Blog da Ana Maria Bahiana

Porque o acordo Universal/Legendary faz sentido. E é um negócio da China.

Ana Maria Bahiana

Thomas Tull (esquerda) e Guillermo del Toro ontem no teatro Dolby. Sim, isso é um sorriso.

Thomas Tull, o CEO da Legendary, era todo sorrisos ontem na estreia de Pacific Rim no teatro Dolby, em Hollywood. Como empresa responsável, a Legendary está promovendo todos os projetos já realizados com sua futura ex-parceira, a Warner, até o fim do acordo entre os dois, em dezembro. Isso inclui especialmente o filme de Guillermo del Toro, cujas perspectivas não são muito boas, e também o reboot de Godzilla e a sequel de 300, que a Legendary estará promovendo na Comic Con, dentro de duas semanas.

De janeiro em diante, nova parceria, novos projetos . O acordo com a Universal – Legendary adquire propriedades, desenvolve e traz a maior parte do orçamento, Universal distribui mundialmente – é de cinco anos (dois a menos que seu arranjo anterior com a Warner) e faz sentido  por todos os ângulos. Vamos a eles:

–       A Universal não tem em sua carteira os filmes que são a especialidade da Legendary: propriedades intelectuais baseadas em jogos e hq, do tipo que rende franquia, viaja bem pelo mundo afora e gera uma infinidade de subprodutos. A Universal já está chamando esta nova linha de projetos “os filmes Legendary”, e eles incluem títulos baseados nos games World of Warcraft e Mass Effect, na hq Gravel e nos brinquedos Hot Wheels (alô Transformers!).

–       Múltiplas plataformas é coisa que a Universal pode oferecer, de sobra: parques temáticos,  forte distribuição internacional, uma cadeia de TV aberta (NBC) e canais por assinatura (USA, Bravo), e uma nave-mãe, a Comcast, líder na infra-estrutura digital.

–       A TV é claramente um atrativo importante para a Legendary – em maio o ex chefão de TV da Warner, Bruce Ronsemblum, se mudou de armas e bagagens para a Legendary, com o mandato de criar um departamento de projetos na mesma linha dos filmes, mas com aquilo que a TV traz de melhor – a garantia de acesso a uma plateia internacional, de forma rápida e econômica.

–       Além disso, a Universal tem uma administração estável e um acervo de outras propriedades intelectuais que podem interessar à Legendary – de clássicos de terror a Tubarão a ET.

–       O fato de Legendary e Universal serem complementares garante à empresa de Thomas Tull o que ela sempre quiz no seu tempo com a Warner: liberdade para escolher e desenvolver seus projetos. Em seu papel de distribuidor, a Universal dará palpites na hora da aprovação final, mas a Legendary tem uma capacidade muito maior de pensar e realizar seus projetos sem interferência de alguém como, por exemplo, Jeff Robinov, cujos choques constantes com Tull estão entre os motivos de sua saída do estúdio, em junho.

–       É um negócio da China, literalmente. A Legendary já tem um dos bens mais cobiçados da indústria: um acordo com o China Film Group, a produtora estatal da China, o mercado mais atraente para todos os grandes, médios e pequenos produtores.

Não chorem pela Warner, contudo. A administração Kevin Tsujihara está claramente pensando num tipo de abordagem onde cinema e TV estão mais próximos (ele vem de home entertainment). E além do acordo possível com a Dune/Bank of America (e Brett Ratner e seus amigos bilionários) a Warner sempre contará com os cofres genorosos e os ainda mais amplos recursos de produção da australiana Village Roadshow.