Blog da Ana Maria Bahiana

Arquivo : março 2014

Na estrada, de volta a 1964
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Ana Maria Bahiana

Almanaque 1964.jpg

Mais uma vez, começo pedindo desculpas pelo sumiço. Emendei a finalização do meu novo livro com a temporada de prêmios e, finalmente, com uma viagem ao Brasil – onde estou agora…

O livro, Almanaque 1964, saiu esta semana pela Companhia das Letras. Foi um trabalho super intenso que exigiu uma imersão completa no mundo do ano que mudou tudo no Brasil.  E que, fora de nossas fronteiras, realmente inaugurou o que depois chamaríamos de “os anos sesssenta”: novas propostas, novos desafios, terremotos sociais, culturais, estéticos, políticos.

Estou bem orgulhosa do trabalho no Almanaque: foi quase um transe, uma viagem emocional para um tempo do qual tenho apenas memórias pessoais, fracionadas. O golpe de março, sim. Mas muito mais veio à tona: turmas de rua, mods e rockers; Beco das Garrafas, Rua Augusta, Arpoador; Beatles, Rolling Stones, The Who e a aurora da Swingin’London; Kubrick, Glauber, 007 e a cadelinha Baleia de Vidas Secas; monoquini, estampa mamãe dolores, Dener e concurso de fantasias de carnaval; lambretas, Aero Willis, trem bala; direitos civis,corrida espacial, guerra fria e a eclosão do movimento contra a guerra do Vietnã. E tanta coisa mais…

Aqui vai minha agenda de eventos do lançamento do Almanaque, por enquanto:

 Rio de Janeiro :

  • Sexta dia 28, Centro Cultural Banco do Brasil, 18 30, conversa com Arthur Dapieve sobre a cultura em 1964.
  • Quinta dia 3 de abril, livraria Travessa do Shopping Leblon, 19h, noite de autógrafos.

São Paulo:

  • Terça dia 1 de abril, livraria Cultura do Conjunto Nacional, 18h30, noite de autógrafos

Porto Alegre:

  • Quarta feira dia 9 de abril, Livraria Cultura, 19h, noite de autógrafos

Brasilia:

  • Sábado dia 12 de abril, evento na Bienal Brasil do Livro e da Literatura.

Além disso estou ministrando uma versão atualizada do curso Como Ver um Filme, incluindo séries de TV e as novas tecnologias digitais, em Porto Alegre:, dias 7 e 8 de abril. Mais informações e inscrições com a CenaUm.

Muito bom matar as saudades…Vejo vocês por aí!


O final de True Detective: mil e uma noites no sul da Louisianna
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Ana Maria Bahiana

True-detective-1x02-7 Minha primeira reação quando terminou o episódio final de True Detective foi: caramba, agora não dá pra ver mais nada hoje; todo o resto vai parecer….televisão. Depois eu fiquei com pena de todo mundo que, viciado em “televisão”, estava esperando mil truques e viradas e sustos. Pelas reações que vi no Twitter, tem muita gente assim. Dá dó mesmo. Porque  esta temporada de True Detective sempre foi sobre duas coisas, e duas coisas sempre: o poder da narrativa; e a narrativa de um lugar.

As pistas estavam na cara da gente o tempo todo, provocando, pedindo que a gente pensasse fora da caixa, pensasse não no que está acontecendo mas como e onde está acontecendo – e como esse artifício, tão antigo quanto a mente humana, ainda, mais uma vez, era capaz de nos manter presos à nossa capacidade de imaginar, que nem o Sultão ouvindo Sherazade nas Mil e Uma Noites. “Tudo foi sempre uma história, a mais antiga de todas”, Rust Cohle, o personagem de Mathew McConnaughey diz no diálogo que resume tudo. Quando Nic Pizzolato lançou a isca de Ambrose Bierce e seu  “Habitante de Carcosa”, que por sua vez leva ao Rei de Amarelo de Robert Chambers, que por sua vez leva a H. P. Lovecraft, o mito de Cthulhu e dezenas de outros escritores desenvolvendo histórias sobre histórias como níveis e mundos de um videogame a proposta ficou clara: este primeiro True Detective era sobretudo sobre contar histórias. A história de 1995. A história de 2002. A história de 2012. A história de Cohle, a história de Hart, a história que eles contam um ao outro, que eles contam aos detetives em 2012, que eles contam a si mesmos. A história que nós estamos vendo. E no fim, uma história muito antiga – a coragem necessária para entrar num labirinto sabendo, com certeza, que “no final há um monstro”. Uma história que por sua vez abraça uma história ainda mais antiga: bem, mal, luz, escuridão. Mas esta primeira safra de True Detective foi também sobre um lugar – o sul da Louisianna, onde Pizzolato cresceu, uma terra sempre à beira do caos, lentamente devorada por marés, tempestades e furacões, pontuada por ruínas e refinarias de petróleo, às vezes intocada e selvagem, às vezes poluída e contaminada, onde todos os opostos são possíveis, e convivem. Em True Detective a paisagem era um personagem, e sua história era uma das histórias mais poderosas da trama. Houve um tempo em que apenas o cinema – e o cinema de qualidade superior e grandes ambições – provocava esse tipo de reflexão, essa riqueza de ideias. Pizzolato e a HBO criaram um problemão para si mesmos: fazer uma segunda temporada desta série-antologia (nos moldes de American Horror Story) neste mesmo nível. E por favor indiquem para os Emmys todo mundo de True Detective – inclusive o notável time da montagem, que inclui o brasileiro Affonso Gonçalves, o mesmo de Beasts of The Southern Wild (que, se não foi uma das inspirações para a série… sei não…)


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