Blog da Ana Maria Bahiana

Analisando os Globos de Ouro 2014: quem realmente ganhou no domingo

Ana Maria Bahiana

Todo mundo (ou quase) sabe que torci feito uma louca (e votei em ) 12 Anos de Escravidão, O Lobo de Wall Street,  Ela, Top of the Lake e Breaking Bad. E que não me conformo de jeito nenhum com a vitória daquele série boboca do Andy Samberg. Fora isso…. uma pequena análise da estratégia dos prêmios daqui para a frente.

 

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Se é verdade que os Globos de Ouro antecipam outros prêmios – principalmente os Oscars – então Trapaça, 12 Anos de Escravidão e Cate Blanchett já largaram na frente.  Mas, no fim das contas, essas sempre foram certezas nesta temporada-ouro.

Eu, pessoalmente, não tenho tanta certeza por um grande motivo: porque o corpo votante dos Globes é completamente diferente dos acadêmicos que escolhem o Oscar – ou os prêmios das Guildas, que tem a mesma composição demográfica. Mas esperem ver estes nomes, com certeza, entre os indicados a tudo, daqui para a frente. Esse, eu acredito, é o fator de peso dos Globos – definir o campo de disputa a cada ano, a cada nova safra.

Por essa lógica mesmo Gravidade, que despontou rapidamente como um favorito mas encolheu nas premiações dos Globos, reduzido a uma estatueta de Melhor Diretor para Alfonso Cuarón, ainda está absolutamente na disputa, assim como  12 Anos de Escravidão, que também é um pole do ano mas saiu da noite dos Globos com um único prêmio – se bem que o maior de todos, melhor filme/ drama.

Premiados de outras categorias, como Frozen (Globo de Ouro de melhor longa de animação) e A Grande Beleza (Globo de Ouro de melhor filme estrangeiro) também acabam de se tornar certezas absolutas entre futuras indicações.

É mais interesssante notar os filmes cujas órbitas estavam mais distantes do Sol dos prêmios, e que, agora, viram suas carreiras aquecidas graças aos Globos de Ouro.

A delicada, feliz e inusitada combinação de ficção científica e comédia romântica de Ela, que valeu a Spike Jonze o Globo de Ouro de melhor roteiro está, com certeza, mais visível agora, capaz até de superar dois obstáculos – a relutäncia em premiar os dois gêneros que compõem sua mistura, e o fato do desempenho vocal de Scarlett Johansson (excepcional) não ser elegível. (Nota importante: o primeiro elemento, a automática má-vontade com ficção científica dos outros prêmios, ainda pode pesar para Gravidade. Mas veremos…)

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Mas quem realmente disparou depois dos Globos de Ouro foi Clube de Compras Dallas, que saiu da noite com seus dois atores reconhecidos – Jared Leto como melhor ator coadjuvante e Matthew McConaughey como melhor ator/drama. Filme independente com uma longa e complicada trajetória de recusas e falsos começos, Clube de Compras Dallas ganhou, agora, a tração que precisa para ser incluído entre indicados.

A vitória de Leonardo DiCaprio por O Lobo de Wall Street, mais do que justa – especialmente depois de muitas outras grandes performances nos últimos 20 anos – pode ter menos peso na continuidade da temporada de prêmios.  O Oscar, por exemplo, ao contrário dos Globos de Ouro, tem apenas cinco vagas para atores e atrizes, e tende a priorizar os dramas. Poderá a vitória nos Globos de Ouro vencer a resistência dos votantes da indústria a uma farsa da dimensão de O Lobo de Wall Street, com todos os seus palavrões, drogas e excessos de todo tipo? Aí está uma trajetória interessante de acompanhar e que pode dizer muito a respeito de onde estão as cabeças de quem escolhe os outros prêmios da temporada.

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Entre os Globos de Ouro de televisão, a vitória inconteste de Breaking Bad – melhor série/drama, melhor ator/série/drama para Bryan Cranston– serviu de fecho de ouro à trajetória de um dos trabalhos mais importantes da tv contemporânea.

Mantendo seu tom de apoiar novidades, os Globos de Ouro distinguiram quatro estreantes que ainda não tiveram tração em outros prêmios: as minisséries Top of The Lake (melhor atriz/minissérie ou telefilme para Elisabeth Moss) e Dancing on the Edge (melhor atriz coadjuvante/ série, minissérie ou telefilme para Jacqueline Bisset, certamente o não-discurso de agradecimento mais eletrizante da noite…), e as séries Ray Donovan  (melhor ator coadjuvante/ série, minissérie ou telefilme para Jon Voight) e Brooklyn Nine-Nine (melhor série/comédia).

Vai ser interessante também ver o quanto estas escolhas irão ou não pesar nas futuras trajetórias dessas séries…