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Vivendo no passado: meus 10 filmes favoritos de 2013
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Ana Maria Bahiana

Não posso começar este post sem antes pedir desculpas pelo meu sumiço – estou na reta final da criação de um novo livro, dessa vez para a Companhia das Letras, e, embora o trabalho seja fascinante e cheio de prazer, também é super complexo e exige todo o meu tempo e atenção.

De um modo muito interessante, contudo, o trabalho no livro deu forma, sem a menor dúvida, a este post. O livro é sobre o passado, sobre o ano de 1964. Mergulhar no passado, coisa que não faço a não ser a serviço, teve um resultado parecido como o que me aconteceu quando escrevia o Almanaque dos anos 70 : me fez entender muito melhor o presente, e refletir sobre o peso do passado na minha vida.

Não é por acaso, acho, que todos os filmes desta lista sejam, na verdade, sobre o passado: sobre como as coisas vividas, as emoções, desejos e crenças que trazemos conosco definem nossas escolhas, emoções, desejos e crenças, hoje. Sim, O Passado, de Asghar Farhadi, está lá. A permanência do filme comigo, enquanto escrevia o livro, me deu a pista de que eu estava envolvida com o tema de uma forma muito mais profunda do que eu imaginava.

Uma nota: não sei se esses são os melhores filmes do ano. Eles são os que mais falaram comigo, e isso é tudo o que me aventuro a dizer. Já tem muita lista de melhor isso e aquilo por aí afora. Esta é apenas uma escolha completamente pessoal – façam agora as listas de vocês!



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12 Years a Slave, Steve McQueen.  Com o olhar distanciado de alguém que não tem o peso da escravidão em sua narrativa familiar e o talento e a disciplina de um verdadeiro realizador, McQueen faz o filme mais visceral, brutal, lírico e importante sobre o tema. Perdôo até os dez minutos de Brad Pitt com cara de Jesus Cristo de santinho. 

Ela (Her), Spike Jonze. Estranho, romântico, mais que um pouco assustador, Jonze explora ao mesmo tempo nosso fetiche pela tecnologia e a insustentável leveza do ato de se apaixonar. Pontos extras para a direção de arte, alucinante.

A Grande Beleza (La Grande Belleza) , Paolo Sorrentino. Fazer o inventário da vida que se construiu enquanto fazíamos outros planos possivelmente só é lindo assim em Roma, com o olhar de Sorrentino. Pontos extras para uma das melhores utilizações de trilha sonora e musical que vi/ouvi este ano.

Gravidade (Gravity), Alfonso Cuarón. Se fosse apenas pela audácia técnica eu já estaria comovida, porque, nerd que sou, me comovo com essas coisas. Mas não é só isso: é a dimensão exata de uma vida humana, no colo do cosmos.

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The Wind Rises (Kaze tachinu), Hayao Miyazaki. O ato de voar, tema comum a toda  obra do mestre Miyazaki, transcende aqui a biografia de uma pessoa ou do que ela fez – o engenheiro Jiro Horikishi e as aeronaves que desenhou e que se tornaram algumas das mais eficazes armas bélicas do Japão na Segunda Guerra Mundial- para se tornar um gesto de pura poesia sobre o desejo de ir além de nossas limitações.

Nebraska , Alexander Payne. Os filhos que somos são também os pais que seremos amanhã : o ciclo da vida e as possibilidades da compaixão no microcosmo de uma família que talvez não seja muito diferente daquela onde Payne, nativo de Omaha, Nebraska, nasceu.

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O Lobo de Wall Street  (The Wolf of Wall Street), Martin Scorsese. Que bom ver Marty voltar ao seu habitat natural: sociedades fechadas de pessoas absolutamente sem bússola moral, em queda livre e gargalhando até o fundo do poço.

Alabama Monroe (The Broken Circle Breakdown), Felix Van Groeningen. Amor e perda num profundo e dilacerante musical onde cada canção impulsiona a história para sua inevitável estação final.

O Passado (Le Passé), Asghar Farhadi. Aula mestra de como contar uma história não com o complexo de divindade das fórmulas feitas mas com a complicada imperfeição da vida das pessoas.

Fruitvale, A Última Parada (Fruitvale Station), Ryan Coogler. Se todos os anos eu tiver um filme de diretor estreante dessa categoria, serei sempre uma pessoa otimista.


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