Blog da Ana Maria Bahiana

Arquivo : fevereiro 2012

As perguntas e reflexões do Oscar da saudade
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Ana Maria Bahiana

Billy Crystal e o palco art deco do Oscar 2012...

..e uma das inspirações.

Hoje (segunda feira) Los Angeles amanheceu nublada e chuvosa. A frente fria, estacionada sobre o Pacífico, devia estar esperando o ok da Academia para só se instalar sobre a cidade depois dos Oscars (como reza a escrita aqui, o jabá dos produtores com os deuses do clima é poderoso).

O que se fala na cidade depois de um Oscar previsível:

 

A perna de Angelina Jolie, o bico do seio de Jennifer Lopez (que teria saltado do seu profundo decote e levado àquela apresentação inusitada, centrada na derriere…)

Como foi sem graça a pegadinha de Sacha Baron Cohen jogando as “cinzas de Kim Jong Ill” em Ryan Seacrest.

Com oito indicações convertidas em estatuetas os Weinsteins estão de volta mesmo. Conseguiram vender o peixe de um filme mudo e preto e branco, francês e com atores desconhecidos. E quebrar o encanto das 17 indicações infrutíferas de Meryl Streep. (O inferno não tem fúria como uma mulher desprezada, já dizia Shakespeare. Não subestimem a frustração de Meryl com estes anos todos na plateia, que alimentou, e muito, a arrancada de divulgação das duas semanas anteriores ao Oscar.)

Os discursos de Meryl e de Christopher Plummer, classudos, levando a sério o trabalho mas não a si mesmos;  a delicadeza de Meryl com o marido Don Gummer e o fiel colaborador J. Roy Helland, seu maquiador desde A Escolha de Sofia.

Lição de casa para a Academia: repensar, reimaginar, re-energizar a festa. O evento não foi exatamente um espetáculo de dinamismo e inovação (montagens demais, muitas gracinhas sem graça, clima “velho”) mas pelo menos a audiência melhorou um tiquinho, comparada com 2011 (mas piorar ia mesmo ser muito difícil). Mas o Oscar 2012 ainda está abaixo do indice de 2010 e, apesar da piadinha com Justin Bieber na montagem de abertura, perdeu ainda mais a cobiçada fatia entre 18 e 24 anos. Em termos de eventos de prêmios, os Grammys ainda são o melhor show e a melhor audiência – mas tem a seu favor o próprio material que premiam, a música, bem mais fácil de se traduzir em espetáculo. Entre a segurança do evento deste domingo (que, vocês se lembram, foi organizado às pressas depois de crises e demissões de seus cabeças originais, o produtor Brett Ratner e o apresentador Eddie Murphy) e a novidade-pela-novidade de 2011, há espaço para muita coisa. Dois apresentadores, aliás, pareciam estar fazendo teste para um convite ano que vem: Emma Stone e Chris “a fim de voltar” Rock.

Aliás: os atores especializados em dublar animação estão furiosos com Chris e seu discurso “dublar animação é moleza”.

Como esta é uma industria de redundâncias não esperem muitos filmes preto e branco e mudos (em 3D?) no futuro imediato, mas o tema “era de ouro do cinema” não vai morrer tão cedo.

Jean Dujardin, o beijoqueiro, entre o Oscar...

..e a esposa, no Governors' Ball.

O que todo mundo quer saber: o que tantos “primeiros” (França, melhor filme, ator e tudo mais; Irã, melhor filme estrangeiro; Paquistão, melhor longa documentário) vão fazer agora, depois de suas vitórias históricas. Não esperem ver Asghar Farhadi batendo em portas em Century City (onde ficam as grandes agências da cidade) : seu compromisso com o cinema iraniano é firme, comprovado por suas declarações nos bastidores (“Minha vitória não é uma mensagem para o povo do Irã além do fato de que continuo acreditando que a cultura é o que o mundo mais deve cuidar e produzir. Se pudermos nos ver uns aos outros pelo prisma da cultura, vamos nos ver melhor, mais nitidamente.”) Saving Face, o curta documentário do Paquistão, vai ao ar pela HBO em março, e esperem ver sua diretora Sharmeen Obaid-Chinoy em outros projetos não-ficção do canal. A dúvida maior é quanto a Jean Dujardin – que teve grandes dificuldades no início de sua carreira porque os diretores de elenco achavam seu visual “antiquado” – e Michel Hazanavicius – cujos filmes anteriores passaram em brancas nuvens pelo mercado internacional. As armadilhas desta cidade são muitas e tentadoras…

E no fim das contas o Oscar da saudade do que não foi vivido se resumiu a um grupo de franceses re-imaginando o que teria sido a primeira hora de Hollywood, e um diretor norte-americando sonhando com o que teria sido a primeira hora do cinema em seu berço francês…


Oscar 2012: os meus palpites
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Ana Maria Bahiana

Sábado 25 de fevereiro, Hollywood & Highland: tudo pronto

Enquanto vocês pensam em seus palpites, aqui vão os meus.

A questão, este ano, não é se O Artista vai ganhar _ é quantas das 10 indicações ele vai converter em estatueta. Meu palpite: no mínimo 5 _ filme, diretor, figurino, montagem, trilha.

Por que? Leiam os posts anteriores. E lembrem-se também de que este é um filme distribuído e divulgado pelos irmãos Weinstein, que não costumam ser derrotados, e cuja pressão por O Artista foi absolutamente esmagadora na última semana de votação (Jean Dujardin apareceu em TODOS os talk shows na TV americana, e fez até uma ponta no Saturday Night Live).

Levando tudo isso em conta, eis o que eu acho que vai acontecer, nas principais categorias (não incluí canção. É meio a meio, não tem graça.)

 FILME

Quem vai ganhar: O Artista

Quem pode ganhar: A invenção de Hugo Cabret

Quem eu gostaria que ganhasse: Os Descendentes

DIRETOR

Quem vai ganhar: Michel Hazanavicius

Quem pode ganhar: Martin Scorsese

Quem eu gostaria que ganhasse: Alexander Payne

 

ATRIZ

Quem vai ganhar: Viola Davis

Quem pode ganhar: Meryl Streep

Quem eu gostaria que ganhasse: Meryl Streep

ATOR

Quem vai ganhar: George Clooney

Quem pode ganhar: Jean Dujardin

Quem eu gostaria que ganhasse: George Clooney

ATRIZ COADJUVANTE

Quem vai ganhar: Octavia Spencer

Quem pode ganhar: Melissa McCarthy

Quem eu gostaria que ganhasse: Janet McTeer

ATOR COADJUVANTE

Quem vai ganhar: Christopher Plummer

Quem pode ganhar: Christopher Plummer

Quem eu gostaria que ganhasse: Nick Nolte

FILME ESTRANGEIRO

Quem vai ganhar: A Separação

Quem pode ganhar: In Darkness

Quem eu gostaria que ganhasse: A Separação

LONGA DE ANIMAÇÃO

Quem vai ganhar: Rango

Quem pode ganhar: Rango

Quem eu gostaria que ganhasse: Rango

ROTEIRO ORIGINAL

Quem vai ganhar: Meia Noite em Paris

Quem pode ganhar: O Artista

Quem eu gostaria que ganhasse: Meia Noite em Paris

ROTEIRO ADAPTADO

Quem vai ganhar: Os Descendentes

Quem pode ganhar: Tudo Pelo Poder

Quem eu gostaria que ganhasse: Os Descendentes

FOTOGRAFIA

Quem vai ganhar: Árvore da Vida

Quem pode ganhar: O Artista

Quem eu gostaria que ganhasse: Árvore da Vida

TRILHA

Quem vai ganhar: O Artista

Quem pode ganhar: O Artista

Quem eu gostaria que ganhasse: A Invenção de Hugo Cabret

MONTAGEM

Quem vai ganhar: O Artista

Quem pode ganhar: O Artista

Quem eu gostaria que ganhasse: Milênio: Os Homens Que Não Amavam as Mulheres

EFEITOS VISUAIS

Quem vai ganhar: A Invenção de Hugo Cabret

Quem pode ganhar: Harry Potter e as Reliquias da Morte parte 2

Quem eu gostaria que ganhasse: Planeta dos Macacos- A Origem

DIREÇÃO DE ARTE

Quem vai ganhar: A Invenção de Hugo Cabret

Quem pode ganhar: O Artista

Quem eu gostaria que ganhasse: Harry Potter e as Reliquias da Morte parte 2

 

A gente se vê no Hollywood & Highland ! (Peguem o metrô. O engarrafamento vai ser dose.)

Tags : Oscars


Senhoras e senhores, está lançado o Oráculo do Oscar edição 2012
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Ana Maria Bahiana

É oficial: está lançado o internacionalmente famoso e absolutamente insubstituível Oráculo do Oscar 2012.

O sistema é simples: envie, até o meio dia (hora de Brasilia) de domingo, dia 26 de fevereiro, seus palpites para oraculooscar2012@bol.com.br.

Facilita muito minha vida de apuradora (não sou a PriceWaterhouseCoppers e minhas únicas assistentes são minhas gatas Isis e The Lady Orlando) se você seguir a ordem oficial do prêmio, como está na cédula da Academia, que você pode baixar aqui.

Lembre-se de:

  • Votar em todas as categorias. Ganha quem acertar mais categorias.
  • Mandar apenas para o email oficial.
  • Mandar apenas até o meio dia de domingo. Votos enviados depois desse horário não serão contados.

 

O que você ganha? Em primeiro lugar, a glória . Ser, por um ano, um Oráculo Oficial do Oscar  não é pouca coisa, como podem atestar vitoriosos de idos Oscars.

Em segundo lugar, um pacote de super exclusivos mimos da temporada de prêmios, daqueles que chegam aqui ao meu escritório e eu guardo cuidadosamente para esta ocasião. Os deste ano estão particularmente apetitosos, e incluem, pela primeira vez, uma bela seleção de roteiros, alguns deles assinados por seus autores!

Os Oráculos 2012 serão contactados individualmente por email assim que a apuração for concluída (lembre-se de que pode ser um processo demorado) e anunciados aqui no blog, com um post especial e exclusivo.

Boa sorte e bom Oscar!!!


Semana do Oscar: como funciona a cabeça dos votantes?
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Ana Maria Bahiana

Mr.Oscar chega ao Hollywood/Highland. Foto de Richard Harbaugh/AMPAS

Os Oscars foram criados para “destacar e honrar qualidade e excelência na arte cinematográfica”. Junte três pessoas e peça que cada uma defina “qualidade e excelência”. Agora junte 6 mil.

Pois é.

Não é possível fazer um estudo estatístico preciso sobre o que os votantes do Oscar –em sua maioria homens brancos com mais de 50 anos, semi-aposentados, como se viu ontem – pensam quando escolhem os vitoriosos, mas alguns traços aparecem com clareza durante os mais de 80 anos do prêmio:

1. Complexo de inferioridade. Há anos digo isso e fiquei feliz ao ver o Los Angeles Times concordar comigo _ a Academia prefere sempre o que menos se parece com aquele filmão feito em massa, especificamente para atender o mercado. É um estranho processo de baixa auto-estima que funciona mais ou menos assim: adoramos ganhar tubos de dinheiro com um monte de filmes mais ou menos, mas sabemos que a maioria deles não presta mesmo; portanto, qualquer coisa que não seja este modelo tem que ser premiado.

Ou seja: tem filme “pra ganhar dinheiro” e filme “pra ganhar prêmio”. As duas coisas ao mesmo tempo… aí complica.

Isso explica a  aversão a comédia, ficção científica e fantasia e a cisma com diretores que trafegam com grande facilidade entre o comercial e o artístico, como Steven Spielberg e Christopher Nolan: seu trabalho bate de frente com a percepção de que há algo profunda e essencialmente errado em fazer um filme sobre, digamos, um extra terrestre perdido na Terra ou um milionário que se torna super herói, e querer que ele seja reconhecido como algo mais além de uma fonte de  dinheiro. Spielberg só conseguiu vencer esse preconceito com A Lista de Schindler (leia o item 3). Nolan…. Acho que vai ter que esperar mais um pouco.

 2. Anglofilia. Um desdobramento comum do complexo de inferioridade é achar que, em princípio, qualquer coisa feita na Grã Bretanha é melhor do que qualquer coisa feita em qualquer outro lugar do mundo, especialmente nos Estados Unidos. Isso explica porque Carruagens de Fogo bateu Indiana Jones (um filme pipoca! E de Spielberg!) em 1981, O Paciente Inglês derrotou Fargo em 1996, a vitória de Shakespeare Apaixonado em 1998 (e Judi Dench levando um Oscar por cinco minutos de tela) etc etc etc. Este ano Sete Dias com Marilyn , se produzido nos EUA, seria talvez um bom filme de TV sem maiores ambições. Mas é britânico! Com Kenneth Branagh! E Judi Dench! Como vamos ignorá-lo?!

3.Fixação com o Holocausto. Aqui o sempre agudo J. Hoberman apresenta uma estatística impressionante nos Los Angeles Times: nos 83 anos do Oscar 20 filmes indicados tinham o Holocausto como tema e pano de fundo; apenas dois não converteram em estatueta a indicação. Este ano, preparem-se : A Separação é o filme a ser batido na categoria filme estrangeiro. Mas abram o olho para In Darkness, de Agniezska Holland, sobre judeus poloneses refugiados nos esgotos da cidade de Lvov. Até porque, no passado, Holland dirigiu um dos dois filmes sobre o Holocausto que foi indicado mas não levou _ Colheita Amarga, de 1985.

4. Saudosismo. É curioso como um prêmio que nasceu destacando o ousado – Asas, um filme adiante de seu tempo em muitos níveis – rapidamente começou a ter saudade de tudo. Culpe-se a chacoalhada dos anos 1970 e da geração sexo drogas e rock n roll? A engorda do blockbuster nos anos 1980-90? O fato é que, desde Titanic, tudo o que lembra “os  bons tempos” àqueles senhores brancos de meia idade cai no paladar. A ideia de que “os filmes eram melhores naquela época” é uma fantasia que põe os votantes num estado de transe…. E este ano vai premiar, pela primeira vez na história, uma produção da França… onde o cinema começou. Salut, Lumiére!


Semana do Oscar: quem é o votante do prêmio mais cobiçado do cinema?
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Ana Maria Bahiana

Tom Sherak, presidente da Academia, recepciona os Oscars, recém chegados em Los Angeles, direto da fundição em Chicago

 

Ele é homem, branco, com aproximadamente 62 anos. Jamais foi indicado para um Oscar e há dois anos não produz/dirige/supervisiona/divulga/trabalha/atua em um filme. Mora muito bem, em alguns dos bairros mais caros e luxuosos de Los Angeles, e há uma grande chance de estar aposentado.

Estes, caras e caros, é o eleitor-padrão do Oscar, segundo uma fascinante pesquisa do Los Angeles Times . Em outras palavras, olhe para a foto – Tom Sherak, presidente atual da Academia, é literalmente a cara do corpo votante dos Oscars.

A  detalhada pesquisa do LA Times põe um rosto num perfil que, até agora, só podia ser desenhado pelas escolhas que faz e pela quase paranormal atividade de adivinhar seus gostos ouvindo o zum zum de suas conversas nos meses entre o Dia de Ação de Graças ( última quinta feira de novembro) e a data de entrega dos votos finais (cinco dias antes da festa).

Os números são fascinantes e um pouco assustadores: 77% dos 6 mil votantes são homens; 94% são brancos; 64% jamais foram indicados para o prêmio que escolhem; 42% fizeram seu projeto mais recente em 2010; 79% tem mais de 50 anos.

E o mais interessante é que nada disso se deve ao fato da Academia ser, conscientemente, discriminadora _ esse é o perfil da indústria que a Academia representa. Um milhão de questionamentos nascem desta constatação. E igual número de constatações suportam esses questionamentos : em 83 anos de Oscar, apenas 4% dos prêmios de atores/atrizes foram para não-brancos; Kathryn Bigelow é única mulher a receber um Oscar por direção; os 43 membros da diretoria da Academia incluem apenas seis mulheres e uma pessoa negra; há departamentos – principalmente direção de fotografia e roteiristas – com um contingente 90% masculino.

“Não vejo por que devemos representar todas as facetas da população”, o roteirista (oscarizado por Um Dia de Cão) Frank Pierson disse ao Times. “Para isso existem os prêmios People’s Choice.”

As regras de acesso à Academia não mudaram em seus mais de 80 anos de existência: é preciso ser profissional da indústria há pelo menos 5 anos, ter endosso de pelo menos dois membros ou ter sido indicado ao Oscar. Mas nos anos 1990 a Academia fez um esforço concentrado de recrutamento para aumentar números e qualificações de seus integrantes. E de fato mais profissionais jovens, mais mulheres e mais pessoas de outros grupos étnicos e culturais  tornaram-se votantes. Mas nem assim o perfil mudou  substancialmente _ a idade média baixou de 64 para 62 anos (onde está agora), e em vez de 96% brancos, seus integrantes tornaram-se “apenas” 94% brancos.

Para mim  prêmios são apenas decisões tomadas por um grupo de pessoas num determinado período de tempo sob determinadas condições.  Os Oscars ganham uma dimensão mítica porque tem uma longa história e envolvem, dos dois lados da equação, nomes com dimensões universais.

Entender quem é o grupo que decide para quem vão as estatuetas mais cobiçadas do cinema pode ajudar a antecipar seus votos _e ,muito mais importante, colocá-los em sua devida perspectiva.


Sparkle, o filme que Whitney Houston não chegou a lançar: “teria sido um grande triunfo”
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Ana Maria Bahiana

 

Jordin Sparks e Whitney Houston numa cena de Sparkle_ "Ela sempre se viu como coadjuvante"

 

Uma das muitas ironias trágicas da morte de Whitney Houston, sábado à tarde aqui em Los Angeles, é que (como Michael Jackson, uma comparação que tenho ouvido sem parar nos últimos dia) é que 2012 deveria ter sido o ano de uma grande volta por cima. Novamente como MJ, Houston vinha planejando um reposicionamento geral de sua complicada carreira.

Mas, ao contrário de Michael Jackson, Houston estava mais em controle de sua estratégia _ pelo menos nos momentos de lucidez, sem a turbulência da bebida e dos ansiolíticos. Na música, ela voltara a trabalhar com seu mentor e descobridor Clive Davis . Davis planejava começar a campanha da volta de Whitney exatamente na festa pré-Grammys da noite de sábado, para a qual ela se preparava quando morreu.

Mas Houston sabia muito bem que  o cinema era um elemento essencial para a re-energização de sua carreira . Em 1992 sua estréia na tela em O Guarda Costas foi um dos maiores sucessos do ano, com mais de 410 milhões de dólares apurados em todo o mundo, e uma trilha que, impulsionada por hits como “I Will Always Love You” e “I’m Every Woman”, vendeu 45 milhões de cópias e emplacou duas canções indicadas ao Oscar, “I Have Nothing” e “Run to You”. (Num detalhe curioso, o roteiro original de Lawrence Kasdan, tinha sido escrito em 1976 sob encomenda para Diana Ross e Seve McQueen, mas foi parar na gaveta por ser “muito controvertido” para a época).

Três anos depois, Falando de Amor foi um sucesso um pouco menor mas mais do que respeitável, com 81 milhões de dólares de bilheteria mundial, a maior parte no mercado norte-americano.  Mas é a partir daí que a vida pessoal de Whitney se complica, com o casamento com Bobby Brown e a pressão da fama trazendo a reboque a bebida e as drogas.

Mas há quatro anos Whitney e a produtora Debra Chase Martin trabalhavam no desenvolvimento de seu retorno também à tela. A oportunidade surgiu em 2001, quando a Warner, que há tempos vinha desenvolvendo o projeto da refeitura de Sparkle, um drama musical de 1976 estrelado originalmente por Irene Cara (que mais tarde estouraria com Fama), desistiu de ir adiante. O motivo era trágico: Aaliyah, que deveria encarnar o papel título criado por Cara, morrera num desastre de avião.

Houston e Martin rapidamente negociaram os direitos do filme e da trilha, chamaram o casal  de realizadores Salim e Mara Akil – respectivamente diretor e roteirista -para dar novo ânimo ao projeto e começaram a escalar o elenco.  Whitney sempre se viu como coadjuvante, diz Martin. A história, afinal, é sobre três jovens irmãs, lideradas pela Sparkle do título, que formam um grupo vocal na linha das Supremes, cuja carreira é destruída pelas drogas. Whitney escolheu para si o papel da mãe das cantoras, uma mulher complicada e nada simpática. Sparkle ficou com Jordin Sparks, a jovem estrela surgida do programa American Idol.

Martin acredita que teria sido a virada de Whitney: “Ela estava sensacional”. Na véspera de sua morte Whitney e Debra viram uma cópia de trabalho de Sparkle e aprovaram o trabalho de Salim Akil e a data escolhida pela Sony para o lançamento, 12 de agosto.

A súbita morte de Houston não deve mudar os planos _ a data de lançamento permanece, assim como a do lançamento da trilha, na qual Houston canta o gospel “Eyes on the Sparrow” e faz duetos com Jordin Sparks em duas canções.

“Teria sido um grande triunfo para Whitney”, diz Martin. “Mas lançar o filme é o mínimo que podemos fazer por sua memória.”


Almoço com as estrelas: palmômetro indica os favoritos?
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Ana Maria Bahiana

 

Glenn Close, Kenneth Branagh, Michelle Williams e Janet McTeer no almoço dos indicados.

Com menos de 20 dias até a grande noite do Oscar, e apenas duas semanas até a data fatal de entrega dos votos finais – 21 de fevereiro às 17h, horário de Los Angeles – 150 indicados lotaram o International Ballroom do Beverly Hilton ( o mesmo dos Globos de Ouro), nesta segunda feira, para seu tradicional almoço de confraternização.

Brad Pitt e George Clooney continuaram o papo iniciado nos Globos,  Rooney Mara confirmou que realmente fez piercing no seio para viver Lisbeth Salander, Tom Hanks deu instruções (via video) de como fazer discursos curtos e o presidente Tom Sherak anunciou que o Governors  Ball não terá cadeiras ou poltronas para “todo mundo poder cicular, em clima de festa e não de jantar formal” Felizmente Sherak anunciou que haveria “muita comida” disponível. É uma tradição, todos os anos, a fila de gente chique, de longo e smoking, na porta da hamburgueria In and Out, a algumas quadras do Kodak, depois de quatro horas de fome durante a cerimônia ….

Sergio Mendes, indicado para melhor canção por “Real in Rio”, não parecia preocupado com a possibilidade de apresentá-la no palco do Kodak (os produtores  Bria Grazer e Don Mischer estão planejando cortar todos os números musicais da evento). Sérgio pipocava de felicidade em voltar ao Oscar. Com seu grupo Brasil ’66, Sérgio interpretou indicada “The Look of Love”, de Burt Bacharah e Hal David no Oscar de 1968, e a  apresentação que catapultou-o para o topo das paradas e para o grande público norte americano. Agora, ele era todo sorrisos enquanto conversava com a turma de O Artista e saía atrás de seu ídolo, Steven Spielberg.

Close da turma de "formandos": Glenn Close, Jean Dujardin, George Clooney, Chris Columbus e Damian Bechir

Depois , como estudantes em dia de formatura, um a um os indicados foram chamados – em ordem alfabética do sobrenome – para receber seu certificado de indicação e juntar-se ao grupo da foto oficial da “turma de 2012”. Não se sabe se cansada de esperar pela letra “S” ou entediada com os outros muitos certificados que já tem, Meryl Streep deitou-se no topo da arquibancada do cenário da foto oficial esperando sua hora.

Martin Scorsese e Max Von Sydow em papo durante a sessão de fotos oficiais

E, num ritual que ganha popularidade a cada ano, os jornalistas presentes anotaram cuidosamente o nível de aplausos dos convidados para cada nome chamado. Constam as escritas que quem é mais aplaudido tem mais chances de levar a estatueta para casa…. O palmômetro 2012 deu picos para Max von Sydow. George Clooney, Brad Pitt, Gary Oldman, Jean Dujardin, Meryl Streep, Michelle Williams, Kenneth Branagh, Octavia Spencer , Glenn Close ,Viola Davis e, inesperadamente, Demian Bichir (Christopher Plummer não foi ao almoço).

Arrisque-se quem quiser…

A turma de 2012


Lobos, anti-heróis e fantasmas ocupam o terreno baldio do começo do ano
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Ana Maria Bahiana

Começo de ano é uma época esquisita por aqui. Os “grandes” filmes foram todos descarregados em dezembro, para consideração dos votantes. Alguns começaram em janeiro uma expansão para mais telas além de Los Angeles e Nova York.  Mas, na maior parte dos casos, janeiro-fevereiro-março são meio os terrenos baldios do calendário de lançamentos, onde são descarregados títulos sem vaga nos outros meses mais concorridos.

A quantidade de ervas daninhas, como vocês podem imaginar, é enorme. Mas de vez em quando há lançamentos dignos de nota. Como estes:

Quase todo início de ano, desde 2009, estréia um mesmo filme com títulos, diretor, locação e elencos diferentes, todos estrelados por Liam Neeson. A história é essencialmente a mesma: ameçado por algo terrível, sozinho contra tudo e contra todos, Neeson abre caminho na porrada para resolver o problema.  A história já se chamou Busca Implacável e Desconhecido (Neeson fez uma pausa em 2010 por conta de Esquadrão Classe A) e, este ano, voltou com uma versão atualizada: A Perseguição (The Grey), dirigida pelo mesmo Joe Carnahan de Classe A.

Na lista dos pontos positivos, A Perseguição começa maravilhosamente, definindo de forma rápida e poderosa o perfil do personagem de Neeson, um atirador de mira perfeita, contratado para proteger uma equipe de trabalhadores numa base de prospecção de petróleo nos cafundós do Alasca. A fotografia de Masanobu Takayanagi (Babel, Warrior) é excelente, contribuindo para estabelecer o clima de isolamento gélido que é essencial para a história.

As coisas ficam bem menos interessantes depois que a trama se muda para uma região ainda mais remota e entram em cena os vilões da história: os lobos. Infelizmente os lobos que o orçamento podia custear se parecem muito com versões menores daqueles de Crepúsculo. Para complicar ainda mais, a história entra no velho esquema um-a-um-o-grupo-é-atacado, com uma adesão tão completa aos clichês que qualquer pessoa que já tenha visto filmes de sobrevivência na natureza selvagem (ai que saudade de O Sobrevivente, de Werner Herzog…) é capaz de antecipar cada passo do malsinado grupo liderado por Neeson.

A Perseguição foi a bilheteria número 1 nos EUA em sua estréia semana passada, e sai no Brasil dia 20 de abril.

Denzel Washington é outro que tem o hábito de fazer o mesmo filme _ só que ele se dá ao luxo de fazê-lo com o mesmo diretor, Tony Scott. “É, eu sei, mas a verdade é que gosto muito de trabalhar com ele, e ele vive me telefonando…”, Denzel me disse. “E eu acabo dizendo sim, automaticamente…”

Ainda bem que, desta vez, quem ligou não foi Tony Scott mas o interessantíssimo diretor sueco-de-origem-chilena Daniel Espinosa. Espinosa dirigiu o maior blockbuster da Suécia, o altamente recomendável Snabba Cash (que, entre outras coisas, lançou internacionalmente a carreira de Joel Kinnaman). E agora, em Protegendo o Inimigo (Safe House) trouxe um novo vigor a este bom roteiro de David Guggenheim sobre um ex-agente da CIA (Denzel Washington) em fuga porque sabe demais.

Washington e Ryan Reynolds (como seu relutante captor) fazem uma boa dupla, polos opostos de cinismo e convicção. E Espinosa mantem o ritmo em pulso perfeito, com algumas sequências de ação dignas dos melhores momentos da trilogia Bourne. Detalhe curioso: no roteiro original a ação se passava em Buenos Aires, mas nossos vizinhos portenhos não foram hospitaleiros o bastante para que valesse a pena transferir a produção para lá. A Cidade do Cabo, na África do Sul, correu para oferecer seus serviços _ e valeu a pena. Entre outras coisas, há uma perseguição no estádio da Copa, com vuvuzelas e tudo, que é sensacional, lembrando a caçada na estação do metrô londrino de Ultimato Bourne.

Protegendo o Inimigo estréia nos EUA dia 10 de fevereiro e no Brasil dia 9 de março.

Depois de tantos e tantos filmes de tortura e sadismo empurrados para dentro da denominação  “terror”, é uma delícia altamente inspiradora ver um clássico do gênero, fiel às suas regras e reverente ao seu mandato fundamental: apertar os botões do nosso inconsciente, possibilitado a terrível, maravilhosa catarse pelo pavor.

A Mulher de Preto (Woman in Black) é exatamente isso. Seu material de base é um livro britânico de 1982- que já  foi adaptado para TV, rádio e teatro – mas sua inspiração vem mais de longe, das histórias de fantasmas da época vitoriana, ao mesmo tempo arrepiantes e líricas.

Trabalhando sob a bandeira da Hammer – sinônimo de terror britânico super-clássico – o diretor James Watkins (Sem Saída/Eden Lake, thriller imperdível de  2008, com Michael Fassbender) manteve-se completamente fiel às regras do gênero, usando a tecnologia de hoje para criar o ambiente ideal da boa obra de terror: o lugar, físico e emocional, onde moram as sombras, as portas fechadas, os segredos, os pântanos. E lembrando sempre o essencial: toda boa história de fantasma é uma história de seres humanos, suas perdas, suas culpas, suas coisas não ditas e não resolvidas.

Quem gosta muito de sangue e tormentos físicos não precisa comprar ingresso. Quem se arrisca a ter muito medo da melhor maneira possível – sob controle, e com toda a repercussão humana desse tipo de história – venha correndo.

Ok, eu podia viver sem a trilha barulhenta – precisamos mesmo sublinhar tanto os momentos-chave? Mas não poderia ficar sem Daniel Radcliffe perfeito  como o jovem viúvo remoído de sombras interiores, que finalmente encontra o espelho de sua alma no isolado lugarejo da costa britânica  .

A Mulher de Preto estréia hoje, dia 3, nos EUA, e em fevereiro ainda sem data no Brasil.

 


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