Adeus, Robin Williams, palhaço, poeta, ator
Ana Maria Bahiana
Ana Maria Bahiana
Tags : Robin Williams
Ana Maria Bahiana
Foi dada a partida. Anotem aí:
Bom, não digam que não avisei. Pelo que tenho acompanhado (de longe) a safra brasileira está boa, este ano. Vamos nessa?
Tags : Globos de Ouro
Ana Maria Bahiana
Confesso: estava com dois pés atrás com Guardiões da Galáxia (Guardians of the Galaxy, dir. James Gunn, 2014) e admiti isso francamente lá no meu ask.fm. E tinha bons motivos:
Tendo dito tudo isto, evitei como pude as cabines oficiais e fui ver Guardiões como se deve – num cinemão de bairro lotado, com um balde de pipoca no colo e cercada pelo público-alvo por todos os lados. E adorei.
Alguns colegas apontaram – com razão – que Guardiões é um filme transnarrativa, ou meta-meta (termo que soa absolutamente pornográfico em nosso idioma, mas vá lá…). Ou seja, é um filme que prescinde de história, que se segura num fiapo de trama sem nenhum compromisso com fazer sentido ou apresentar grandes contornos dos personagens e seus dilemas. É um filme sobre uma experiência audio-visual. Quase, desculpem a blasfêmia, um Terrence Malick trincado depois de uma overdose de Red Bull. Certo, existe um elemento disparador – um globo misterioso perseguido por várias facções interplanetárias, cada qual com sua agenda – mas isso é o de menor importância. Estudiosos e fiéis do cânon Marvel – no qual a saga dos Guardiões é decididamente um evangelho menor- poderão discorrer longamente sobre Kree e Xandar, ou a diferença entre Ronan e Thanos (ou sobre a exatidão da peruca da Glenn Close como Nova Prime).
Para mim, e, pelo jeito, para quase todo mundo na sala de cinema superlotada, não fazia a menor diferença. O prazer do filme era seu ritmo exato, sua medida certa entre aventura e comédia, seu grupo de adoráveis anti-heróis no meio de tudo, a dinâmica de suas sequências de ação, a insistência em não se levar a sério, suas múltiplas referências pop, de Indiana Jones a Kevin Bacon, de Star Wars a O Segredo das Jóias, com pitadas de Flash Gordon, Jornada nas Estrelas e Os Eleitos. Tudo isso ao som da mais inesperada das trilhas – o mix tape de pop e rock dos anos 1970 e 1980 que nosso herói Peter Quill (Chris Pratt, perfeito) ouve insistentemente, referenciando um dos poucos pontos consistentes da história, sua ligação com a mãe, autora das fitas.
Quando, no tempo das canções dessas fitas, George Lucas e Steven Spielberg decidiram abraçar publicamente sua paixão pop, dando uma guinada numa geração criada à sombra da nouvelle vague e do neo-realismo, eles estavam pensando nos seriados de baixo orçamento que formaram o imaginário da geração de seus pais. Guardiões faz muito isso, pegando agora o fio de outras gerações – as criadas com os filmes de Spielberg e Lucas – e dando a ele o tratamento cinco-estrelas que os efeitos de hoje permitem. Não é a toa que o cinema estava cheio de famílias completas, mães e pais e avós e avôs levando seus filhos e netos e divertindo-se com eles, possivelmente por motivos diferentes, cada qual criando sua própria história e referências em cima da experiência de ver o filme. Meta-meta. A obra é a história.
Então, Jim, desculpe a desconfiança. Eu devia ter lembrado que você também escreveu o ótimo Madrugada dos Mortos (Dawn of the Dead, 2004) e dirigiu o estranho mas super interessante Seres Rastejantes (Slither, 2008). E qualquer filme que começa com “I’m Not In Love” já ganha meu coração logo na largada.