Blog da Ana Maria Bahiana

Histórias de soldados

Ana Maria Bahiana

Hoje, nos Estados Unidos, é Memorial Day, o começo não-oficial do verão por aqui e a data de lembrança e celebração de todos, mulheres, homens, cachorros e cavalos, que morreram em serviço e em combate.

A data me fez lembrar um punhado de bons filmes de guerra que vêem o conflito não pelo  ponto de vista de quem escreve a história – os líderes, generais, políticos, chefes de estado – mas de quem sofre com ela.

Estes são os meus favoritos, na ordem cronológica de nossas insanidades nos últimos cem anos.

    • Glória Feita de Sangue/Paths of Glory ; Stanley Kubrick, 1957. O olhar rigoroso de Kubrick sobre a fluidez moral em tempo de guerra, nas trincheiras da Primeira Guerra Mundial.
    • Nada de Novo no Front/ All Quiet on the Western Front; Lewis Milestone, 1930. O avassalador livro de Erich Maria Remarque levado à tela com paixão: como a retórica beligerante oculta o verdadeiro massacre da guerra, pelos olhos de um grupo de adolescentes alemães transformados em bucha de canhão na Primeira Guerra Mundial.
  • Gallipoli, Peter Weir, 1981. “ Mas o que nós temos com essa guerra?”, é a frase-tema que atravessa o filme, a jornada de dois caipiras dos cafundós da Austrália até a batalha de Gallipoli, na Turquia, em 1915. Co-estrelando: Mel Gibson aos 24 anos.
  • Além da Linha Vermelha/ The Thin Red Line , Terrence Malick, 1998.  Um grupo de pracinhas e um sargento desiludido da vida procuram o divino, o belo e o consolador nas ilhas dos Pacífico durante a Segunda Guerra Mundial. E que elenco!
  • O Resgate do Soldado Ryan/ Saving Private Ryan, Steven Spielberg, 1998. Para mim vale sobretudo por aquela extraordinária sequência de abertura, que finalmente realiza, para a plateia, o que realmente é estar na linha de fogo. E homenageia alguns dos mais valentes em tempos de guerra : os cinegrafistas e fotógrafos que, armados apenas com câmeras e uma farta dose de loucura, dão testemunho de nossa insanidade coletiva.
  • Das Boot, Wolfgang Petersen, 1981. O filme de submarino para dominar todos os filmes de submarino. A guerra silenciosa, claustrofóbica, opressiva, num submarino alemão durante a Segunda Guerra Mundial.
  • Cartas de Iwo Jima/ Letters from Iwo Jima, Clint Eastwood, 2006. Gosto imensamente do modo como Eastwood reverte seu olhar para abraçar e compreender o lado japonês da batalha que virou a mesa no front do Pacífico, em 1945.
  • M.A.S.H., Robert Altman, 1972. Uma guerra absurda – a da Coréia – olhada de um modo absurdo. Para rir com os dentes trincados.
  • Nascido para Matar/Full Metal Jacket, Stanley Kubrick, 1987. Trinta anos depois de Glória Feita de Sangue, Kubrick aplica sua rigorosa estética à guerra do Vietnã, adaptando a autobiografia de Gus Hasford, fuzileiro veterano da campanha, em dois atos de apavorante beleza: o campo de treinamento, a linha de frente.
  •  Apocalypse Now, Francis Ford Coppola, 1979. Para mim, o filme definitivo sobre a Guerra do Vietnã: Despachos do Front, do correspondente Michael Herr, e Coração das Trevas, de Joseph Conrad, colidem e confluem numa jornada épica.
  • Valsa com Bashir/Waltz With Bashir,  Ari Folman, 2008. O que fizemos no Líbano em 1982? se pergunta um veterano da campanha israelense. As respostas são tão impossíveis que apenas a sensacional fusão de técnicas de Folman dá a real dimensão da tragédia.
  • Soldado Anônimo/Jarhead, Sam Mendes, 2005. Outra guerra absurda – a invasão do Kuwait em 1990—vista exclusivamente pelos olhos dos soldados rasos que, mal saídos da escola, deparam-se com campos de petróleo em chamas e uma cultura que não compreendem.