que é gordo e meio covarde. Eu sou muito atraído por esses personagens, pessoas que são desprezadas e precisam provar quem são e a que vieram. Para mim o heroísmo dessas pessoas é muito mais interessante do que o daqueles que ganharam tudo de bandeja.

Você está improvisando à medida em que escreve ou sabe quem vai ficar com o Trono de Ferro?

_Sei. De verdade. Mas é claro que não vou dizer. Posso dizer que muita gente vai ficar com o Trono de Ferro até o final da saga. E muita gente  vai passar pelo Trono de Ferro e morrer. Mas sim, alguém fica com o Trono de Ferro na última página do último livro, Um Sonho de Primavera. Espero que você goste. Nem todo mundo vai gostar….

 

 


< Anterior | Voltar à página inicial | Próximo>