Blog da Ana Maria Bahiana

A Amazônia vira tendência em Hollywood …mais uma vez

Ana Maria Bahiana

 

Cena de The Green Inferno, de Eli Roth

Numa semana paradona aqui em LA, espremida entre o feriadão do Dia do Trabalho norte-americano e o Ano Novo judaico e com metade da cidade espalhada pelos festivais de Veneza e Toronto, uma notícia se destacou para mim: depois de muitos anos de idas e vindas, acelerações e desistências, o projeto de The Lost City of Z vai andar.

Brad Pitt, que, em 2008, opcionou junto com a Paramount os direitos do livro de David Grann (que por sua vez expandia sua sensacional matéria de 2005 para a revista New Yorker), será apenas o produtor. Em seu lugar, no papel principal, do explorador inglês Percy Fawcett, entra Benedict Cumberbatch, o ator mais solicitado do momento (só neste fim de ano ele poderá ser visto em O Quinto Poder, 12 Years a Slave e August:Osage County. Sem falar no Star Trek do primeiro semestre e a nova temporada de Sherlock, que vem por aí…). James Gray assume a direção.

Percy Fawcett….

… e Benedict Cumberbatch.

Tenho acompanhado esse projeto por dois motivos.  Um, porque acho a história de Fawcett fascinante :obcecado em descobrir uma cidade perdida na Amazônia, possivelmente o mesmo Eldorado que enlouqueceu tantos outros exploradores, Fawcett desapareceu na Amazônia em 1925, deixando um rastro de mistério e controvérsias que ainda não terminou.

Dois, porque é uma dessas raras histórias  que permite uma real colaboração entre o Brasil e o cinema internacional em bases mutuamente produtivas.

Ainda não se sabe como essa produção vai ser tocada em termos práticos. Com um bom roteiro e as mãos de um diretor sensível como James Gray, pode ser uma grande história sobre o eterno caso de paixão, ilusão e rejeição entre europeus e a força absoluta da Amazônia, que tão raramente é bem capturada pelo cinema, onde as coisas acabam ficando mais para Anaconda do que, digamos, o Aguirre de Werner Herzog.

 

''Canibais'' escolhem o lanche, em The Green Inferno

No outro extremo das minhas expecativas está The Green Inferno, de Eli Roth, que está em pré-estréia no festival de Toronto. Roth disse que sua principal inspiração foi o terror-trash/fake reality Holocausto Canibal (Ruggero Deodato, 1980), embora (palavras dele) “com o visual de um filme de Terrence Malick”.

Numa curiosa nota à parte, a produção exibiu Holocausto Canibal para a população do isolado vilarejo na Amazonia peruana que serviu de locação a Inferno. Segundo Roth, o pessoal local achou que era uma comédia divertidíssima.

Sendo Eli Roth, a história dos ativistas ecológicos que se embarafustam pela Amazonia adentro e acabam capturados por uma tribo de canibais já é mais ou menos previsível. O que achei interessante, aqui, foi a colaboração latino-americana em torno do projeto: o roteiro do uruguaio Guillermo Amoedo e do chileno Nicoláz López (responsáveis por Aftershock, que Roth estrelou e produziu) , as locações no Peru e no Chile. Um lugar onde, nas palavras de Roth “está havendo uma nova renascença no cinema, na música… é um dos lugares com mais energia, hoje.”