Blog da Ana Maria Bahiana

Arquivo : dezembro 2013

As mulheres, os mortos e os vivos: meus queridos da “TV” em 2013
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Ana Maria Bahiana

Este foi um ano espetacular para  aquilo que se chamava televisão e hoje se chama… humm.. ainda não descobriram como se chama, acho. De todo modo aqui vão 12 coisas que, na tela aqui da minha sala, mantiveram minha fé na narrativa audiovisual em qualquer plataforma…

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Breaking Bad – Porque é a perfeição e a suprema alegria para quem escreve e/ou ama a criação.

Les Revenants/The Returned – Porque oferece a primeira meditação profunda sobre a morte, a perda e a separação numa plataforma em que em geral essas coisas são vendidas a quilo, pelo valor do espetáculo.

The Bridge – Porque pela primeira vez que eu me lembre trouxe uma verdadeira história de fronteira, bilingue e bicultural, para dentro de nossas casas.

The Americans – Porque foi uma grata surpresa.

Top of the Lake – Porque abraçou o real e o surreal, o terrível e o belo, o absurdo e o lógico como eu não via desde Twin Peaks.

 Enlightened – Porque foi a série mais bem escrita e interpretada na qual poucos prestaram atenção.

 Game of Thrones– Porque tem uma ambição e uma competência que o cinema não tem mais.

 Girls – Porque eu já gostaria só porque é uma história de mulher, do ponto de vista de mulher. Mas ainda tem todas as complicações de uma geração sobrecarregada de informação e desprovida de expectativas. E por falar nisso…

 Orange is The New Black – Pelo mesmo motivo, mais uma dose de real compreensão da condição humana.

Arrested Development – Porque não perdeu nem um grama de seu delicioso absurdo. Talvez um grama. Não faz diferença.

 Mad Men – Porque continua ancorado num nível de qualidade que todo mundo tem que correr atrás.

 The Walking Dead – Porque me amarro num terror bem feito, e porque a temporada atual está voltando ao essencial da metáfora do apocalipse zumbi.

 

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E também: Drunk History, porque nunca ri tanto este ano; Time of Death, pelos mesmos motivos de Les Revenants, só que a vera; Behind the Candelabra, porque as complicações da paixão não tem rótulo; The Killing, por Peter Sarsgaard; Getting On, porque promete; Casting By, porque é um banquete pra quem gosta dos bastidores do cinema; e Hemlock Grove, porque era tão ruim que chegava a ser barroco.

Um 2014 cheio de boas histórias para todos nós!

 


Vivendo no passado: meus 10 filmes favoritos de 2013
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Ana Maria Bahiana

Não posso começar este post sem antes pedir desculpas pelo meu sumiço – estou na reta final da criação de um novo livro, dessa vez para a Companhia das Letras, e, embora o trabalho seja fascinante e cheio de prazer, também é super complexo e exige todo o meu tempo e atenção.

De um modo muito interessante, contudo, o trabalho no livro deu forma, sem a menor dúvida, a este post. O livro é sobre o passado, sobre o ano de 1964. Mergulhar no passado, coisa que não faço a não ser a serviço, teve um resultado parecido como o que me aconteceu quando escrevia o Almanaque dos anos 70 : me fez entender muito melhor o presente, e refletir sobre o peso do passado na minha vida.

Não é por acaso, acho, que todos os filmes desta lista sejam, na verdade, sobre o passado: sobre como as coisas vividas, as emoções, desejos e crenças que trazemos conosco definem nossas escolhas, emoções, desejos e crenças, hoje. Sim, O Passado, de Asghar Farhadi, está lá. A permanência do filme comigo, enquanto escrevia o livro, me deu a pista de que eu estava envolvida com o tema de uma forma muito mais profunda do que eu imaginava.

Uma nota: não sei se esses são os melhores filmes do ano. Eles são os que mais falaram comigo, e isso é tudo o que me aventuro a dizer. Já tem muita lista de melhor isso e aquilo por aí afora. Esta é apenas uma escolha completamente pessoal – façam agora as listas de vocês!



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12 Years a Slave, Steve McQueen.  Com o olhar distanciado de alguém que não tem o peso da escravidão em sua narrativa familiar e o talento e a disciplina de um verdadeiro realizador, McQueen faz o filme mais visceral, brutal, lírico e importante sobre o tema. Perdôo até os dez minutos de Brad Pitt com cara de Jesus Cristo de santinho. 

Ela (Her), Spike Jonze. Estranho, romântico, mais que um pouco assustador, Jonze explora ao mesmo tempo nosso fetiche pela tecnologia e a insustentável leveza do ato de se apaixonar. Pontos extras para a direção de arte, alucinante.

A Grande Beleza (La Grande Belleza) , Paolo Sorrentino. Fazer o inventário da vida que se construiu enquanto fazíamos outros planos possivelmente só é lindo assim em Roma, com o olhar de Sorrentino. Pontos extras para uma das melhores utilizações de trilha sonora e musical que vi/ouvi este ano.

Gravidade (Gravity), Alfonso Cuarón. Se fosse apenas pela audácia técnica eu já estaria comovida, porque, nerd que sou, me comovo com essas coisas. Mas não é só isso: é a dimensão exata de uma vida humana, no colo do cosmos.

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The Wind Rises (Kaze tachinu), Hayao Miyazaki. O ato de voar, tema comum a toda  obra do mestre Miyazaki, transcende aqui a biografia de uma pessoa ou do que ela fez – o engenheiro Jiro Horikishi e as aeronaves que desenhou e que se tornaram algumas das mais eficazes armas bélicas do Japão na Segunda Guerra Mundial- para se tornar um gesto de pura poesia sobre o desejo de ir além de nossas limitações.

Nebraska , Alexander Payne. Os filhos que somos são também os pais que seremos amanhã : o ciclo da vida e as possibilidades da compaixão no microcosmo de uma família que talvez não seja muito diferente daquela onde Payne, nativo de Omaha, Nebraska, nasceu.

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O Lobo de Wall Street  (The Wolf of Wall Street), Martin Scorsese. Que bom ver Marty voltar ao seu habitat natural: sociedades fechadas de pessoas absolutamente sem bússola moral, em queda livre e gargalhando até o fundo do poço.

Alabama Monroe (The Broken Circle Breakdown), Felix Van Groeningen. Amor e perda num profundo e dilacerante musical onde cada canção impulsiona a história para sua inevitável estação final.

O Passado (Le Passé), Asghar Farhadi. Aula mestra de como contar uma história não com o complexo de divindade das fórmulas feitas mas com a complicada imperfeição da vida das pessoas.

Fruitvale, A Última Parada (Fruitvale Station), Ryan Coogler. Se todos os anos eu tiver um filme de diretor estreante dessa categoria, serei sempre uma pessoa otimista.


O bom, o mau e o feio da indicações do Globo de Ouro
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Ana Maria Bahiana

 

Olivia Wilde anuncia os indicados ao Globo de Ouro 2014, hoje de manhã.

Olivia Wilde anuncia os indicados ao Globo de Ouro 2014, hoje de manhã.

Indicações Globos 2013: até que não demos vexame. Sempre espero uma escorregada tipo O Turista (ou coisa pior) porque meus colegas tem esses momentos de delírio quando vêem muita gente famosa junto. Mas este ano as escolhas tem uma coerencia que me agradou.

Vamos por etapas. Primeiro, o que mais me agradou:

  •  Ninguém caiu nas armadilhas de O Mordomo da Casa Branca ou A Vida Secreta de Walter Mitty, filmes bem intencionados mas que, de longe não estão entre os melhores desta safra.
  •  O reconhecimento de Rush e Daniel Bruhl. Ambos estavam nos meus votos, e gostei de ver os colegas compreendendo um filme que os americanos, suspeito, vão esnobar.
  •  As escolhas em filme estrangeiro. Quase todos os meus votos entraram, exceto um- o belga Alabama Monroe  (The Broken Circle Breakdown) que era minha quinta escolha. As opções este ano eram muitas e excelentes, uma safra muito forte de onde eu tiraria sem esforço 10 indicados – e onde senti muita falta do Brasil.
  •  A consistencia no reconhecimento dos dois filmes que definem a disputa este ano: Gravidade e 12 Years A Slave.
  •  Na TV, o reconhecimento a Liev Schreiber e Ray Donovan, uma série que os locais aparentemente detestaram, mas que é uma das minhas favoritas; e as indicações gerais a Breaking Bad (que, salvo algum susto, deve levar todas…)

Agora, o que surpreendeu/irritou/entristeceu:

  •  Como assim nenhuma menção a Fruitvale Station? Nem mesmo ao excelente trabalho de Michael B. Jordan no papel principal?
  •  All Is Lost é um tremendo feito de direção e roteiro (e fotografia, e montagem….). Mas só se lembraram do Robert Redford…
  •  American Hustle é Scorsese diet. É David O. Russell querendo ser Scorsese. Gostei dele, adorei sobretudo os atores, mas temos também o produto genuíno na parada – O Lobo de Wall Street. Como indicar Russell na categoria direção e esquecer Marty?
  •  E já que estamos na mesma categoria: cadê Spike Jonze? Se ele ficasse no lugar do Paul Greengrass eu ia ficar muito mais feliz…
  •  Great Gerwig? Seriously? Eu sei que Frances Ha tem fãs. Eu não estou entre eles: prefiro minha nouvelle vague no original. A moça foi muito simpática na entrevista conosco. Acho que ganhou a indicação ali.
  •  Admito que as opções na categoria animação não eram das melhores este ano, já que tiveram a insana ideia de retirar todos os longas de animação não-americanos e por em “filme estrangeiro”. Mas The Croods e Meu Malvado Favorito 2? Não.
  •  Aliás, quando recebi meu listão fiquei intrigadissima com as classificações de muitas filmes. Em qual planeta Álbum de Família é uma comédia, por exemplo?
  •  A divisão de TV, pra mim, foi quase um desastre. AINDA indicando Modern Family e The Good Wife? Só pode ser cacoete. Brooklyn Nine-Nine? Jura? Num ano em que tínhamos Enlightened e o desempenho divino de Laura Dern, completamente esquecidos, aliás? E Orange is The New Black, fenomenal, ousada, superbem escrita, com um elenco maravilhoso de mulheres, coisa tão rara neste indústria? Nem vou falar da gema perdida que tínhamos a chance de catapultar para o alto, Getting On, adaptação americana de uma cáustica, linda, série inglesa, feita pelo mesmos produtores de Enlightened. Será que comédia muito inteligente tá dando surto nos meus colegas?  E vamos continuar: nada de The Bridge ou The Americans? Ou Walking Dead, excelente nesta temporada? Ou Game of Thrones, que é tudo o que aquela pobreza de White Queen queria ser? Ah… vou parar por aqui pra pressão não subir…

Enfim… torcendo por bons e justos resultados dia 12 de janeiro. Estarei lá no salão captando tudo pra vocês…


Hollywood sem Paul Walker: chocada, triste
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Ana Maria Bahiana

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Tão cedo esta cidade não vai parar de falar sobre a morte estúpida de Paul Walker. Ontem à noite numa pré-pré estreia de O Lobo de Wall Sreet, na Paramount, o assunto não era nem Scorsese nem DiCaprio, apenas Paul Walker, Paul Walker, Paul Walker.

Há muitos motivos para isso: o inesperado da tragédia, ceifando uma vida de 40 anos e cortando uma carreira em ascensão; o cruel paralelo com os filmes que fizeram a fama de Walker, a franquia Velozes e Furiosos; a violência do acidente, acrescentando mais uma camada de lenda e luto a uma linhagem de tragédias sobre rodas que incluem James Dean, Jayne Mansfield e, mais recentemente, Ryan Dunn, da franquia Jackass.

Além de tudo isso, Walker era uma pessoa legitimamente querida no meio (não confundir com pessoas que todo mundo tem obrigação de gostar para manter uma carreira…) Como me lembrou um amigo produtor que trabalhara com ele nos dois primeiros Velozes e Furiosos, Walker era  pontual, super profissional , gentil com todos no set, e sempre disposto a ajudar os colegas. “Além de tudo, era um ser humano legal.”, me disse o produtor. “E um grande pai, o que poucas pessoas sabem.”

Walker tinha uma filha de 15 anos , Meadow Rain, com uma ex-namorada e os dois se viam muito, sempre. Meadow estava, inclusive, no evento beneficente organizado por Walker e seu amigo, sócio e companheiro de infortúnio, Roger Rodas, na oficina de carros ultra potentes Always Evolving.

A Polícia de Valencia, no vale de Santa Clarita, ao norte de Los Angeles, ainda está investigando as causas do acidente – e a identificação  dos corpos de Walker e Rodas, através da arcada dentária. Uma trilha de fluido deixada pelo Porsche Carrera GT 2005 nos meros dois quilômetros rodados da oficina até o local do desastre está levantando suspeitas de falha generalizada dos controles do veículo.

Um informante anônimo teria indicado à policia que Walker e Rodas estavam apostando corrida – um hobby ilegal e comum na região de Valencia, e mais uma nota de coincidência trágica com a carreira do ator. (Esta hipótese está sendo descartada pelos investigadores que agora estão focando na velocidade e nos possíveis problemas estruturais e mecânicos do Porsche).

 

Walker numa cena de Hours.

Walker numa cena de Hours.

Resta saber também o que será da franquia Velozes e Furiosos, uma das propriedades intelectuais mais valiosas da Universal, especialmente pelo enorme apelo que tem nos mercados internacionais. O sétimo filme da série estava sendo rodado quando Walker morreu – as filmagens estavam suspensas para o feriado do Dia de Ação de Graças e seriam retomadas em breve, em locação em Dubai.

Walker deixou dois filmes completos: Hours, sobre Nova Orleãs durante e depois do furacão Katrina, que será lançado aqui nos Estados Unidos, como previsto, semana que vem; e o policial Brick Mansions, produzido por Luc Besson e dirigido pela estreante Camille Delamarre, que tem estreia prevista para novembro de 2014.


Adeus, Paul Walker, cedo demais
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Ana Maria Bahiana

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Paul William Walker IV, 12 de setembro de 1973 – 30 de novembro de 2013

Tudo na vida é equilibrio, certo? Não quero nunca me esquecer disso. Que tudo é importante: o trabalho, certo, mas também a familia, os relacionamentos, coisas nas quais a gente acredita. Quero aprender a por minha energia igualmente em tudo.”

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