Blog da Ana Maria Bahiana

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Metamorfose ambulante: o fim da novela e a nova revolução tecnológica do cinema
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Ana Maria Bahiana

Enquanto Rio lavava a bilheteria norte-americana e tornava-se o recordista do ano entre as estreias, algumas coisas muito interessantes anteciparam tendencias:

  • Exatamente no mesmo dia  em que a rede ABC cancelava suas novelas All My Children e One Life to Live a Univision anunciava planos para um canal de TV exclusivo para telenovelas en español. A ABC vai substituir as duas novelas por talk shows e realities, mantendo no ar apenas outra veterana do gênero, General Hospital, que vem estraçalhando corações desde 1970. No auge das soap operas, nos anos 1960, as grandes redes norte-americanas tinham 19 títulos no ar. Agora, com o cancelamento de All My Children e One Life to Live, apenas cinco sobrevivem.

E no entanto o mercado latino não quer saber de outra coisa. Para atender a demanda a Univision estréia, em julho, o canal Uninovela, servindo a população hispânica dos EUA – 50 milhões de pessoas, a minoria que mais cresce no país- com novelas 24 horas por dia, sete dias por semana.

Peter Jackson na casa de Bilbo

  • É fascinante ver como, no cinema, a tecnologia empurra a linguagem. Na encolha, há uma nova revolução a caminho: a imagem a 48 quadros por segundo, o dobro do que temos hoje. O impacto, diz a Variety, é o equivalente a “ som, cor e 3D” como marco da evolução do cinema: uma imagem espetacularmente realista, com imensa nitidez e detalhes, e que, garantem seus fãs, não cansa o olhar.  Captar a imagem em 48 quadros por segundo representa, nas palavras de James Cameron, “ completar o que o 3D já fez ao nos levar para dentro da narrativa. Deixamos de olhar a ação através de uma janela.”

Peter Jackson, que está filmando O Hobbit à velocidade de 48 por segundo, tem uma longa e detalhada explicação sobre como o 24 por segundo acabou sendo o default do cinema, e por que está na hora de um upgrade em regra. “Eu sei que os puristas vão reclamar da falta de distorções e refrações, mas toda a nossa equipe – que inclui muitos puristas- já se converteu”, ele diz. “Você se habitua rapidamente ao novo visual, é uma experiência muito mais realista e confortável.”

Pandora é aqui: o MBS Media Campus

 

Cameron, o outro apóstolo do 48 por segundo, já está com os estúdios de captação de desempenho prontos, aqui em Los Angeles: o MBS Media Campus, no subúrbio praieiro de Manhattan Beach. E, garante, Avatar 2 e 3 – rodados em sequencia para lançamento em dezembro de 2014 e 2015 – serão captados digitalmente a 48 ou 60 quadros por segundo.

Um pequeno problema: uma primeira pesquisa, encomendada pelo próprio Jackson, revelou que apenas 10 mil telas em todo mundo tem projetores capazes de exibir títulos captados acima de 24 quadros por segundo… “Mas tenho certeza de que os donos de cinema tem, agora, um grande incentivo para se atualizar…”, ele diz.

 


Minha conversa com James Cameron:”Se eu não fizesse cinema, seria um cientista”
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Ana Maria Bahiana

Vamos primeiro ao que mais interessa: Avatar 2 e 3 estão neste momento em pre-produção, para serem filmados em sequencia  e “completarem o arco da história, dentro do formato de uma trilogia.” E não, ele não vai filmar nenhum deles no Brasil – “os cenários são praticamente todos virtuais, vamos filmar num galpão qualquer” – mas quer levar integrantes do elenco e da equipe à Amazônia, para conhecer os kaiapó e “uma verdadeira questão de conflito ecológico “ – a construção da usina de Belo Monte, a que Cameron se opõe veementemente.

Além disso, Cameron está perfeitamente feliz com Santuário (Sanctum) o primeiro filme que ele assina como produtor desde o mega-sucesso de Avatar, e que estréia hoje (sexta dia 4) em todo o mundo. “O objetivo deste projeto não era criar algo novo em termos de tecnologia, mas mostrar que era possível fazer um espetáculo envolvente de ficção sem ter que gastar 300 milhões de dólares “, ele diz – bronzeado, em forma, tranquilo, tomando chá gelado numa tarde de fim de semana em Los Angeles. “Eu estava em pós-produção em Avatar enquanto eles filmavam Santuário, e tinha toda confiança na capacidade de Andy (Wight, produtor de Santuário e dos documentários de Cameron) e Alister (Grierson, diretor do filme) para resolver o que eu sabia que seriam tremendos problemas de realização de um projeto assim _ atores mergulhando, filmagens debaixo d’água, iluminação na água..”

Os 20 minutos de conversa rendem bastante:

O que você pode contar sobre Avatar 2 e 3?

_ São uma continuações naturais da história, modos de explorar completamente o universo de Pandora… e além. Eu tenho esse problema constantemente na minha carreira: eu invento uma coisa antes de ser capar de realizá-la. Aí tenho que correr para criar a tecnologia necessária para tornar real o que eu imaginei… Avatar foi o caso mais dramático, o projeto que eu vivia adiando porque a tecnologia ainda não existia. Agora este problema está resolvido: a equipe técnica está composta, a tecnologia foi testada e aprovada. Não vamos precisar gastar aquela fortuna para criar os personagens, e além disso todo mundo já fala na’vi… (ele ri)… Meu foco é continuar a história dos personagens de Zoe Saldana e Sam Worthington e, ao mesmo tempo, trazer novos personagens e novos ambientes em Pandora e além.

O projeto está em que etapa?

_ Estamos neste momento trabalhando com a equipe técnica criando novos softwares, aprimorando a sequência de produção. Estamos criando um novo estudio virtual que provavelmente estará completamente operacional em outubro ou novembro. Ainda estou trabalhando  nos roteiros e ainda não começamos o processo de design. Isso vai ser deslanchado logo a seguir, com o trabalho nas novas criaturas. A ideia é fazermos os dois filmes num único processo de produção, o que se convencionou chamar back-to-back.

Se você não fosse um homem de cinema, o que seria?

_ Um cientista, um engenheiro ou um explorador, provavelmente. Ou talvez um artista plástico, já que sei pintar e desenhar. Se eu pudesse ser todas essas coisas ao mesmo tempo, eu seria. O mais próximo que cheguei disso foi ser diretor de cinema…

Que outros diretores você admira?

_ Do passado, os pioneiros, dos anos 30 e 40, os que encararam e resolveram as primeiras questões do cinema. Os rebeldes dos 60 e 70, principalmente Coppola, que teve um impacto enorme em mim pela audácia, pela determinação de  seguir plenamente sua visão. Hoje tenho grande admiração por pessoas como Robert Rodriguez e Zack Snyder, que estão abordando o cinema com olhos novos e mudando rapidamente todas as regras. E visionários como Chris Nolan.

O que você tem a dizer sobre os comentários de Walter Murch sobre a ineficácia do 3D como ferramenta narrativa?

_ Respeito muito Walter mas ele está errado. Simplesmente errado. Pode ser que não funcione para ele, e quem sou para julgar o que ele sente ou não. Mas ele não pode estender essas conclusões para o público em geral.  O fato do 3D ter sido aceito tão maciçamente como foi não depende de mim ou do fato de que, como realizador, o 3D me interessa como modo de expressão. Os espectadores experimentaram, gostaram e adotaram. É um fenômeno impulsionado pelo mercado.

A câmera Fusion 3D Cameron/Pace em ação no tanque-set de Santuário

Mas existe 3D e 3D…

_ … e é o que venho dizendo desde sempre! E tem muito realizador teimoso que não quer escutar! Não adianta converter. Não adianta fazer 3D como uma ideia posterior ao filme, ah, vamos por um 3D aí para atrair mais público. O 3D tem que ser pensado como parte da narrativa, e parte da questão é _ esta é uma narrativa que pode se beneficiar do 3D?  É o mesmo problema trazido pela cor ao longo da história do cinema – meu filme é melhor em cor ou pb? Entre os meus favoritos estão duzias de filmes pb, assim como dezenas de filmes cor. Cada um é genial por seus proprios motivos. O público sabe. O público de hoje, principalmente o público que cresceu na era digital, com games, com animação digital, sabe o que é bom 3D, bem usado, e o que  é 3D vagabundo.

Obviamente você não acredita que o digital e o 3D vão matar o cinema como forma de expressão criativa e inteligente?

_ Desde que faço cinema eu ouço que o cinema vai morrer. Quando eu comecei, era o video cassete que ia matar o cinema. Mas sobrevivemos a ele, sobrevivemos ao DVD, sobrevivemos ao streaming, à pirataria, a tudo isso, e continuamos indo em frente. Há algo muito especial sobre ver cinema e não é apenas o aspecto comunitário, o fato de estarmos todos juntos numa sala escura compartilhando uma experiencia. O cinema oferece algo profundamemte humano que é a capacidade de nos perdermos numa narrativa e, dessa forma, reforçarmos o que é humano em nós.


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