Blog da Ana Maria Bahiana

Arquivo : março 2013

Game of Thrones, terceira temporada: hora da virada
Comentários Comente

Ana Maria Bahiana

Minha maior admiração por Game of Thrones, além da  pura ambição de produzir um projeto desta escala, é a exatidão como David Benioff e Daniel Weiss abraçam a vasta paisagem humana, política e social do universo criado por George R. R. Martin. Exatidão, neste caso, não quer dizer que cada um dos muitíssimos fios narrativos da saga As Crônicas de Gelo e Fogo estão presentes na série  -isso seria impossível – mas que todas as ideias fundamentais contidas na obra estão articuladas e expressas com todo o vigor que a imagem em movimento pode dar.

É a hora de repetir o mantra comigo: livro é livro, filme é filme. Ou, neste caso, TV – embora, sinceramente, Game of Thrones tenha todo o fôlego e amplidão de um filme épico, daqueles que nos velhos tempos seriam em Cinemascope 70 milímetros. Toda vez que as perucas da Daenerys ou a dicção exageradamente teatral de, digamos, Iain Glen como Jorah Mormont ou Aidan Glenn como Littlefinger me incomodam, eu me lembro da incrível complexidade do texto original e volto a me deixar levar pela série.

A terceira temporada de Game of Thrones ocupa-se de A Tormenta de Espadas, o mais longo e mais sangrento dos volumes já publicados das Crônicas. Se me lembro bem (estou relendo o livro agora), há pelo menos cinco momentos marcantes em Tormenta, grandes viradas na narrativa que envolvem sangue, fogo e, para quem não leu, surpresas daquelas que fazem a gente pular do sofá e gritar “nãããoooo”. Na verdade, David Benioff me confessou que durante as filmagens de um desses cinco momentos, atores, equipe e extras desataram a chorar. “E essas são pessoas que não choram muito, porque conhecem todos os truques e, sinceramente, tem mais o que fazer”, ele disse. “Mas foi um momento incrivelmente emocionante.”

Nem todo o livro estará lá – como GRRM disse (e Benioff confirmou), um terço de Tormenta ficou para quarta temporada, incrementado com elementos do livro seguinte, O Festim dos Corvos.

Ao ver os primeiros quatro episódios desta temporada, fiquei mais uma vez feliz com a precisão da narrativa, o modo como as “nove tramas em nove lugares” (palavras de Benioff) seguem firmes e claras, expondo as marés dos jogos políticos, dando tempo para as definições emocionais dos personagens. Logo no primeiro episódio há um sensacional encontro entre Tywin Lannister (Charles Dance) e Tyrion (Peter Dinklage, cada vez melhor, se isso é possível) que, imediatamente, estabelece a base sobre a qual todo o restante da temporada em King’s Landing vai se desenvolver. E a complicada relação entre Jaime Lannister (Nikolaj Coster-Waldau) e Brienne of Tarth (Gwendoline Christie), uma das mais fascinantes da história, para mim, tem o exato tempo de se firmar e transformar.

Uma das perguntas que eu me fazia era como a série ia utilizar esses cinco momentos – todos grandes rupturas da trama, absolutamente definidores de seus personagens – para balizar o ritmo da temporada. Ao ver o primeiro deles (um dos meus favoritos de todos os livros) encerrando o quarto episódio, posso ter certeza de que há uma bela e sólida estrutura ancorando o que pode ser a temporada mais complexa e, possivelmente, perturbadora da série.

A terceira temporada de Game of Thrones estreia hoje nos EUA e no Brasil.


Game of Thrones, terceira temporada: minha conversa com George R. R. Martin
Comentários Comente

Ana Maria Bahiana

Discretamente, quase imperceptível, uma figura corpulenta e barbuda se esgueira pelas laterais do bufê de brunch, ao ar livre nos jardins de um luxuoso hotel de Beverly Hills, e se instala numa mesa de canto com um café e um prato de ovos mexidos e frutas. À sua volta fotógrafos, divulgadores e executivos da HBO circulam em torno das estrelas da série Game of Thrones como formigas em volta de um torrão de açúcar. Em sua mesa sossegada, o homem barbudo sorri : “Este é o momento deles, está certo.”

Mas na verdade sem ele este momento não existiria: o convidado silencioso do dia de imprensa de Game of Thrones é seu criador George R.R. Martin, autor da série de livros As Crônicas de Gelo e Fogo que é a base da série vitoriosa da HBO e um dos seus roteiristas.

A calma em torno de sua mesa inspira uma boa conversa:

Embora seus livros sejam fantasia, eles tem muito em comum com fatos históricos, com a Europa medieval…

_Essa é a ideia. Adoro fantasia. Li todo Tolkien.  Mas também li muitos textos históricos e muita ficção histórica. Quando comecei a trabalhar nestes livros, anos atrás, meu objetivo era fundir as tradições da fantasia com as da ficção histórica, mantendo um clima mais realista, mais duro. E embora Westeros não exista, seja um país inventado, eu queria que tudo nele se passasse como na Idade Média real, e desse uma ideia clara do que era a vida diária nesse período. Porque acho que muito da literatura de fantasia não tem isso, é cheia de castelos e princesas, mas é a Idade Média da Disney.

O que está achando da série até agora?

_ Eu fico maravilhado quando vejo cada episódio da série. Eles estão realizando minha visão. É claro que há diferenças entre o que eu imaginei e coloquei na página e o que é possível realizar na série, mas isso é inevitável. O amor que David  e Dan (David Benioff e D.B. White, roteiristas, produtores e showrunners de Game of Thrones) têm pelos livros e sua dedicação em trazer a história para os espectadores mantém essa visão coesa. Eu compreendo perfeitamente o trabalho da adaptação, tenho essa vantagem porque trabalhei muitos anos em Hollywood. Durante dez anos, nos anos 80 e 90, eu trabalhei em séries de TV: Além da Imaginação, A Bela e a Fera, além de desenvolver meus próprios pilotos. Eu vi o processo pelo outro lado. Muitos autores que têm suas obras adaptadas para cinema ou TV não compreendem o processo, e por isso muitas vezes criam-se sentimentos negativos, animosidades. Minhas expectativas eram realistas, e por isso estou muito, muito feliz com o resultado.

Nesta temporada você escreveu o roteiro do episódio 7, The Bear and the Maiden Fair. Você gostaria de estar mais presente na produção da série?

_Um lado meu gostaria de estar ainda mais envolvido, mas ainda tenho dois livros enormes para terminar, para concluir a história, até 2015. Não ouso escrever mais que um roteiro por temporada.

Qual a sua visão desta terceira temporada?

_Esta temporada se ocupa de, digamos, dois terços do terceiro livro, A Tormenta de Espadas, que é onde resolvi várias coisas que eu vinha preparando desde o princípio. E onde, por causa disso, há alguns dos momentos que, eu sei, mais vão chocar e, possivelmente, enfurecer a plateia. Eu já passei por isso – quando o livro saiu, eu recebi uma chuva de emails de leitores dizendo que me odiavam, que tinham jogado o livro no lixo, que tinham queimado o livro… Eu mesmo confesso que passei muito tempo sem conseguir escrever esse capítulo. Pulei e escrevi o capítulo seguinte, até o final do livro, e depois voltei atrás e escrevi. Mas… não vou falar mais disso não porque muita gente que acompanha a série não leu os livros…

Você se ofende com esse tipo de reação?

_Não, pelo contrário. Quando eu escrevo eu estou emocionalmente investido nos personagens, e espero que meus leitores também estejam. Eu quero que os personagens sejam verdadeiros para meus leitores, que eles se preocupem com o destino deles. Essa reação é mais que natural _ é a que mostra que estou no caminho certo.

Qual é o seu personagem favorito?

_Tyrion. Na verdade, eu gosto de todos os meus personagens marginais, todos aqueles que não se enquadram na sociedade em que vivem. Tyrion, o anão. Jon, o bastardo. Danny, exilada, que perdeu tudo na vida. Arya, que age como um menino e não é considerada feminina. Brienne, que é enorme e forte e luta como um homem. Sam que é gordo e meio covarde. Eu sou muito atraído por esses personagens, pessoas que são desprezadas e precisam provar quem são e a que vieram. Para mim o heroísmo dessas pessoas é muito mais interessante do que o daqueles que ganharam tudo de bandeja.

Você está improvisando à medida em que escreve ou sabe quem vai ficar com o Trono de Ferro?

_Sei. De verdade. Mas é claro que não vou dizer. Posso dizer que muita gente vai ficar com o Trono de Ferro até o final da saga. E muita gente  vai passar pelo Trono de Ferro e morrer. Mas sim, alguém fica com o Trono de Ferro na última página do último livro, Um Sonho de Primavera. Espero que você goste. Nem todo mundo vai gostar….

 

 


Atualizem suas agendas: o calendário de prêmios 2014 já está fechado
Comentários Comente

Ana Maria Bahiana

Cedo demais? Parece que não_ a temporada de prêmios de 2014 já está com seu calendário completo. Ainda espero a confirmação final das datas dos Globos de Ouro mas, se nada mudar nos próximos meses, eis o que vocês já podem anotar nas suas agendas:

  • 12 de dezembro de 2013: Anúncio das indicações /Globos de Ouro
  • 27 de dezembro 2013 a 8 de janeiro 2014: Votação para os indicados ao Oscar
  • 12 de janeiro de 2014: Globos de Ouro
  • 16 de janeiro de 2014: Anúncio das indicações ao Oscar
  • 18 de janeiro de 2014: Prêmios SAG (atores)
  • 19 de janeiro de 2014: Prêmios PGA (produtores)
  • 25 de janeiro de 2014: Prêmios  DGA (diretores)
  • 1 de fevereiro de 2014: Prêmios da Writers’ Guild (roteiristas)
  • 14 a 25 de fevereiro de 2014: Prazo de votação final para o Oscar
  • 2 de março de 2014 : Oscars

É um calendário fora do comum, partido ao meio pelas Olimpíadas de Inverno de Sochi, na Rússia, entre 7 e 23 de fevereiro. E, também, um calendário que posiciona todos os prêmios como influências importantes para as escolhas dos Oscars…

 


Em breve numa tv ( ou computador,tablet, smartphone) perto de você: os irmãos Wachowski
Comentários Comente

Ana Maria Bahiana

Os irmãos Wachowski acabam de se unir à cada vez mais numerosa leva de realizadores que acharam nas telas domésticas multi-plataforma seu porto seguro: Lana e Andy Wachowski fecharam com a Netlflix a produção e distribuição de sua série de sci-fi, Sense8. Os irmãos uniram-se ao roteirista/produtor Joe Straczynski (Babylon 5) na criação dos 10 episódios sobre (nas palavras dos irmãos) “como a tecnologia ao mesmo tempo nos une e nos divide”..

O modelo da série-on-demand, feita para canais de streaming em várias plataformas está se afirmando cada vez mais como uma alternativa viável para a TV, oferecendo programação que apetece tanto aos criadores (que tem maior liberdade para criar) e aos espectadores (que ganham mais opções de conteúdo fora do que um canal poderia oferecer, por suas restrições de mercado). Somados às séries e telefilmes dos canais por assinatura, esta é uma massa de conteúdo inovadora que, não tenho dúvida, está preenchendo a imensa lacuna deixada pelo cinema, onde os independentes lutam contra obstáculos cada vez maiores, e os estúdios, como me disse um terno Armani, só pensam em “regurgitar suas franquias ou copiar as franquias dos concorrentes”.

Somente na Netflix teremos, mês que vem,  Hemlock Grove, criada por Eli Roth,  e, mais adiante, a terceira temporada de The Killing, a volta de Arrested Development e Derek, de Ricky Gervais. Seu principal competidor, Amazon Studios, está desenvolvendo uma série baseada no hit cult Zombieland. Amazon Studios tem seis outras séries de comédia em desenvolvimento, mais seis outras séries voltadas para o público infantil.

Scorsese com Leonardo diCaprio no set de Gangues de Nova York, em Cinecittá

E agora, na última hora: a Miramax e Martin Scorsese anunciam que estão desenvolvendo uma série baseada no filme Gangues de Nova York, de 2002. O projeto ainda não tem canal (ou plataforma on demand) exibidor, mas ninguém acredita que isso será um problema _ muito pelo contrário.  “Este é um período muito rico na história dos Estados Unidos, repleto de personagens e histórias que não caberiam num filme de duas horas”, Scorsese declarou. ” Uma série nos dá mais tempo e liberdade para mostrar este mundo complexo, e refletir sobreas implicações que ele teve e tem em nossa sociedade.”

Sense8 entra em produção em breve, para estreia no segundo semestre de 2014.Para Gangues, fiquem ligados _ mais notícias assim que eu souber.


Em 2014, Oscar em março
Comentários Comente

Ana Maria Bahiana

Lembram daquela conversa aqui, há pouco tempo, sobre o calendário de prêmios para 2014, complicado pelas Olimpíadas de Inverno? Uma coisa já se sabe: os Oscars serão em março mesmo. Exatamente: dia 2 de março.

O restante do calendário da Academia ficou assim:

  • Prêmios da diretoria (os Oscars especiais): 16 de novembro de 2013
  • Votação para os indicados: entre 27 de dezembro de 2013  e 8 de janeiro de 2014
  • Anúncio das indicações: 16 de janeiro de 2014
  • Prazo da votação final: entre 14 e 25 de fevereiro de 2014
  • Oscars 2014: 2 de março

Os Globos, até onde eu sei, continuarão firmes e fortes na sua data de sempre, o segundo domingo de Janeiro, ou seja, dia 12 de Janeiro de 2014. O que quer dizer que as indicações para os Globos serão anunciadas dia 12 de dezembro. E os prêmios da Directors Guild já tinham reservado o Hollywood & Highland para a sua festa,  dia 25 de janeiro (a outra data que a Academia considerou para o Oscar 2014). Em 2015 o Oscar volta ao seu período normal dos últimos anos : a festa será dia 25 de fevereiro.

Vai ser uma temporada muito competitiva. E longa. E o que vocês acham?


Phil Spector: o último tango em Alhambra
Comentários Comente

Ana Maria Bahiana

É muito dificil imaginar o que realmente David Mamet estava querendo dizer com Phil Spector, o telefilme que ele escreveu e dirigiu e que estreia neste domingo, dia 24, na HBO, aqui nos Estados Unidos. O release do canal sugere uma “meditação sobre a celebridade nos dias de hoje”, mas ainda não sei bem onde estaria essa reflexão.

Em 2003, quando a garçonete/aspirante a atriz Lana Clarkson apareceu morta, com um tiro na cabeça, na mansão de Spector, em Alhambra, um subúrbio de Los Angeles, estavam bem longe os dias em que seu nome significava poder absoluto, criador de estrelas, gigante da indústria musical. Phil Spector, o filme, ocupa-se não da vasta carreira de Spector como produtor e descobridor de talentos, viga mestra do pop dos anos 1960,  influência na sonoridade de dezenas de artistas e bandas de todas as décadas, mas nas semanas de setembro de 2007, data do seu primeiro julgamento pela morte de Clarkson.

É uma obra de câmara, bem ao gosto de Mamet _ os grandes momentos, os que visivelmente  lhe interessam como dramaturgo, são os longos encontros entre Spector (Al Pacino) e a advogada Linda Kenney Baden (Helen Mirren), do seu time de defesa. O líder do time, o advogado-estrela Bruce Cutler (Jeffrey Tambor) está arrancando os cabelos que não tem: todas as evidências apontam para a culpabilidade do seu cliente. Baden, trazida às pressas de Nova York, é despachada para a mansão de Spector, na esperança de arrancar da reclusa ex-celebridade algum elemento que possa levar a um veredicto a seu favor.

Quem se lembra do que aconteceu neste primeiro julgamento sabe por onde isso vai. Mas por todos os lados possíveis não é isso que importa. Phil Spector, como uma peça de drama jurídico, levanta tantas perguntas sobre o ponto de vista de Mamet… Ele quer dizer que celebridades merecem ser julgadas de forma diferente de não-celebridades? Que ter sido um genio, um monstro sagrado do pop, torna Spector imediatamente acima de qualquer suspeita? Que pobres-coitadas como Lana Clarkson – “o pesadelo de todo homem”, diz Spector/Pacino/Mamet – devem sempre ser as primeiras suspeitas de suas próprias mortes? (Harriet Ryan, que cobriu os dois julgamentos de Spector para o jornal Los Angeles Times, tem uma análise detalhada e precisa da ótica distorcida de Mamet.)

Colocando de lado esses poréns, Phil Spector me interessou mais como um estudo de personagem, um olhar (apoiado naquele diálogo maravilhoso de que Mamet é capaz) sobre duas personalidades completamente opostas que se encontram nas circunstâncias mais bizarras possíveis e acham alguma coisa, algum caminho, alguma fresta por onde se comunicar. Baden (muito mais elegante na interpretação de Mirren do que na vida real) é uma linha reta de determinação, senso prático, lógica. Spector (que Pacino ataca com todo o entusiasmo que tem para personagens fora do comum) é um ser frágil e enraivecido, movendo-se em raciocínios circulares, eternamente assombrado por seu passado, alimentado por fantasias, fantasmas, lembranças.

Mamet constroi uma espécie de coreografia entre os dois, uma dança na qual um tem que ceder algo para poder confiar no outro. E isso é o que vale no filme, como obra dramática, além de suas falhas como interpretação dos fatos.


Novo diretor para o filme de Natalie Portman
Comentários Comente

Ana Maria Bahiana

Gavin O’Connor vai assumir as rédeas de Jane Got a Gun, que ontem, no primeiro dia de filmagem, ficou subitamente sem diretor. Lynne Ramsey (Precisamos falar sobre Kevin), que desenvolveu o projeto ao longo de dois anos juntamente com o produtor Scott Steindorff simplesmente não apareceu no set no primeiro dia da produção, deixando equipe e elenco perplexos.

Sabe-se hoje que Ramsey e Steindorff vinham tendo brigas diárias a respeito de orçamento e administração do projeto. O clima pesado já havia afastado Michael Fassbender do filme, algumas semanas atrás. Brigas entre criativos e produtores são comuns. Até mesmo crises incontornáveis com diretores e atores fazem parte dos obstáculos de uma produção, e podem levar a adiamentos, re-estruturações, mudanças de equipe. Mas nem nem nem ninguém com quem eu conversei tem noticia de um diretor simplesmente não aparecendo no set por conta das famosas “divergências criativas”.

Ramsey ainda não contou seu lado da história, é claro. Mas enquanto isso Jane retoma as filmagens ainda esta semana. O’Connor é um diretor experiente, com tempo de serviço na TV e no cinema (dirigiu o maravilhoso piloto de The Americans) , e que chamou a atenção em 2011 com o excelente Warrior, que dava uma outra dimensão ao bom e velho filme de porrada. Joel Edgerton, protagonista de Warrior, foi quem trouxe O’Connor para o atribulado Jane Got a Gun, com o endosso completo da estrela Natalie Portman.

Mas o drama continua: Jude Law acaba de deixar o projeto. Seu contrato era vinculado ao de Ramsey — Law só participaria do filme se ela fosse a diretora.

A pergunta é: será que Gavin O’Connor e o produtor Scott Steindorff vão conseguir manter elenco e equipe unidos o bastante para que o projeto continue?

 


Apertem os cintos, a diretora sumiu
Comentários Comente

Ana Maria Bahiana

Lynne Ramsay

Estava tudo certo  hoje de manhã no set do western Jane Got a Gun, em Santa Fé, Novo México. Os 150 técnicos da equipe a postos, o elenco – Natalie Portman, Joel Edgerton, Jude Law, Rodrigo Santoro – de primeira, preparando-se para o primeiro dia de filmagem. Só faltava uma pessoa: a diretora.

E esperando ficaram todos porque a diretora, Lynne Ramsay (Precisamos Falar Sobre Kevin) não apareceu.

Enquanto escrevo isto, a cidade está agitada com boatos, teorias e fofocas. Uma semana atrás Michael Fassbender, que teria o principal papel masculino do western, anunciou subitamente sua saída, alegando conflito com as filmagens da nova aventura dos X Men (que na verdade só começa mes que vem, mas tudo bem, as duas filmagens iriam se sobrepor em algum momento). Joel Edgerton passou para o seu papel, com Jude Law ficando no papel que seria dele.

E hoje, isso. O produtor Scott Steindorff, que levantou os 15 milhões de dólares da produção independente, está muitos quilômetros além de simplesmente furioso, e já anunciou que entrará com uma ação legal contra Ramsay. Para não perder o prazo, a equipe e o elenco, vários diretores foram chamados para uma seleção às pressas, hoje ao longo do dia – em seu contrato Natalie Portman tem uma cláusula que lhe dá palavra final na escolha do diretor, e ela é sabidamente exigente.

O que aconteceu? O que está acontecendo? Este é um verdadeiro suspense hollywoodiano… Estou acompanhando…


Hollyworld: crise leva produção e efeitos para o mundo
Comentários Comente

Ana Maria Bahiana

O que a eleição para prefeito de Los Angeles e a comoção com o discurso interrompido do ganhador do Oscar por efeitos especiais tem em comum?

Numa cidade que, literalmente, vive de cinema e TV, tudo.

Os dois candidatos a prefeito, escolhidos num primeiro turno três semanas atrás —  Wendy Greuel e Eric Garcetti, ambos democratas  — vão disputar o cargo no segundo turno, em maio tendo como um dos pontos principais de suas campanhas suas iniciativas para deter a “produção em fuga”. “Nesta cidade, quando há um volume produção em  andamento, todo mundo ganha. Eu não estou na indústria, mas as compras na minha loja aumentam quando estão filmando aqui na rua”, disse uma eleitora numa entrevista de rádio, no dia do primeiro turno.

Somente entre 2004 e 2011, o município de Los Angeles perdeu mais de três bilhões de dólares em salários que teriam ido para equipes de cinema e TV se os projetos não tivessem sido relocados para outros estados e países, atraídos por incentivos fiscais e facilidades burocráticas.

O problema não vem de hoje – uma rápida pesquisa nos arquivos de Variety e Los Angeles Times revela matérias e declarações preocupadas já em meados da década de 1990. Mas a globalização, a expansão das comunicações e o desenvolvimento de infra estrutura em outros países, junto com a prática cada vez mais comum de grandes incentivos fiscais, está neste século, levando a produção norte americana de cinema e TV cada vez mais para longe de Los Angeles. Leste europeu, Austrália e Nova Zelândia, Irlanda, Canadá, Filipinas, Tailândia, Taiwan e África do Sul recebem hoje produções que, décadas atrás, seriam filmadas em locações ou estúdios do Sul da Califórnia. E outros estados– Carolina do Norte,  Novo México, Georgia, Michigan, Louisianna, Havaí, Alasca – oferecem incentivos fiscais tão ou mais apetitosos quanto esses países.

A crise financeira de 2008 acelerou ainda mais esse processo, e agregou outro elemento da produção a essa fuga: os efeitos especiais.

Quando, cinco anos atrás, o dinheiro sumiu e o público decidiu ficar em casa, os grandes estúdios – que são os grandes movimentadores de recursos, contribuindo com mais de 15 bilhões de dólares  por  ano em impostos federais e estaduais – apertaram o botão de pânico em duas frentes: uma, baixar ao máximo o custo de produção; duas, só investir no que pode dar certo, ou seja, filmes espetaculares para o público infanto-juvenil.

Só existe um modo de resolver essa equação: levando os efeitos especiais, que hoje podem representar mais de 40 por cento do orçamento de uma produção, pelos mesmos caminhos da filmagem, ou seja, para lugares onde o custo seja menor e haja incentivos fiscais.

Bill Westenhofer (à direita) , à frente do seu time, tenta agradecer a vitória por As Aventuras de Pi, no Oscar

“Os efeitos especiais estão vivendo um momento de enormes desafios”, diz Bill Westenhofer, um dos fundadores e CEO da Rhythm ‘n Hues, uma das mais antigas e respeitadas empresas de efeitos visuais de Los Angeles. Premiada com um Oscar pelos efeitos de As Aventuras de Pi, a Rhythm ‘n Hues tinha pedido concordata uma semana antes da festa, e, neste momento, tem sua sorte decidida nos tribunais.  “Temos que repensar nosso modelo de negócios”, Westenhofer continua. “Nossos artistas de efeitos visuais estão sofrendo, agora. A Rhythm ‘n Hues sempre foi uma empresa onde o profissional vinha em primeiro lugar, onde cada um era tratado como o artista que ele ou ela de fato é. Como manter isso sem se colocar numa crise financeira? Como não perder a qualidade quando os orçamentos que nos propõem são cada vez mais apertados?”

Westenhofer e seus sócios parecem ter encontrado a resposta: além de suas filiais na Malásia e na India (que não foram afetadas pelo processo de falência), estão planejando abrir uma nova empresa em Taiwan. Nada foi anunciado oficialmente ainda, mas neste último domingo, dia 17, um anúncio da Rhythm ‘n Hues  no jornal chinês China Post procurava candidatos para 200 vagas de técnicos e artistas de efeitos.

Teria sido por isso que Westenhofer foi tão brutalmente interrompido pelos temas de Tubarão e Bonanza, na noite do Oscar? Porque seu discurso de agradecimento nos Oscars estava rumando para um exposé do estado de coisas da indústria dos efeitos em Los Angeles? E concluindo que os dias em que Los Angeles era a capital por default da produção do cinema estavam terminando? E que isso não é coisa que se diga na noite em que a indústria está dando tapinhas nas próprias costas?

Não se iludam, contudo: o poderio financeiro e o know how ainda estão aqui. Mas o mundo está cada vez mais acessível e interessante, sustentado por mercados com apetite cada vez maior por produto audioviosual e com estrutura e mão de obra altamente competitivas. O que hoje se chama Hollywood migrou da costa leste para a California, um século atrás, exatamente por esse motivo. E, agora, vai mais além.


Paraíso perdido: Top of the Lake, a série-sensação da nova temporada
Comentários Comente

Ana Maria Bahiana

Nas primeiras imagens de Top of The Lake uma menina entra, de roupa e tudo, lago adentro. O lugar é lindo, alguns diriam mágico: altas montanhas, florestas, o lago coberto de neblina.  A determinação da menina, seu caminhar resoluto água adentro, até o queixo, é terrível, mais apavorante ainda porque não sabemos nada que nos ajude a entender a imagem serena, deliberada e assustadora que a diretora Jane Campion nos propõe.

Esta tensão entre o belo e o terrível é o próprio tema da minissérie do canal Sundance, que estreia hoje aqui nos Estados Unidos. Jane Campion, que criou a série e escreveu e dirigiu vários episódios, diz que sua inspiração para Top of the Lake foi exatamente o descompasso entre “nossos sonhos, nossas noções de paraíso, de um lugar perfeito longe das complicações da vida” e a realidade, “o despertar dos sonhos”. A pequena comunidade isolada às margens do lago, nos arredores de Queenstown, Nova Zelândia (que serviu de locação para as filmagens) tem todos os elementos do sonho – inclusive um recanto chamado, precisamente, Paradise – mas seu coração abriga todos os pesadelos que o ser humano é capaz  de imaginar e, portanto, fazer. O fato de Campion ter decidido levantar esses véus com precisão e calma ao longo dos sete episódios torna Top of the Lake absolutamente hipnótica.

A menina da primeira cena é o agente desse desnudamento, e para resolver seu caso – a crise que a levou a caminhar lago adentro, seu sumiço imediatamente depois – entra em cena Robin, uma experiente policial que nasceu e cresceu na comunidade, mas mudou-se para bem longe, para Sydney, na Australia, assim que pôde. O caso da menina desaparecida será um modo drástico de passar a limpo o passado que a impulsionou para fora deste paraíso, enfrentando seus fantasmas cara a cara, caminhando resolutamente, ela também, para dentro do lago da vida que deixou para trás mas que definiu a mulher que ela é.

Elisabeth Moss interpreta Robin com um leve sotaque entre o australiano e o neozelandês – “eu aprendi imitando a própria Jane”, ela me disse – e a mistura de força e fragilidade que todos os fãs de Mad Men conhecem bem (e que foi exatamente o que fez Jane Campion escolhe-la para o papel). “Foi assim que acabou a produção da quinta temporada (de Mad Men)”, Moss me contou. “Eu tinha feito teste para o papel mas achava que não tinha a menor chance.  Eu estava encantada com o projeto, eu sabia que conhecia Robin, eu compreendia a mulher que ela era, e estava animadíssima em trabalhar com Jane Campion.”

Como eu e como muitos espectadores, Elisabeth viu imediatamente um clima Twin Peaks em Top of the Lake, “algo difícil de explicar, um clima de mistério e de absurdo, mesmo”. Essa não foi a inspiração imediata de Campion – ela credita Deadwood, de David Milch, como sua referência para o clima de Top of the Lake – mas os elementos estão todos lá: o incrivelmente dramático que é subitamente interrompido pelo ridículo (há uma cena envolvendo Peter Mullan e uma xícara de chá que é absolutamente exemplar), o ritmo deliberado, que avança sempre em pequenos passos precisos, a estética em tons mudos, os personagens que não seguem clichês de previsibilidade – Holly Hunter como a líder de uma “comunidade terapêutica” à beira do lago é provavelmente a pior terapeuta na história da terapia, e o manda-chuva Peter Mullan, obcecado pela mãe morta e viajando de ácido entre as flores é exatamente o que não se veria num seriado americano sobre crime em cidades do interior.

Eu queria muito poder dizer que Top of the Lake tem data de estreia no Brasil, mas ainda não achei esta informação. Eis o que posso dizer: procurem essa minissérie, de todos os modos . E confirmem porque muito do melhor cinema de hoje não é cinema, é televisão…

Veja trailer estendido em inglês da série “Top of the Lake”