Blog da Ana Maria Bahiana

Arquivo : junho 2014

É a Copa das séries: qual será o próximo grande sucesso?
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Ana Maria Bahiana

 

leftovers
Enquanto a Copa arrebata corações por aí, aqui as apostas são em torno das novas séries _ o verão norte-americano é um excelente campo de provas para as séries estreantes dos canais pagos, um setor mais que aquecido.

Aqui vão algumas prévias para vocês:

The Leftovers (foto) HBO, estréia 29 de Junho. Carro chefe da HBO na ausência do mega-hit Game of Thrones (cuja quinta temporada está neste momento em filmagem),. Leftovers é uma adaptação do livro Os Deixados Para Trás, de Tom Perrotta (que a Intrínseca lançou no Brasil em 2012 ) com supervisão de Damon “Lost” Lindelof. Como toda a obra de Perrotta – que já vimos no cinema em Eleição, de Alexander Payne, e Pecados Íntimos, de Todd Field – Leftovers, o livro, tem um tom entre o drama e a sátira, com situações banais levadas até extremos que revelam o absurdo da “vida normal”. Aqui, no caso, o súbito e inexplicado desaparecimento de milhões de pessoas pelo mundo afora e o impacto do sumiço nas vidas dos que ficaram.

Depois de ver os quatro primeiros episódios da série, ainda estou esperando a sátira. Acho que, assim como os arrebatados, ela não vai aparecer tão cedo, provavelmente nunca. Tudo é muito sério na fictícia cidadezinha de Mapleton, o clima de tragédia pesando no ar, referenciando, o tempo todo, os atentados do 11 de setembro de 2001. Numa mudança importante do material original, o protagonista não é mais um poderoso homem de negócios, mas o chefe de polícia da cidade (Justin Theroux), às voltas com dramas coletivos e pessoais (a mulher que largou a família para juntar-se a uma das bizarras seitas que se multiplicam depois dos desaparecimentos, a filha que vive em estado de apatia crônica).

Talvez a série floresça na continuidade – há alguns momentos geniais, com um surrealismo perverso que flerta com possibilidades saborosas no futuro ( um deles envolve cachorros e uma corça, e mais não direi…)

 

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Halt and Catch Fire (AMC, estréia dia 1 de junho). Devemos nos preocupar com a AMC? O canal que durante alguns anos gloriosos teve no ar Breaking Bad e Mad Men agora tem TURN (que é muito bem acabada mas não consegue me pegar de jeito nenhum) e esta novidade criada por uma dupla experiente na TV – Christopher Cantwell e Christopher C. Rogers – que, tenho quase certeza, pitcheou a série como “Mad Men nos anos 80! No mundo da informática!”

Senão vejamos: temos um executivo jovem, ambicioso, brilhante e arrogante (Lee Pace, que é o “Elfo Malvado” da trilogia Hobbit); uma ainda mais jovem profissional de informática, também brilhante mas socialmente canhestra (a canadense Mackenzie Davis), ao léu num universo dominado por homens; e um engenheiro inseguro, que se sente dominado pelos colegas e pela mulher (Scoot McNairy, um dos diplomatas sitiados de Argo).

Parece familiar?

Troque a publicidade pela industria da informática engalfinhando-se para produzir a próxima grande novidade nos anos 1980 como o mundo-em-transe das aventuras desses três personagem e temos Halt and Catch Fire.

Os dois primeiros episódios não conseguiram me dizer absolutamente nada além da excelente trilha musical – sintetizadores! New wave! Pós punk! – e das impressionantes sobrancelhas de Lee Pace. Já o terceiro, que foi ao ar domingo passado, apontou para uma boa evolução possível – em grande parte porque subverteu um pouco a rigidez dos personagens, tornando o Joe de Lee Pace mais vulnerável e imprevisível, e o Gordon de Scoot McNairy um pouco mais complicado e manipulador. Como quase toda série, Halt ainda não consegue dar às personagens femininas a complexidade que merecem, e isso é um dos seus grandes problemas.

Os diretores são do primeiro time – Juan José Campanella, Jon Amiel e Karyn Kusama, entre outros – e a a narrativa visual mostra com precisão tanto talento. E a trilha continua excepcional.

No próximo post: Outlander e The Knick.


Guerra nas pipocas: a TV e as mulheres estão ganhando…
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Ana Maria Bahiana

game-of-thrones-season-4-episode-9-the-watchers-on-the-wall-wildlings-hboMinha vontade esta semana era escrever exclusivamente sobre Game of Thrones, sobre como esta quarta temporada está  elevando ainda mais o nível já alto da série . E como Neil Marshall, que já havia botado pra quebrar na batalha do Blackwater, na  segunda temporada, definitivamente colocou a televisão num nível antes povoado apenas por gigantes como David Lean, William Wyler , John Ford. Porque dirigiu Watchers on the Wall como antes se dirigiam os grandes filmes de combate, tendo a petulância de incluir este plano sequência (que já vais er devidamente anexado ao meu curso…) Nessa hora é  bom lembrar  que Neil Marshall assinou alguns dos meus filmes de ação/terror favoritos dos últimos anos: Dog Soldiers, Abismo do Medo, Centurion. Tudo explicado: o bom cinemão está mesmo indo para a TV. Mas existem outros assuntos palpitantes aqui na cidade do outro lado do continente – e da Copa. Por exemplo:  edge-of-tomorrow-trailer-2

 

O que fazer com Tom Cruise? A vida é não é fácil quando um jovem mega-astro  passa dos 50 anos deixando para trás uma carreira muito mais de estrela do que de ator. Cruise é um dos nossos últimos, senão o último, puro “astro de Hollywood”. Sua glória se baseia não em como intrepreta seus papéis mas em como os papéis se transformam nele, Tom Cruise. Seus anos de esplendor estão entre Negócio Arriscado e Guerra dos Mundos, com um apogeu ali entre Top Gun e Magnolia, com um Kubrick ensanduichado no meio. Tempos mudaram, plateias mudaram ainda mais e, agora, No Limite do Amanhã tomou uma surra na bilheteria norte-americana, apesar dos elogios da crítica (merecidos – é um filme muito mais inteligente do que precisa). A bem da verdade a Warner, que é um verdadeiro rolo-compressor no marketing e distribuição, foi, digamos assim, super discreta e contida no lançamento de Limite do Amanhã. O empurrão maior foi reservado para os mercados internacionais, onde o filme foi lançado antes da estréia norte americana (sentiram a pressão aí?) E onde está fazendo uma bela carreira, com mais de 82 milhões de dólares em caixa – indica um caminho possível:  os anos dourados de Cruise estão fora dos Estados Unidos. É um padrão comum a todos os grandes astros de ação dos anos 80 e 90. Será que algum dia Cruise se imaginou na mesma categoria que Schwarzenegger e Stallone? hazel gus on set

 

Quem está dominando as bilheterias? Quem deu surra em No Limite do Amanhã foi A Culpa é Das Estrelas, a própria antítese do filme de ação/sci-fi.  É a segunda vez  em duas semanas desta temporada-pipoca, em geral dominada por adolescentes masculinos e familias, que o público feminino dá as cartas : Malévola passou de longe Um Milhão de Maneiras de Pegar Na Pistola (não briguem comigo – foi esse o título que o filme de Seth MacFarlane ganhou no Brasil) ; e acho que a mesma coisa vai acontecer internacionalmente. O mito de que apenas rapazes entre 14 e 39 anos vão ao cinema em quantidades suficientes para alegrar os grandes estúdios não se sustenta mesmo.  Bastava olhar o último relatório da Motion Picture Association of America para o ano de 2013: 51% dos compradores de ingressos são mulheres; 52% das pessoas que vão ao cinema também são mulheres. Num recente seminário da indústria, aqui em LA, o workshop sobre “como atrair o público feminino” estava superlotado. Eu não fui mas tenho uma sugestão simples: contratem mais mulheres roteiristas, diretoras, produtoras. Opcionem mais obras onde mulheres são protagonistas. O “público feminino” não é um gueto – é metade do mundo. E parece que é a metade que está ganhando. 680x478

 

Por que O Destino de Júpiter foi chutado para 2015? Vamos voltar ao marketing da Warner? Porque a resposta está aí….  Duas palavras: Cloud. Atlas. Que custou 102 milhões de dólares e fez 29 milhões e trocados nos Estados Unidos e Canadá, sendo salvo, assim-assim, pelos mercados internacionais (olha eles aqui de novo…). E mesmo assim… Certo, o motivo oficial pode até ser mesmo a pós produção, os efeitos digitais, etc. Mas suspeito que a razão mais profunda é estratégica: 18 de julho, a data original, é o filé da temporada-pipoca, super competitiva, onde um passo em falso é muito mais fatal do que os tranquilos idos de fevereiro de 2015, época morninha, sem grandes expectativas, sem a necessidade de uma campanha maciça ( e caríssima) de marketing . Coisa semelhante aconteceu com a Sony e Caçadores de Obras Primas – só que da temporada-ouro para o mesmo banho-maria do começo do ano. Em outras palavras: os executivos de distribuição e marketing deram uma boa olhada no filme e tiveram aquele proverbial frio na barriga, Que não era de emoção. E ,pra terminar, um lembrete: Penny Dreadful está chegando ao Brasil em julho, pela HBO (aqui, a série é da arqui rival Showtime). Não perca. Principalmente se você é fã de terror old school, com inclinações góticas. E gosta de coisas muito bem escritas.


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