Blog da Ana Maria Bahiana

Arquivo : Birdman

Oscar 2015, além do palco
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Ana Maria Bahiana

Foi uma noite chuvosa, fria e longa, e , no final, a audiência caiu em 16% em comparação com o ano passado, quando a efeverscência de Ellen garantiu o pique da noite. Mas para quem ganhou (e não ganhou) a emoção continuou sem igual. O que você não viu…

Nos bastidores do Dolby:

 

 

No Governors’ Ball:


Palpitando o Oscar 2015: Boyhood X Birdman… e muito mais
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Ana Maria Bahiana

 

87th Oscars®, Thursday Set Ups

Enquanto escrevo isto aqui o trânsito já está fechado num vasto trecho do Hollywood Boulevard, os ensaios entraram pelo segundo dia e a polícia detonou um “veículo suspeito” que poderia ou não estar carregado com explosivos (não estava).

A votação se encerrou terça feira, e os contadores da Price Waterhouse são os únicos que sabem o que realmente vai acontecer domingo. Então… está valendo tudo agora, certo? Vamos lá.

  •  Ainda acredito que Birdman vai levar melhor filme, levando em conta o estado de espírito dos acadêmicos. Há uma teoria interessante de que, graças à polarização entre Birdman e Boyhood, dois azarões , Grande Hotel Budapeste e Whiplash tem chances, matematicamente, de levar o prêmio dos prêmios. Seria um susto e tanto, e uma emoção a mais numa festa que arrisca ser bem previsível. Os quatro são excelentes filmes e qualquer um deles me faria feliz. (Sabe o que me faz feliz, de todo modo? Ter cantado essa pedra do ano dominado por “B” lá bem, bem atrás…)
  •  Quem é certo: Patricia Arquette e J.K. Simmons como coadjuvantes, Julianne Moore para melhor atriz. Ainda acho que Eddie Redmayne leva melhor ator, mas não descarto de todo Michael Keaton, ainda mais ouvindo, cada vez mais, o quanto este ano os queridos votantes querem “compensar omissões do passado” e “reconhecer carreiras” (palavras de dois acadêmicos…). Há quem jure que Bradley Cooper leva. Eu espero que não seja verdade.
  •  Melhor diretor está tão polarizado quanto melhor filme. 50-50 entre Alejandro Iñarritu e Richard Linklater.
  •  Roteiro original vai para Grande Hotel Budapeste. Roteiro adaptado, para O Jogo da Imitação, o que é uma ironia e tanto, considerando que Graham Moore passou anos ouvindo “nãos” porque seu projeto era “comercialmente inviável”.
  •  Animação é uma briga entre Disney e Dreamworks: Big Hero 6 e Como Treinar Seu Dragão 2.
  •  Filme estrangeiro é praticamente uma disputa geopolítica no Leste Europeu: Ida x Leviathan. Pessoalmente, acho que Ida leva.
  •  Música? Aposto na trilha de A Teoria de Tudo, e na canção de Selma, “Glory”, seguida muito de perto por “I’m Not Gonna Miss You”, do documentário Glen Campbell: I’ll Be Me. Ambas, por razões emocionais, principalmente.
  •  Agora vem os técnicos, aqueles que, por admissão de muitos e muitos votantes, a maioria dos acadêmicos deixa em branco porque não tem noção em quem vai votar. Simples, então: quem venceu nos prêmios de seus sindicatos, leva. Boyhood e Grande Hotel Budapeste venceram no sindicato dos montadores (sou mais Boyhood, aqui). Birdman (Emmanuel Lubezki) venceu no sindicato dos diretores de fotografia. Caminhos da Floresta, Birdman e Grande Hotel Budapeste ganharam os prêmios dos figurinistas (sou mais Budapeste, aqui, assim como no prêmio para Direção de Arte). No som, Birdman compete com American Sniper. Efeitos especiais, são a grande chande de Interestelar  não sair do Dolby de mãos abanando– afinal a  Academia adora lembrar que tem “Ciências” no nome. Seu principal oponente? Planeta dos Macacos: O Confronto.
  •  No documentário longa há uma briga boa entre Citizen Four, o favorito – um relato dia a dia da odisseia de Edward Snowden, cheio de personagens brasileiros – e Virunga, sobre o parque do mesmo nome, na África Central, onde vivem os últimos gorilas. Virunga fez uma tremenda campanha nas últimas semanas, deflagrada sobretudo pelo nome de Leonardo DiCaprio, um de seus produtores.
  •  Nos curtas, os favoritos são: em animação o delicioso Feast, da Pixar (seguido de perto por The Dam Keeper); em documentário, Crisis Hotline:Veterans Press 1 (que pode capitalizar as simpatias de quem amou American Sniper); em ficção, Parvaneh (sobre uma refugiada afegã lidando com a burocracia suíça) e Boogaloo and Graham (sobre uma família na Irlanda do Norte, em plena era da crise civil) estão disputando meio a meio.

E o que mais? Divirtam-se! Sigam-me no Twitter! Bom domingo do Oscar para todos nós!


Porque Birdman é o favorito do Oscar 2015
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Ana Maria Bahiana

79th Academy Awards Rehearsals Fri

Sim, eu sei. A temporada de prêmios 2015 começou e eu sumi. Desculpem, foi mal. Muita coisa ao mesmo tempo, o que, é claro, me adoeceu brabo.

Então vamos tentar recuperar o tempo perdido.

Neste momento o que eu havia pressentido lá atrás, em setembro-outubro, está se confirmando. Como em quase todos os anos, a corrida tem dois líderes, com um correndo por fora e outros disputando categorias específicas. Este ano, os dois líderes tem um nome só, começam pela letra B e são independentes, de baixo orçamento, intensamente autorais e completamente pelo avesso do que a indústria (que é quem escolhe esta etapa final da premiação) vem praticando nos últimos dez anos: Boyhood, de Richard Linklater, e Birdman, de Alejandro Iñarritu. Correndo por fora vem o charmoso Grande Hotel Budapeste, de Wes Anderson, que também tem B no nome (os cabalistas devem estar se divertindo) e também é autoral, pessoal, de baixo orçamento e na contramão da indústria em tudo – inclusive no fato de ter sido rodado em película, o único assim na categoria “melhor fotografia”.

Depois da dupla vitória neste fim de semana, nos prêmios da Producers Guild e da Screen Actors Guild, acredito que a sorte está lançada para Birdman. Existe o fator matemático: praticamente todos os membros da PGA e da SAG são membros do corpo votante da Academia, os atores são o departamento mais numeroso entre os acadêmicos, e não vejo porque mudariam suas escolhas no Oscar (lembrando: na fase de indicação, são os departamentos e comissões que votam, com exceção de “melhor filme”, que todo mundo escolhe; na fase final, de premiação, todos os acadêmicos votam em todas as categorias.)

Mas existe também o fator psicológico. Esse é mais difícil de quantificar, mas é capaz de alterar ou confirmar o que a matemática aponta. E não adianta olhar para o passado e tentar fazer cálculos estatísticos : não foi indicado a isso, a estatística diz que não vai ganhar aquilo; x filmes desse tipo ganharam o Oscar, portanto o filme xx vai ganhar. Como não canso de dizer: um prêmio, qualquer prêmio, inclusive e principalmente o Oscar, é apenas a opinião de um grupo de pessoas num determinado momento. Sofre as influências do tempo, do momento, das crises, problemas, celebrações, preocupações que essas pessoas estejam enfrentando, individualmente e como uma comunidade.

Um elemento importante na hora de tentar pensar quem é a pedra da vez é um pêndulo que tem marcado as escolhas da Academia nos últimos 40 anos: a autocrítica de um lado e a autocelebração do outro.

Quando a Academia está feliz consigo mesma, e seus integrantes tem orgulho do que fizeram dentro da estrutura e dos recursos dos grandes estúdios, um filme “grande”, de orçamento vasto e muitas vezes pontilhado de estrelas, tem mais chances de ser o escolhido. Foi assim em 1979 com Kramer vs.Kramer, em 1982 com Gandhi, em 1989 com Conduzindo Miss Daisy, em 1993 com A Lista de Schindler, em 1994 com Forrest Gump, em 1997 com Titanic_ só para dar alguns exemplos.

Quando o pessoal está de farol baixo, trabalhando mas sem muito brio, jogando para cumprir o contrato mas secretamente invejando o povo que arrisca tudo para executar obras pessoais, autorais, com pontos de vista fortes, quem tem mais chances é o filme menor, financiado independentemente. Foi assim entre 1975 e 1978, quando a independente United Artists e, em 1978, a EMI Films, de breve vida, emplacaram vitórias seguidas, de Um Estranho no Ninho a O Franco Atirador. Foi assim em 1981 com Carruagens de Fogo (que nem americano era), em 1994 com Amadeus, em 1991 com O Silêncio dos Inocentes, em 1996 com O Paciente Inglês, e, a partir de 1998, quase todos, numa dança das cadeiras entre Miramax, DreamWorks, Fox Searchlight, Summit, Lionsgate, Weinstein Co e companhia.

Este ano, os dois principais competidores ( e até o terceiro correndo-por-fora) tem exatamente essas características: são obras impossíveis de serem dissociadas de seus criadores, realizadas com paixão e um ponto de vista claro, voltadas exclusivamente para a expressão de uma ideia, e não de merchandising, continuações, produtos ancilares, etc. São, em essência, o oposto de tudo o que está acontecendo na indústria, agora.

A infinita delicadeza e elegância de Boyhood, o modo como lembra aos colegas suas raízes num cinema mais humano, as paixões que eles talvez tiveram quando eram estudantes da arte, a ousadia em usar plenamente o tempo como um elemento narrativo são os trunfos que levaram o minúsculo filme de Linklater até agora. Mas quando, outro dia, eu ouvi um acadêmico dizendo que “não entendia como” o filme tinha sido indicado para melhor roteiro, e outro afirmando que era “um absurdo” que ele estivesse entre os nominados para melhor montagem eu comecei a desconfiar que apenas suas qualidades sutis não fossem o bastante para levá-lo até a reta final.

Birdman, por outro lado, tem o tipo de bravura fulgurante que enche os olhos até de quem é capaz de dizer as asneiras acima. O plano sequência fake! As meta referências! A trilha em solos de bateria! E ainda por cima é violentamente, passionalmente, ácidamente crítico do estado de coisas na indústria. Como resistir, num momento de depressão como este?

Neste momento, ponho minhas apostas em Birdman para levar o Oscar de melhor filme, e talvez mais alguns outros (fotografia? Roteiro original?). Talvez resolvam adotar a solução salomônica (herdada dos festivais, que usam o “prêmio do júri” para o mesmo fim) de presentear Linklater com melhor diretor, como consolação. Mas não consigo tirar da cabeça que Birdman é, agora, o filme que mais expressa o momento que esse povo todo tá vivendo. Pulando de prédios (com asas?) em um, dois…


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